Sobre “La vaga ambición”, de Antonio Ortuño



Diz-se que não se deve avaliar o livro pela capa. Já iniciei, entretanto, muitas leituras devido à arte que apresenta a obra aos leitores nas vitrines das livrarias reais ou virtuais. Se há uma foto de uma máquina de escrever, meus sentidos se aguçam. Não por acaso escolhi esse objeto para ser a capa de meu romance, Os óculos de Paula. Pois ao ver o e-book de La vaga ambición (Páginas de espuma), de Antonio Ortuño, na internet, não tive dúvidas em adquiri-lo. A sinopse apenas confirmou que a obra seria do meu total interesse.

É um livro de contos que trata do tema do escritor (ao contrário de muitos leitores, não me canso desse tipo de narrativa) em tudo que envolve a busca por inspiração, bloqueios, críticas, vida literária, etc. Boa parte dos enredos trazem rasgos da vida pessoal do autor, um mexicano de 40 anos, assim como o personagem, Arturo Murray, que aparece em todos os relatos como protagonista ou narrando uma história.

O primeiro conto, “Un trago de aceite”, é o mais dolorido, remetendo à infância do narrador, principalmente com relação aos conflitos entre seu pai e sua mãe, assim como a marca negativa que o genitor deixa no filho, mas que, de certa forma, é a semente que fará nascer o escritor: “—Escribe esto un día. Un libro.” Em “El caballero de los espejos”, o narrador está com 10 anos. Como Pierre Menard, de Borges, ele resolve reescrever a história de Dom Quixote letra por letra, porém encontra no primo mais velho um “crítico” implacável e cruel.  

Já em “Quinta temporada”, Arturo é um autor reconhecido, porém com problemas financeiros. Aceita, por isso, ser um dos roteiristas de uma série de TV de sucesso mundial. É o conto mais longo e também mais engraçado, ao contrários dos demais textos, cujo gosto é amargo.
“Provocación repugnante” não tem Arturo Murray como personagem. Na verdade, seria um conto escrito por ele. Os protagonistas são Walter Benjamim e Mijaíl Bulgákov e ação se passa em Moscou, em meio à ditadura de Stálin.

“El príncipe con mil enemigos” retrata as conferências e feiras de livros a que todo o escritor se vê necessitado de participar, que ganham mais peculiaridade quanto mais remota for a cidade do evento. “La batalla de Hastings” fecha o volume e o narrador aqui se torna professor de oficina de criação literária. As frases que iniciam o relato são emblemáticas: "Los muertos iluminan la ruta de los vivos. Por eso leemos: para que se inflame una antorcha. Bajo su luz escribimos."

A vaga ambição do título refere-se, talvez, à tentativa de alcançar o reconhecimento literário, sabendo que, mesmo chegando lá, ainda assim ele está em busca de algo maior: uma obra definitiva que sobreviva a seu autor. Antonio Ortuño já é uma realidade em seu país, mas infelizmente ainda não aportou por aqui (aliás, gostaria de traduzir este livro). Felizmente, as livrarias virtuais são as naus que nos socorrem.

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