tag:blogger.com,1999:blog-138172662024-03-19T05:48:52.806-03:00Uma biblioteca na cabeçaCassionei Niches Petry lê, escreve sobre literatura e pratica filosofices.
Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.comBlogger2104125tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-31572790937462275972023-12-15T09:00:00.004-03:002023-12-15T09:00:27.757-03:00Sobre "Montevidéu", de Vila-Matas, na revista Sepé<p><br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ-A9otu2OVJSyrXIQziHsA1J9QtxGiylTOF2GQ5Z-qp8GFsMeX4mD8mZcnQIaQQYy4KeVmGJWnOH2IzeUekdW7LBSq5TCCi9Us48DTAafv0Fpcja_qdv0h8MEeFwEMVm6Y-6X8LXiPm5QQe_5WD1mw-zkbUpXiWWFeQ0LNDMqGMNKeyFJAviT/s1012/Screenshot%202023-12-15%2008.57.10.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="469" data-original-width="1012" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ-A9otu2OVJSyrXIQziHsA1J9QtxGiylTOF2GQ5Z-qp8GFsMeX4mD8mZcnQIaQQYy4KeVmGJWnOH2IzeUekdW7LBSq5TCCi9Us48DTAafv0Fpcja_qdv0h8MEeFwEMVm6Y-6X8LXiPm5QQe_5WD1mw-zkbUpXiWWFeQ0LNDMqGMNKeyFJAviT/w640-h304/Screenshot%202023-12-15%2008.57.10.png" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;">Minha última resenha:</span></div><a href="https://revistasepe.art.br/2023/12/14/montevideu-de-enrique-vila-matas/"><span style="font-size: large;">https://revistasepe.art.br/2023/12/14/montevideu-de-enrique-vila-matas/</span></a><p></p><p><br /></p><p><br /> </p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-37227613862943710052023-12-09T12:35:00.000-03:002023-12-09T12:35:38.819-03:00O Cânone da Literatura do Rio Grande do Sul: Ficção, por Cassionei Petry<iframe width="480" height="270" src="https://youtube.com/embed/tXpdsXkDJIw?si=8uu9U4kF1E8FaTQA" frameborder="0"></iframe>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-67971037801708243772023-11-18T18:11:00.001-03:002023-11-18T18:17:59.745-03:00O Canto do Cisne de Paul Auster?<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiphbmY-My7uKCdbiAoy954lEM4Q8j8s912IucQ33u8zbQTjCWxFm94XMEcB6cNvDMyJCTJk7C9kEeOdIEd3P3T-ZFl8hTbe9kHgSPz00Pv53yh__Fym-OVY2El5GMkgJo271pTgQhhP77uBLYY_RTdShKnrbWLMeJWPoVszbJQTB-eU2OCjVc/s478/0d4650d07c7320a180a43641d1db5ebb.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="478" data-original-width="299" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiphbmY-My7uKCdbiAoy954lEM4Q8j8s912IucQ33u8zbQTjCWxFm94XMEcB6cNvDMyJCTJk7C9kEeOdIEd3P3T-ZFl8hTbe9kHgSPz00Pv53yh__Fym-OVY2El5GMkgJo271pTgQhhP77uBLYY_RTdShKnrbWLMeJWPoVszbJQTB-eU2OCjVc/w250-h400/0d4650d07c7320a180a43641d1db5ebb.jpg" width="250" /></a></div><br /> <p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: large;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Quando fiquei
sabendo do lançamento do novo romance de Paul Auster nos Estados Unidos, não
pensei duas vezes (para maltratar o clichê) e corri atrás do livro no seu
formato digital. Meu inglês não é lá essas coisas (uma das minhas tantas
lacunas culturais), mas o Google Tradutor ajuda um pouco. Depois do monumental </span><b style="text-indent: 35.45pt;"><i>4321</i></b><span style="text-indent: 35.45pt;">,
de 2017, Auster lançou um alentado ensaio sobre o escritor Stephen Crane e outra
ensaio sobre o endeusamento das armas na terra do Tio Sam. Não me interessei em
ler nenhum. Sou aficionado pela sua ficção, pela maneira com que trata do acaso,
dos seus personagens que escrevem ou estão ligados de alguma forma aos livros,
de suas reflexões sobre a solidão e, agora, da velhice, tema que vem me
inquietando, visto que estou na faixa etária que, quando jovem, considerava idade
de velho. Já me considero um velho, embora não o seja (a não ser para os meus jovens
alunos).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;"><b><i>Baumgartner</i></b>
(Faber & Faber, 172 páginas) é a história de um professor e autor de livros
sobre filosofia, Sy ou ST Baumgartner, que se aposentou há pouco tempo e perdeu
a esposa há quase 10 anos. No início, o encontramos sozinho (não tem filhos) escrevendo
sobre os pseudônimos de Kierkegaard em seu estúdio, a que também chama de “cova”
ou “toca”, quando lembra que precisa descer ao primeiro andar e buscar um livro
para uma citação e também que precisa ligar para sua irmã. Descobre que esqueceu
uma panela no fogo e queima a mão ao tentar pegá-la. Depois, ao descer ao porão
para auxiliar o funcionário que faz a medição de luz, cai da escada e machuca o
joelho. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Esquecimento, dor, solidão.
Temas que perpassam o enredo e provocam as recordações do personagem, principalmente
sobre a esposa, Anna, que era tradutora e escrevia poesias. Perdê-la, depois de
tantos anos de casado, faz com que sinta como se um membro seu tivesse sido amputado,
embora ele perceba a presença dela em muitos momentos, o que o faz estudar “a
síndrome do membro fantasma, que ele passou a chamar de síndrome da pessoa
fantasma à medida que as congruências metafóricas se tornavam cada vez mais aparentes
para ele”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Baumgartner já tem 71
anos e poucas perspectivas de viver. Uma das últimas coisas que o mantêm são as
memórias, lembradas por eles ou escritas por Anna, cujos manuscritos encontra
em suas gavetas e são reproduzidos no romance. Em determinado momento, o protagonista
se questiona: “por que alguns momentos fugazes e aleatórios
persistem na memória enquanto outros, supostamente mais importantes,
desaparecem para sempre?” Poderíamos responder, no que parece óbvio: é porque
temos que esquecer. Esquecer também é viver.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Paul Auster vem
sofrendo bastante na sua vida pessoal: no ano passado, foi diagnosticado com câncer,
e segundo sua esposa, a também escritora Siri Hustvedt, continua lutando contra
a doença na “cancerlância”. Também em 2022, morreu seu filho, de overdose,
depois de ter sido acusado de matar a filha recém-nascida. Consta que <b><i>Baumgartner</i></b>
foi escrito um pouco antes dessas tragédias. Mesmo assim, é um romance extremamente
melancólico e, parece, aponta uma despedida, pelo menos literária do escritor,
embora o final em aberto nos faça pensar o contrário. Esperamos que, como em
muito de seus enredos, o acaso promova uma reviravolta em sua vida.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-16391130644849733912023-11-04T09:23:00.003-03:002023-11-04T09:23:20.815-03:00Escrevi no Cineplayers sobre "Capitu e o capítulo", do Bressane<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKtlKhkTBEusCAE1NnYFf12MrU9FJ_SV_uqT2BPQKEaIe6o_tjR1CVg0npsSzKLg9_DWrDuXM-IOBRaj0-KNFCFvBlwV7kSfDOPZZl5-sO57cZRg_B7MurIbP1FolRhmO57-3K3n2yiC_Sfd3eaeIgbiL_sbacbGPvUhFwXYoA7hKv-ZsDb_uA/s592/Capitu%20e%20o%20cap%C3%ADtulo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="592" data-original-width="592" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKtlKhkTBEusCAE1NnYFf12MrU9FJ_SV_uqT2BPQKEaIe6o_tjR1CVg0npsSzKLg9_DWrDuXM-IOBRaj0-KNFCFvBlwV7kSfDOPZZl5-sO57cZRg_B7MurIbP1FolRhmO57-3K3n2yiC_Sfd3eaeIgbiL_sbacbGPvUhFwXYoA7hKv-ZsDb_uA/w400-h400/Capitu%20e%20o%20cap%C3%ADtulo.jpg" width="400" /></a></div><span style="font-size: medium;"><br /> </span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.cineplayers.com/cassionei/criticas/capitu-e-o-capitulo-virgilia-e-a-virgula"><span style="font-size: medium;">https://www.cineplayers.com/cassionei/criticas/capitu-e-o-capitulo-virgilia-e-a-virgula</span></a><br /></div><br /><p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-684660625187905392023-11-02T11:21:00.000-03:002023-11-02T11:21:09.673-03:00Minha crônica no jornal de hoje: Uma proposta indecorosa<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrWv5TCoKLKm4dPxSByRYXrGjzMiz6E3Yy2lTobajC34CZc5dLIQkwv96XFBqe2w3clkQQokt9Gp9iXJ9pi94U90v892W3qzqf6Y-P-ldg5EaGZwX0TvYWVFjxvllWf2FrWjTluF9FldiAtuVa4XIaEAYxWMKUN1bBxQP5nNB5xSztIEz_Ev9G/s1312/proposta%20cronica%20gaz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1065" data-original-width="1312" height="325" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrWv5TCoKLKm4dPxSByRYXrGjzMiz6E3Yy2lTobajC34CZc5dLIQkwv96XFBqe2w3clkQQokt9Gp9iXJ9pi94U90v892W3qzqf6Y-P-ldg5EaGZwX0TvYWVFjxvllWf2FrWjTluF9FldiAtuVa4XIaEAYxWMKUN1bBxQP5nNB5xSztIEz_Ev9G/w400-h325/proposta%20cronica%20gaz.jpg" width="400" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Minha crônica no jornal Gazeta do Sul de hoje:</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><b><span style="font-family: Georgia, serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">Uma
proposta indecorosa<o:p></o:p></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Georgia, serif; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">Escrevo
esta crônica num domingo à tarde, ouvindo os latidos dos cachorros e, por
incrível que pareça, nenhuma música, nem mesmo aqui em casa, se soma ao barulho
dos animais. Está tudo tranquilo e monótono também. Acabei de ler os jornais
dominicais pela internet e ia começar a leitura de um livro de contos quando me
veio na cabeça escrever justamente sobre os dias da semana e fazer uma proposta
de mudança para os governantes.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Domingo
significa “dia do senhor” ou “dia do Sol”. Sábado, meu dia preferido, é o “dia
do descanso”. Em português, os dias da semana vão de segunda à sexta-feira,
sendo que feira significa, vejam só, “dia livre”, porém o livre se refere aqui
às desobrigações religiosas segundo o calendário litúrgico da Igreja Católica.
No espanhol e em outras línguas, os nomes dos dias da semana estão relacionados
aos astros visíveis no céu na Antiguidade, os quais, por sua vez, se referem
aos deuses da mitologia romana, ou aos deuses nórdicos, no caso da língua
inglesa, considerados pagãos pelos cristãos que conseguiram, por isso, mudar a
nomenclatura. “Viernes”, por exemplo, é sexta-feira no mundo hispânico, e
lembra Vênus, a deusa do amor e do sexo (SEXta é só coincidência?), enquanto
que no inglês é “Friday”, relativo à deusa nórdica do amor, Freya.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">No Brasil, poderíamos utilizar como denominações
para os dias da semana os nomes dos santos católicos ou dos orixás das
religiões de matriz africana. Os evangélicos, no entanto, não iriam gostar nada
disso, assim como os ateus, em que me incluo, ou os agnósticos, que desejam um
estado laico e já estão fartos de tudo girar em torno das religiões.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Tendo em
vista as particularidades de cada dia, poderíamos, quem sabe, intitulá-los de
outras formas. Aí vai uma proposta indecorosa e despretensiosa, mas que tem
tudo a ver com o brasileiro comum, que adora também a língua dos “States”: o
primeiro dia da semana, que na verdade é o segundo, segunda-feira, poderia se
chamar “Se arrasta day”, pois nos arrastamos para sair de casa e trabalhar,
sendo que o dia ainda se arrasta interminavelmente. O dia seguinte poderia ser
“É só o começo day”, lembrando que há muitos e intermináveis dias para chegar o
“finde”. Quarta-feira seria “Copo meio cheio meio vazio day”, por motivos
óbvios. Quinta-feira é o “Tá quase day”. Para sexta-feira, é só
institucionalizar o “sextou day”, já na boca do povo. Sábado, claro, é o “Cerveja
day”. Domingo, por conseguinte, é o “Ressaca day”.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">E você
leitor, tem alguma sugestão para mudar as denominações dos dias da semana e
torná-los um pouco menos chatos? Cartas e e-mails para o jornal.</span></span></p>
<p style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;"><span style="color: black; font-family: "Georgia",serif; mso-bidi-font-family: Arial;">Cassionei
Niches Petry – professor e escritor</span><span style="font-family: "Georgia",serif;"><o:p></o:p></span></span></p><br /><p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-48646808292247914392023-10-27T09:41:00.006-03:002023-10-27T17:54:35.570-03:00Sobre "O segredo das lantanas", de Rafael Martins<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpTAoi5AGKJxJGs2-OysD-GmxZkz5PUv0jdiiaFD3-ytnnli_aGHqKyV90CCpOYSTHZO8KoQ4OoEW4PGdbfDwB0TAlWXEDNlDLjUJn1VZWlJ_vkGVXfXwBF2wre9Lar4Ipj_feC44RM-ZsCRsPPdV1giPeWd5-fGnPUkSt0cm7vDR4jIkl4T_e/s1318/20220829174931_7491992509_DZ.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1318" data-original-width="1000" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpTAoi5AGKJxJGs2-OysD-GmxZkz5PUv0jdiiaFD3-ytnnli_aGHqKyV90CCpOYSTHZO8KoQ4OoEW4PGdbfDwB0TAlWXEDNlDLjUJn1VZWlJ_vkGVXfXwBF2wre9Lar4Ipj_feC44RM-ZsCRsPPdV1giPeWd5-fGnPUkSt0cm7vDR4jIkl4T_e/w304-h400/20220829174931_7491992509_DZ.jpg" width="304" /></a></div><p></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: center; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Nem tudo são flores</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: center; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: georgia; text-align: left; white-space-collapse: preserve;">por Cassionei Niches Petry</span></p><p><b id="docs-internal-guid-69dba851-7fff-bbba-08cf-6cc3a8afa54e" style="font-weight: normal;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></b></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Escrever sobre a obra de um estreante é um desafio. Esse desafio dobra quando o escritor oferta o seu livro para um resenhista desconhecido como este que assina estas linhas. Em meio a pouco espaço que a grande mídia ou sites mais relevantes dão, os autores, às vezes através de agentes literários, encontram em alguns críticos obscuros uma tentativa de fazer sua obra aparecer. Sinto-me constrangido se não cumpro a tarefa, apesar de nunca prometer nada. É que eu mesmo estou desmotivado e já estou ensaiando parar há um bom tempo. Alguns livros que chegam aqui à toca, porém, me provocam a escrever alguma coisa. É o caso do romance </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O segredo das lantanas, </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">de Rafael Martins, publicado em 2022.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">A primeira parte é narrada pelo protagonista, Humberto. Precisando dormir para acordar cedo, de acordo com sua vida regrada, encontra alguns obstáculos. Primeiro a esposa, que teima em fazer atividades domésticas no horário em que ele vai para a cama ou então puxar algum assunto sem interesse quando ela vai deitar também. Depois, seus pensamentos, suas culpas não resolvidas, seus traumas de infância, sua família com um passado nada exemplar, tudo se soma para uma madrugada mal dormida. Cada capítulo leva como título um horário em que acorda ou quando está em estado de vigília, inclusive três da madrugada, a “hora do diabo”. Os sonhos se misturam com a realidade e cenas de sua vida retornam para atormentá-lo até um ponto de angústia terrível, que o leva ao extremo das emoções.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Nessas poucas horas, é narrada a história de sua família ou, pelo menos, daquilo que ele se lembra, deixando de lado o que tenta esquecer ou mesmo esconder. Seu avô, cuja maldade, embora apenas sugerida, acaba chocando o leitor; a mãe que esconde de Humberto a identidade do seu pai; a tia, que ele espia tomando banho ou trocando de roupa. Todos viviam na casa onde ele vive agora, mas não se sabe o que realmente aconteceu com cada um deles. Mora agora com a esposa, Carolina, que foi se chegando pedindo favores e acabou se instalando na casa junto com a filha de outro casamento, Patrícia, uma menina que corta os braços e sofre calada com algo que nos é revelado aos poucos. No quintal, estão as plantas, principalmente as lantanas, cuja característica é seu colorido, mas cujo segredo que esconde é sombrio.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Na segunda parte, a narração é na terceira pessoa, com foco na esposa. Muitas pontas são fechadas, porém outras são deixadas para o leitor amarrar. A tensão da primeira parte, a partir do monólogo de Humberto, dá lugar a diálogos e cenas que nos mostram os desdobramentos do que aconteceu na madrugada. Algumas verdades são jogadas na cara do leitor, enquanto outras são ainda escamoteadas e sugeridas num arremate que dá uma reviravolta no enredo.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: large; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; text-indent: 36pt; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; text-indent: 36pt; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Uma estreia promissora de Rafael Martins, advogado, nascido em 1982, em Campinas, São Paulo. </span><span style="font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; text-indent: 36pt; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O segredo das lantanas </span><span style="font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; text-indent: 36pt; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">tem 102 páginas e é editado pela valente Patuá.</span></span></p><div><span face="Calibri,sans-serif" style="background-color: transparent; color: black; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre;"><br /></span></div>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-48381036382398216402023-10-25T20:47:00.000-03:002023-10-25T20:47:04.089-03:00Paciência, professor!<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNChTgydBKoPOFuYcYkBd2XD2Hi9kfTpMZA9pd4CfcbskiEuT8tBt8M5je64jYLvuaNSKNDiTB-UfnntP5t4xLBn-h9An_LonAgaqKZYMpdwBj1sxH0FNe_yD5kKtaQBrQPTe_z5UhYF8hDriWiM4YeGzXo4H0lzVWYR-JPPRw3K221NUdrdgE/s1546/paciencia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1205" data-original-width="1546" height="311" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNChTgydBKoPOFuYcYkBd2XD2Hi9kfTpMZA9pd4CfcbskiEuT8tBt8M5je64jYLvuaNSKNDiTB-UfnntP5t4xLBn-h9An_LonAgaqKZYMpdwBj1sxH0FNe_yD5kKtaQBrQPTe_z5UhYF8hDriWiM4YeGzXo4H0lzVWYR-JPPRw3K221NUdrdgE/w400-h311/paciencia.jpg" width="400" /></a></div><p></p><div class="xdj266r x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Meu texto na Gazeta do Sul de hoje.</span></div><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Paciência, professor!</span></div><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">A ira é considerada a primeira palavra da literatura ocidental (Peter Sloterdijk, no livro Ira e tempo, vai além, e diz que é a primeira da Europa!), visto que inicia, no original grego, os 15 mil versos da epopeia Ilíada, de Homero. Nas traduções, a palavra é deslocada: “Canta, ó musa, a ira de Aquiles”. No principal livro dos cristãos, a Bíblia Sagrada, mais precisamente no Antigo Testamento, seu principal personagem, <span style="animation-name: none !important; transition-property: none !important;"><a style="animation-name: none !important; color: #385898; cursor: pointer; transition-property: none !important;" tabindex="-1"></a></span>Deus, demonstra sua ira contra os pecados dos homens em várias passagens, como as referentes ao dilúvio ou às pragas: “Deus é juiz justo, um Deus que se ira todos os dias. Se o homem não se converter, Deus afiará a sua espada; já tem armado o seu arco, e está aparelhado (Salmos, capítulo 7, versículos 11 e 12).</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Só nesses dois momentos da nossa herança cultural já temos uma explicação sobre como somos tão belicosos. Tudo é motivo para raiva, ódio, brigas, discórdia, guerras. Um simples jogo de futebol desencadeia conflito, a política nos enraivece, a disputa por terras causa mortes. Desde as telenovelas, passando pelos reality shows, letras de música, redes sociais, trânsito, conflitos religiosos, tudo está permeado pela ira. Quem nunca teve seu dia de fúria?</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Quando nascemos, entramos chorando de raiva nesse mundo, pois somos tirados da paz do útero materno, onde recebemos alimento e dormimos sem as preocupações da vida. Vivemos boa parte da nossa existência enfurecidos por alguma coisa. A irritação é uma constante e a colocamos sempre na conta do outro. “O senhor está bravo, professor?”, me pergunta um aluno em sala de aula, e eu respondo: “Vocês é que me deixam bravo!”</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Um dos sete pecados capitais, a ira tem como oposto a virtude da paciência. Se acreditasse em algum deus, pediria a ele que me desse mais paciência sempre. Às vezes, como na canção de Lenine, “eu finjo ter paciência”. Escrever crônicas como esta me ajuda a ter paciência, mesmo se o assunto provoque ódio. Ler filósofos como os estoicos, cujo pensamento é tão deturpado pelos coachs hoje em dia, também auxilia. Sêneca, em Sobre a ira, ensina a seu irmão Galião que “essa paixão, de todas a mais terrível e violenta”, pode ser atenuada. Questiona, por exemplo: “Que necessidade há de virar a mesa, atirar copos, jogar-se contra colunas, arrancar os cabelos, bater na coxa e no peito?”. E afirma: “Nada obtenha por força da ira: o que lhe tenha sido negado ao chorar seja-lhe oferecido ao mostrar-se em calma”.</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Ou como diz o velho ditado: “Paciência (ou cautela) e canja de galinha não fazem mal a ninguém”.</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="animation-name: none !important; text-align: justify; transition-property: none !important;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Cassionei Niches Petry – professor e escritor</span></div></div>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-30838458870919451662023-10-22T14:20:00.002-03:002023-10-22T14:20:37.085-03:00Novo romance do novo Nobel<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0lOp0URHXGwN0qaA-ZR1KAKzOe9NQNdPK8OcgzLD2ecboy-PdV7XrTBeUfCZSj1x2r5mz2xDIcrovZ61ydRQMHm0nd5RsPXBgQYGiFQp0LqiJpr8O_YFved-rRTTfupCjqMJkp8MS9TuSBn0bRBbCwn2c6S5ibdAUJGyLazxoW82FFJkyoPri/s876/capa-brancura-baixa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="876" data-original-width="600" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0lOp0URHXGwN0qaA-ZR1KAKzOe9NQNdPK8OcgzLD2ecboy-PdV7XrTBeUfCZSj1x2r5mz2xDIcrovZ61ydRQMHm0nd5RsPXBgQYGiFQp0LqiJpr8O_YFved-rRTTfupCjqMJkp8MS9TuSBn0bRBbCwn2c6S5ibdAUJGyLazxoW82FFJkyoPri/w274-h400/capa-brancura-baixa.jpg" width="274" /></a></div><br /><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: center; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><br /></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: right; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: georgia;">por Cassionei Niches Petry</span><o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: right; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">No
último volume de <i>Minha luta</i>, Karl Ove Knausgård<span style="background: white; color: #4d5156;"> </span>conversa sobre
Jon Fosse com uma amiga tradutora. Para Knausgård,
os primeiros romances do escritor norueguês, que acaba de receber o Prêmio Nobel
de Literatura de 2023, eram “cheios de neurose e de pânico, e acabou
descrevendo o mundo como ele realmente é, escuro e aberto”. Não conheço as
outras obras do autor, porém sua última narrativa, <b><i>Brancura</i></b><i> </i>(Editora
Fósforo, 64 páginas, tradução de Leonardo Pinto Silva), tem esses elementos
presentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Lançado
neste ano, o livro é breve em páginas, porém extenso no teor narrativo. É um
monólogo (lembrando que Jon Fosse se notabilizou como dramaturgo) em que um
sujeito conta que sai de carro sem um destino pré-determinado, motivado apenas
pelo tédio. É outono, anoitece e começa a cair uma nevasca. Sem ter como dar o
retorno, para o carro diante de uma floresta negra: “cá estou eu agora sentado, pensei, e me senti vazio,
como se o tédio tivesse se transformado num vazio.” O personagem vive uma
angústia existencial e essa escapada sem rumo é um símbolo dessa existência
conturbada, embora ele diga em certo momento: “se agora tenho de me manter
longe de alguma coisa, é de metáforas. Essa escuridão me amedronta. Tenho medo,
é simples assim.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Não há, no entanto, como fugir das interpretações simbólicas.
Saindo do carro e tentando escapar da brancura da neve, ele se depara com o escuro
em todos os lados: “Fito o pretume da escuridão, é como se nada pudesse ser
visto, apenas o breu. Olho para cima, para o alto, e vejo um céu negro sem
estrelas.” A partir daí começa a ter visões (“Está tão escuro agora, mais
escuro não pode ficar, e bem na minha frente avisto a silhueta de alguma coisa
que parece uma pessoa. (...) Uma silhueta branca.)” e ouvir vozes bem conhecidas,
que o remetem a algum conflito familiar não resolvido ou um trauma da sua infância
relacionado mais precisamente ao seu pai e à sua mãe.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Chevalier e Gheerbrant, em <i>Dicionário de símbolos, </i>destacam,
entre outros significados, que o branco representa “ora a ausência, ora a soma
das cores”, por isso “coloca-se às vezes no início e, outras vezes, no término
da vida diurna”. O personagem estaria no fim da vida ou renascendo, se
transformando? A cor preta, de acordo com os alquimistas, “indicaria a fase inicial
de uma evolução progressiva, ou inversamente, o grau final de uma evolução regressiva”.
De certa maneira, essa ambiguidade proporciona, para o leitor, dúvidas quanto
ao que está lendo, por isso a leitura se estende para além das 64 páginas do
breve romance. Como diz o narrador: “São só palavras. Mas há palavras e
palavras.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Confesso que, por gostar de metalinguagem, interpretei
em muitos momentos a brancura da neve como a página em branco e a escuridão da
floresta como a alma conturbada do escritor. As aparições e as vozes são as musas
que tentam soprar no ouvido do artista o que ele deve escrever ou então as
lembranças do indivíduo que tentam preencher esses espaços em branco. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Jon Fosse faz jus a um prêmio tão relevante, embora
muitos outros gigantes mais conhecidos mundialmente estejam ficando para trás.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-78302364260572855552023-10-14T09:46:00.007-03:002023-10-14T09:46:47.976-03:00Poe e a insanidade como arte<p> </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX5oQC74Mmqt6pF9YToJPTZuxtsSLsM7zvA_yUyrDheXQjc3QbrZyKfDX5zsSEkc1qyELhkSo-nj6AYd9wgF-Emr3c7Bh6jw67MFx9kMNoU8syQNaW9Wcwc51gdFpoU_j98EzaifLTmxXpJXXumgzhmnc58595xyX8tr65lTGuv7sf-qsS3HPK/s1980/91J4ze7NJlL._SL1500_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1420" data-original-width="1980" height="286" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX5oQC74Mmqt6pF9YToJPTZuxtsSLsM7zvA_yUyrDheXQjc3QbrZyKfDX5zsSEkc1qyELhkSo-nj6AYd9wgF-Emr3c7Bh6jw67MFx9kMNoU8syQNaW9Wcwc51gdFpoU_j98EzaifLTmxXpJXXumgzhmnc58595xyX8tr65lTGuv7sf-qsS3HPK/w400-h286/91J4ze7NJlL._SL1500_.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr></tbody></table><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: x-large;"> </span><span style="font-size: medium;">Há alguns anos, numa escola pública, um professor de literatura teve uma daquelas experiências, que já não acontecem mais, em que conseguiu despertar o interesse dos alunos pela obra de um escritor. Realizando uma sessão de cinema na sala de aula, apresentou-lhes a obra de Edgar Allan Poe através do filme <i>O corvo</i>, direção de James McTeigue. O ator John Cusack interpreta o próprio escritor, que se vê envolvido na perseguição de um assassino que </span></span><span style="font-size: medium;"><span style="animation-name: none !important; background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; transition-property: none !important; white-space: pre-wrap;"><a style="animation-name: none !important; color: #385898; cursor: pointer; transition-property: none !important;" tabindex="-1"></a></span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; white-space: pre-wrap;">comete crimes e deixa pistas, sempre inspirado em suas histórias. Depois de assistir ao filme, uma aluna disse que ficou com vontade de ler os livros do Poe. Restou ao professor abrir um largo sorriso. Velhos tempos!</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Poe já teve muitas adaptações de sua obra. Há uma excelente série televisiva, <i>The following</i>, com um mote parecido com o do filme citado, porém o assassino já é conhecido desde o primeiro episódio: um sedutor professor de literatura que transformava seus crimes em arte e, o pior, conseguindo arregimentar uma porção de seguidores. Nesta semana, a Netflix lançou uma série inspirada em vários contos do escritor.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Precursor da literatura de horror moderna, o romancista, contista e poeta americano Edgar Allan Poe nasceu em Boston, EUA, no dia 19 de Janeiro de 1809 e morreu em outubro de 1849, aos 40 anos de idade, dias depois de ser encontrado em um profundo estado de embriaguez, semiconsciente e sujo, em uma rua de Baltimore. Mestre do conto, escreveu histórias como “A queda da casa de Usher” (que dá título à série mencionada) e “O gato preto”, em que estão presentes o mistério e o terror góticos típicos do século XIX. Já “Os crimes da Rua Morgue” e “A carta roubada” o tornaram o criador de histórias do gênero policial. O poema narrativo “O Corvo”, por sua vez, é um dos seus textos mais populares, sendo inclusive adaptado num dos episódios de <i>Os Simpsons</i>.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>“Mas eis o ponto mais importante: notaremos que esse autor, produto de um século orgulhoso de si mesmo, filho de uma nação mais orgulhosa de si mesma que qualquer outra, viu com clareza e afirmou impassivelmente a perversidade do homem”, escreveu o poeta Charles Baudelaire num texto com o qual divulgou a obra do escritor aos franceses. Os personagens de Poe são maus, muito maus. O protagonista de “O gato preto”, por exemplo, tortura e enforca seu bicho de estimação e também mata a sua mulher, para depois emparedá-la no porão de sua casa. Em “O poço e o pêndulo”, temos a crueldade humana expressa na tortura física e psicológica de um condenado pela inquisição da Igreja Católica. Em “O barril de Amontillado”, Fortunato, motivado por uma vingança, trama a morte de um desafeto, emparedando-o vivo nas catacumbas de seu palácio. Já em “A máscara da Morte Rubra”, o príncipe Próspero reúne seus súditos para se isolarem em uma abadia fortificada e depois promove um baile de máscaras. Um dos mascarados, porém, estava ali para outro tipo de diversão.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Poe descreve nossos medos como poucos. Tenho medo, por exemplo, de que exista algum <i>doppelgänger</i>, um duplo meu, cometendo alguns atos que eu não cometeria e sobre os quais levaria a culpa. No conto “William Wilson”, temos justamente a história de um duplo que atormenta, desde a época da escola, a vida do protagonista. Ele tem o mesmo nome, nasceu no mesmo dia, e ainda por cima usando as mesmas roupas que ele. “No lugar onde momentos antes eu nada vira, havia agora um grande espelho… Aproximei-me dele cheio de terror e vi caminhar para mim a minha própria imagem, com o rosto extremamente pálido e todo salpicado de sangue, avançando a passos lentos e vacilantes.” Pergunto-me às vezes: e se o meu duplo me encontrasse? Seria eu dominado por ele? Ou teria que matá-lo, já que o mundo é pequeno demais para dois Cassioneis? Ou, o mais provável, ele me mataria?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: georgia; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;"><span> </span>Julio Cortázar escreveu sobre obra de Poe: “atingindo dimensões extra-temporais, as dimensões da natureza profunda do homem sem disfarces, é tão profundamente temporal a ponto de viver num contínuo presente, tanto nas vitrinas das livrarias como nas imagens dos pesadelos, na maldade humana e também na busca de certos ideais e de certos sonhos”. Pois Poe, além das várias adaptações, tem várias traduções de seus contos disponíveis nas livrarias do Brasil. Para ficar em apenas uma, recomendo a de José Paulo Paes, editada pela Companhia das Letras e intitulada <i>Histórias extraordinárias</i>.</span></span></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-80196749102174316182023-10-12T15:37:00.004-03:002023-10-12T15:37:28.762-03:00"El problema final", de Arturo Pérez-Reverte<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgllCXZvKhcQIRaJdkJzxClwhuztx4B8IHS34kNdea53ieWGXWpXG-TM8FCkBXjLm7ewYPWo7p92ivjxxaTJH79LHE4PnBMDr913R71WTMsb2ibyDx1fFNgtYj5JZK7Du5VvKggpCy7aDSlzWGe5J8Z0XowHUMnEkV0QRzZVzinSXWvEVUFK-__/s1000/71QFtaQt98L._AC_UF894,1000_QL80_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="750" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgllCXZvKhcQIRaJdkJzxClwhuztx4B8IHS34kNdea53ieWGXWpXG-TM8FCkBXjLm7ewYPWo7p92ivjxxaTJH79LHE4PnBMDr913R71WTMsb2ibyDx1fFNgtYj5JZK7Du5VvKggpCy7aDSlzWGe5J8Z0XowHUMnEkV0QRzZVzinSXWvEVUFK-__/s320/71QFtaQt98L._AC_UF894,1000_QL80_.jpg" width="240" /></a></div><p></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: center; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Elementar, meu caro leitor</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: right; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">por Cassionei Niches Petry </span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: right; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O espanhol </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arturo Pérez-Reverte</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> é um escritor apaixonado pela literatura. Por mais incrível que possa parecer, esse tipo de escritor é raro. Há quem use a literatura como ferramenta política, há quem a use para se promover intelectualmente, há quem goste de escrever, mas lê muito pouco. Pérez-Reverte é do time daqueles que gostam da literatura de todos os matizes, da mais popular à mais erudita, dos livros de aventura a histórias herméticas e enigmáticas. Faço o uso errado desses extremos, pois eles não são extremos. Existem livros bons e livros ruins e é isso.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Pérez-Reverte não só gosta como também escreve livros de vários gêneros. No seu livro mais recente, lançado por enquanto só no mundo hispânico, ele faz uma homenagem ao gênero policial. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">El problema final</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> faz referência já no título ao conto de Arthur Conan Doyle em que Sherlock Holmes teria morrido, em luta com o vilão Moriarty. Atendendo a pedidos dos leitores, o autor teve que “ressuscitar” seu personagem. Na história de Pérez-Reverte, o “ressuscitado” é o detetive do cinema, representado por Basil Rathbone em várias produções hollywoodianas. O ator é rebatizado como Hopalong Basil e está isolado em uma ilha na Grécia devido a uma tempestade. Com ele, no único hotel, mais precisamente a única edificação do lugar, mais oito hóspedes, a proprietária, o gerente, um garçom e uma camareira. Na primeira noite, uma das hóspedes é encontrada enforcada no pavilhão da praia. Supostamente, foi um suicídio, pois o lugar estava fechado por dentro. Alguns fatos, porém, levam à suspeita de que possa ter acontecido um assassinato. Trata-se, então, de um caso do tipo “quarto fechado”, como no conto “Os crimes da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe. Como a polícia não pode ir à ilha por causa do mau tempo, os sobreviventes escolhem Basil para investigar, afinal, ele interpretou o famoso detetive inúmeras vezes.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O papel de Watson acaba ficando com Paco Foxá, um escritor de ficção policial que é vendida em bancas de revistas. Com amplo conhecimento do gênero, assim como Basil, os dois acabam promovendo deliciosos diálogos sobre romances e filmes de crimes e suas resoluções, assim como questionam sobre o papel importante do leitor na interpretação desse tipo de enredo. O romance, portanto, vai da metanarrativa ao romance-problema, resultando, portanto, não só num livro de entretenimento, como também numa obra mais ao gosto da crítica acadêmica, digamos assim.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em uma das conversas, Basil afirma: “O que mais me fascina é a arte narrativa do engano”. Foxá acrescenta: “Nos bons romances com enigma, a solução está à vista desde o princípio” (tradução minha). Pérez-Reverte se sai bem nesse quesito, pois cheguei a achar que tinha descoberto o nome do criminoso, o qual seria muito óbvio, e quase que Basil confirmou minhas suspeitas. No final, porém, há uma reviravolta muito bem arquitetada e que nos surpreende, embora a explicação seja muito longa, quebrando o clímax, sem, no entanto, tirar o brilho da obra.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arturo Pérez-Reverte tem algumas obras publicadas no Brasil, como </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O clube Dumas</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> adaptado por Roman Polanski no cinema com o título </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O último portal</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">El problema final</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> merece também ser traduzido por aqui.</span></span></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-36170310554413287512023-09-30T10:13:00.001-03:002023-09-30T10:13:42.786-03:00Relatos póstumos de Machado de Assis<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzWhnDdMCeJC09LS8cQvhJr7nVI7tFSTSdT8Ojf9k8LyhUPQiYYRowvry60vABCWXiY2mv0bcZK3Hmn72kVmjByr-I6iKFUVafN45jamJMTRHLzy-OhvbSXB-9rxXTtYPRSgYV72g998Qf80w8BwkwYUYC8Wpep4ZMukI70wGvQNVVxENAuuLp/s650/vida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="433" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzWhnDdMCeJC09LS8cQvhJr7nVI7tFSTSdT8Ojf9k8LyhUPQiYYRowvry60vABCWXiY2mv0bcZK3Hmn72kVmjByr-I6iKFUVafN45jamJMTRHLzy-OhvbSXB-9rxXTtYPRSgYV72g998Qf80w8BwkwYUYC8Wpep4ZMukI70wGvQNVVxENAuuLp/w266-h400/vida.jpg" width="266" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><p></p><span id="docs-internal-guid-a3d61a00-7fff-cf68-e7f2-9e894e6a101a"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Esta resenha seria intitulada “Um romance padrão Machado”, pois quando escrevi sobre a obra mais conhecida de </span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sérgio Rodrigues</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O drible</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, há quase 10 anos, tasquei um “romance padrão Fifa”. O escritor achou ambíguo, como me disse de forma privada (e o mau-caráter aqui expõe): seria um elogio ou uma crítica? Tire suas conclusões acessando o link da resenha no final deste texto, caro leitor.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas, como disse, mau-caráter que sou, mudei o título para fazer referência a um romance meu, </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Relatos póstumos de um suicida.</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Não, claro que não (mas também sim). É que </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A vida futura</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> (Companhia das Letras, 168 páginas), recente romance do Rodrigues, tem como narrador o finado (há muitos anos) Machado de Assis e, portanto, emula sua linguagem e as outras características do Bruxo do Cosme Velho, como a ironia, a intertextualidade e os capítulos curtos. Meu humilde e obscuro (no sentido de desconhecido e ignorado) romance faz só referência ao </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Memórias póstumas de Brás Cubas</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Fim do cabotinismo.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A vida futura</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> temos um Machado “vivendo” numa espécie de céu de escritores. Que tal compartilhar uma mesa de bar com Dostoiévski e Flaubert e discutir questões polêmicas com essas figuras? Uma dessas questões é a tendência atual (sim, os autores do século XIX estão atentos aos debates do século XXI!) de, digamos, amenizar a linguagem dos escritores antigos. Um desses, chamado apenas de Jota pelo narrador, é José de Alencar, que é quem mais se revolta com o fato de ser “reescrito”. Machado também é Jota, de Joaquim, e outros escritores brasileiros aparecem somente com epítetos: o Dramaturgo é Nelson Rodrigues, o Gaúcho, Erico Verissimo, e o Delegado é Rubem Fonseca, recém-chegado ao céu. Pois os espíritos dos Jotas resolvem descer ao Rio de Janeiro, nos primeiros meses de 2020, quando a peste nos atinge, e dar um susto pelo menos em quem resolveu simplificar a obra deles, uma professora universitária: “De uma forma ou de outra, garantia que todos os nossos problemas se dissolveriam por mágica naquela travessura de </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">vaudeville</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, que faria a professora, tremendo de medo, desistir na mesma hora de seu plano criminoso”.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O que se segue é uma série de cenas curtas em que nossos escritores-personagens se deparam, por exemplo, com a violência, abuso sexual de menores e racismo nas ruas do Rio (“O senso de irrealidade que dava a nossos passos um peso incerto de algodão ou chumbo fazia com que nos sentíssemos alternadamente numa masmorra medieval, no porão de um navio negreiro, numa caverna pré-histórica, num campo de batalha napoleônica após tétrica carnificina, na própria caldeira fervente de Asmodeu.”), depois com professores e alunos dispostos a modificar os clássicos em nome de suas ideologias, gente que também quer impor o uso de pronomes neutros (“Todes?! Seria um deus nórdico?”), uma delas uma jovem negra por quem Machado acaba quase que se apaixonando e que tinha o lugar de fala para abordar a questão de o escritor negar ser negro (“A moça era, ela própria, negra. Compreendi que só por essa razão lhe permitiam dizer o que dizia.”</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">)</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Por fim, traficantes, milicianos e políticos fazem uma festa em uma mansão de um chefe da milícia no morro, enquanto o fantasma de Machado de Assis vê, lá embaixo, na cidade, as almas das vítimas da pandemia que inicia se desprendendo dos corpos como raios de luz.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; text-align: left; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Autor do já citado </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; text-align: left; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2014/02/tracando-livros-sobre-o-drible-de.html">O drible</a></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; text-align: left; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, de </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; text-align: left; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2018/05/escrevi-sobre-elza-garota-de-sergio.html">Elza, a garota</a></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; text-align: left; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e do livro de contos </span><span style="font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; text-align: left; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2020/04/a-visita-de-um-joao-ninguem-ao-novo.html">A visita de João Gilberto aos Novos Baianos</a></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; text-align: left; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, todos já resenhados por aqui (é só clicar nos títulos para ler os textos), Sérgio Rodrigues escreve uma comédia de costumes com elementos do fantástico e repleta de referências cultas e populares, além de ter uma linguagem criativa e ousada. Podemos, vá lá, dizer que é um romance “padrão Rodrigues”.</span></p></span></span>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-44901749146962807512023-09-20T10:51:00.001-03:002023-09-20T10:51:19.684-03:00 Salve, Jorges<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi08lxo9eG7UppomFF7_6RYiKfUnNwgatHoLdndBPjXTAX6d7el0tHUPBpwPykN-Cb0WCWYD6D4L1m586DQzh7nTpZy1BspvjykzUp6nQoLJ_CtekhU4unRnUk2L7rembCQZqLxzA84pb-QhzazqxI5OfzKQrKhbt7h0GZptAhLLpEmwrTrUYxs/s1000/81CZNM0ISsL._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="659" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi08lxo9eG7UppomFF7_6RYiKfUnNwgatHoLdndBPjXTAX6d7el0tHUPBpwPykN-Cb0WCWYD6D4L1m586DQzh7nTpZy1BspvjykzUp6nQoLJ_CtekhU4unRnUk2L7rembCQZqLxzA84pb-QhzazqxI5OfzKQrKhbt7h0GZptAhLLpEmwrTrUYxs/w264-h400/81CZNM0ISsL._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg" width="264" /></a></div><br /><span id="docs-internal-guid-d238df58-7fff-b0fb-f165-0171a447c96f"><div style="text-align: right;"><br />por Cassionei Niches Petry</div><div style="text-align: right;"><br /></div><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Agora Agora</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, de Carlos Eduardo Pereira (Editora Todavia, 213 páginas), é um romance sobre o hoje, o ontem e o anteontem de uma família negra carioca. Gira em torno de três Jorges, de três gerações diferentes. O nome dos personagens, por certo, não é aleatório. O santo, que no sincretismo religioso brasileiro é denominado Ogum, o orixá guerreiro, é fonte de devoção de boa parte da população afro-brasileira por representar a força de resistência de um povo oprimido.</span></span></p><span style="font-size: large;"><br /></span><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: large;">Na primeira parte, temos o Jorge Ferreira Neto, professor, narrando sua história em primeira pessoa, numa fala a um interlocutor que seria seu antigo colega num colégio militar, mas que não sabemos se está realmente presente. O que iremos saber é que esse outro personagem participou, de certa forma, de um evento traumático que aconteceu no estabelecimento de ensino. Nas partes seguintes, o próprio Neto narra as histórias de seu pai e do seu avô.</span></span></p><span style="font-size: large;"><br /></span><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: large;">A parte dois trata do primeiro Jorge Ferreira, que no início do século XX, mantinha um clube na cidade de Nova Friburgo, onde apenas negros podiam entrar e onde funda uma escola de samba, que será a segunda casa de parte da família (somente Neto acabaria nao seguindo a tradição. Amante das artes (inclusive tenta encenar uma peça teatral), é um sujeito incompreendido. O clube, diga-se, se chama “Grito da mocidade”, que simbolicamente representa o grito de liberdade dos negros.</span></span></p><span style="font-size: large;"><br /></span><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: large;">A derradeira parte nos apresenta Jorge Ferreira Filho, que trabalha numa empresa de construção como encarregado de obra, dá continuidade à tradição carnavalesca e, por fim, leva o filho, Jorge Neto, ao colégio preparatório da FAB. Então a história se volta mais uma vez para o narrador e sua dura experiência como calouro. É a parte mais dolorosa, para o personagem e para o leitor. Não há como não sofrer junto com ele as injustiças cometidas pelos mais velhos ou pelos militares superiores, numa época em que o Brasil recém havia saído da ditadura.</span></span></p><span style="font-size: large;"><br /><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Agora agora </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">é o segundo romance de Carlos Eduardo Miranda. O primeiro, </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Enquanto os dentes, </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">já foi resenhado aqui no blog (<a href="https://cassionei.blogspot.com/2018/10/travessia.html">https://cassionei.blogspot.com/2018/10/travessia.html</a>). Ambos tratam das agruras do racismo e também têm em comum a influência, negativa ou positiva, da figura do pai, às vezes ausente. Quando é deixado na porta do colégio interno, Jorge Neto nos mostra a indiferença de seu pai em relação a ele: “Meu pai não diz nem que não nem que sim. Apenas dá um beijo em minha testa, dá meia-volta e vai embora.”</span></span></span>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-55712448162584823402023-09-15T11:27:00.005-03:002023-09-15T13:36:34.544-03:00Pensando alto sobre a crítica atual<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz8dg1FXMXSTHFeeKXy6s4kLtm2J1rC3asykCip_bQhc5e17YOT22phFdH9EfaHICSi2xUP7xnHJf5TB3EMZmUoCvTu8yTBy3OS0uQfksx5z9QdWA3YKOeHbA7G3ZbnS86DpLo-hUsmZ8DWn_WsY_WnUtMl3rjkZoEE9YU5A9J7IYmwmriwOi_/s709/cahiersducinema91.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="472" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz8dg1FXMXSTHFeeKXy6s4kLtm2J1rC3asykCip_bQhc5e17YOT22phFdH9EfaHICSi2xUP7xnHJf5TB3EMZmUoCvTu8yTBy3OS0uQfksx5z9QdWA3YKOeHbA7G3ZbnS86DpLo-hUsmZ8DWn_WsY_WnUtMl3rjkZoEE9YU5A9J7IYmwmriwOi_/s320/cahiersducinema91.jpg" width="213" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: right;"><span face="Arial,sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-size: 10pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre;">por Cassionei Niches Petry</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span id="docs-internal-guid-13f08ae3-7fff-3af2-56eb-32308bbc3066"><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O francês André Bazin (1918-1958) disse: “A função do crítico não é trazer numa bandeja de prata uma verdade que não existe, mas </span><span face="Arial, sans-serif" style="color: #040c28; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">prolongar o máximo possível, na inteligência e na sensibilidade dos que o leem, o impacto da obra de arte</span><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">”. Ele se referia à atividde de crítico de cinema, no entanto, podemos estender isso à literatura. Depois de uma leitura, e não antes, busco, como leitor, resenhas ou críticas sobre as obras, para que ainda possa continuar a digeri-las. Na verdade, procuro outras leituras para que eu possa ler o que não li, para encontrar impressões diferentes ou para comprovar as minhas impressões. Errei ao interpretar tal trecho? O escritor escreveu aquilo mesmo?</span></span></p><span style="font-size: medium;"><br /></span><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: medium;">Hoje, no Brasil, há cada vez menos críticos e também menos espaços para os que ainda se arriscam no gênero. Ah, mas e a internet?, você, leitor (ainda está ai?), pergunta. Acontece que as boas críticas se perdem na rede, os críticos, por isso, desistem de escrever e o espaço é ocupado por comentadores de livros, por reprodutores de releases das editoras, por videozinhos bem editadinhos com resuminhos dos livrinhos.</span></span></p><span style="font-size: medium;"><br /></span><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: medium;">Os principais jornais do Brasil estão deixando de lado a crítica. O Estadão, por exemplo, chegou a, na surdina, extinguir o tradicional “Caderno 2”, transformando-o no “C2, Cultura & Comportamento”, dando ênfase ao segundo C. As matérias jornalísticas intercaladas por entrevistas com escritores ainda resistem, principalmente na “Ilustrada”, da Folha de São Paulo. Algumas publicações exclusivamente literárias sobrevivem, porém as abordagens dos temas obedecem às pautas identitárias, de minorias, e evitam tratar de obras que causem “cancelamentos”.</span></span></p><span style="font-size: medium;"><br /></span><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: medium;">Os “booktubers” e “criadores de conteúdo” para redes sociais são mais valorizados. Autores e editoras repercutem mais esses profissionais, que acabam fazendo publicidade e não a crítica propriamente dita. Há casos em que editoras remuneram o profissional, além de dar livros de cortesia para quem vai escrever ou falar sobre as obras (eu mesmo recebia exemplares de algumas editoras quando escrevia para jornal e ainda recebo de alguns escritores, mas nunca recebi um real de ninguém, nem mesmo dos veículos para os quais escrevia). Ser presenteado com um livro é prática antiga e necessária, pois o crítico não tem como comprar muitos livros, porém ser pago diretamente pelos interessados obriga o crítico ao elogio ou a fingir ignorar os defeitos da obra. Aí é um desserviço à literatura.</span></span></p><span style="font-size: medium;"><br /></span><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: medium;">Voltando ao início, o crítico até pode pegar leve na análise, no entanto não pode abdicar de mostrar ao leitor caminhos para uma apreciação proveitosa. A resenha que provoca intelectualmente e não diz obviedades torna-se também uma criação ou recriação literária.</span></span></p><div><span face="Arial, sans-serif" style="background-color: white; color: #202124; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></div></span></div><p><br /></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-23522580420880916142023-09-09T11:43:00.005-03:002023-09-09T11:43:50.729-03:00 Tempo de ler Menalton Braff<br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBJGYRt78C4JkC-kPBuM5HAgCGWR3UPZ1RN5piyU_enszp8bRWlhP5sDH9geQp_4Q-Z9FkJsHwQ_VWFSX6eVZkdzNq0Ed5_aN0nsbz3XnTZUPkKwCGgn81ttBGH-Z-0K-V0ooIryPLOmHBdO-0KVcCmXkI3dRo7ZyHTBb6ttc4l1DleH-kDxdp/s2195/sarau.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1460" data-original-width="2195" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBJGYRt78C4JkC-kPBuM5HAgCGWR3UPZ1RN5piyU_enszp8bRWlhP5sDH9geQp_4Q-Z9FkJsHwQ_VWFSX6eVZkdzNq0Ed5_aN0nsbz3XnTZUPkKwCGgn81ttBGH-Z-0K-V0ooIryPLOmHBdO-0KVcCmXkI3dRo7ZyHTBb6ttc4l1DleH-kDxdp/w640-h426/sarau.jpg" width="640" /></a></div><br /><span id="docs-internal-guid-69ae6793-7fff-3604-0820-96f9169f8026"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br />Reli, depois de muito tempo, o livro de contos </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">À sombra do cipreste</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, de Menalton Braff. Quando recebeu o Jabuti de Livro do Ano - Ficção de 2000, causou muita surpresa no meio literário o fato de a obra ser de uma editora independente, a Palavra Mágica, e seu autor ter, na época, mais de 60 anos e ser desconhecido do público leitor. Somaram-se a isso mais algumas curiosidades de sua vida, como o de ser um professor que viajava milhares de quilômetros semanalmente para lecionar em diferentes escolas no interior de São Paulo. Nas duas últimas décadas, Menalton comprovou seu talento com uma sucessão de romances e livros de contos do mais alto grau artístico, lançados por grandes editoras.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sem sombra de dúvida, com o perdão do trocadilho infame, </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">À sombra do cipreste</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> mereceu todas as honrarias, embora tenha sido um pouco esquecido nesse tempo todo. Em tempo, a Reformatório, com catálogo impressionante para uma editora ainda pequena, reedita o livro, proporcionando uma oportunidade de novos ou velhos leitores conhecê-lo ou relê-lo.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">O que mais chamou a atenção deste leitor que não tem mais tempo para muitas leituras e muito menos escrever sobre elas, foi justamente a questão do tempo. Cronos é soberano nas narrativas, assim como as Parcas e outras divindades gregas que nos remetem ao tempo que passa inexoravelmente e seus reflexos. No primeiro conto, que dá título à obra, temos o tema da velhice: uma senhora vê o fim de sua vida se aproximando, simbolizado pela aproximação da sombra de uma árvore. Em “Adeus, meu pai”, a morte e as consequências para os que ficam. Em “Anoitando”, é questão de tempo para a mulher se entregar às investidas de um homem. Em “Concerto para violino” (vale frisar que a música é uma chave importante para a interpretação dos contos), um homem espera por bastante tempo que uma mulher reapareça na porta de um edifício. Em “Crispação”, o tempo que acabou com o amor do casal. “Domingo”, sobre o tempo que passa rapidamente, tem uma narração sem ponto nem vírgula. Em outro conto, um assassino, enquanto espera a vítima, pensa sobre o tempo que passou.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">Assim se sucedem as histórias, sempre mencionando o tempo, como nessa passagem de um dos melhores contos, “O relógio de pêndulo”:</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">“O relógio de pêndulo, da sala, atravessa a casa com duas badaladas, e pergunto a meu irmão se não quer descansar um pouco, os quartos como antigamente. Ele diz que não, que não vale a pena, apesar das marcas que o sono vai deixando em seu rosto.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-style: italic; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">O relógio da matriz confirma as horas, como sempre com uns dois minutos de atraso. Nada vejo no pulso de Abelardo, não sei se para ele faz alguma diferença a passagem do tempo.”</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: medium;">Talvez pela necessidade de compartilhar com o leitor a satisfação de ver a alta literatura ainda tendo seu lugar no mercado editorial ou talvez por simplesmente registrar uma leitura para não esquecê-la, arrumei um tempinho nessa vida tão corrida de professor (sim, também sou professor como foi Menalton, e já tive que percorrer alguns quilômetros fora da minha cidade para lecionar) para voltar a escrever uma quase resenha. É que também fui convidado pelo Mauro Ulrich, ou melhor, convocado, diria até ameaçado, com arma na cabeça e tal, para colaborar com o jornal Sarau (a rima não foi proposital). Como devo muito a esse sujeito (que cortou o cabelo, mas não perdeu a força), estou empregando muito bem o meu precioso tempo.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 6pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3vhQnxPfGqU-rlm5B7JwuKm0G4azTN_Aa5dAoe-KNUWsKrsnQDNdrmjrB5GK3bki3dMHdQ8fwPGJB4mRKgECO7NDbsppFeU1rl-zHrMD8V8a82apYUaEneihB5ExRjj1s5gW3faMieQpjT2oLKA_s0RocPf7QywLT3RvVmsP6Fpq3-7UTNO9y/s1536/cipreste.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3vhQnxPfGqU-rlm5B7JwuKm0G4azTN_Aa5dAoe-KNUWsKrsnQDNdrmjrB5GK3bki3dMHdQ8fwPGJB4mRKgECO7NDbsppFeU1rl-zHrMD8V8a82apYUaEneihB5ExRjj1s5gW3faMieQpjT2oLKA_s0RocPf7QywLT3RvVmsP6Fpq3-7UTNO9y/s320/cipreste.jpg" width="208" /></a></div></span><p></p><div><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-72524750440101899722023-09-05T09:33:00.005-03:002023-09-05T09:33:52.187-03:00Capitu e o capítulo, Virgília e a vírgula<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjeXvTWw1M1SEp9r9DKYvBmZCMRIw8UOEhj5BFkSeFi4oSgeHklo_gxZ9Tfky8MaK3lAxh2PckA6NvAaSHmYH_6mIW7uFXKDCUEPsFkxqp_7L6XJ4rN0pVw0FH8Ot5dvpU4FCg6XQYwFEiUcLBh9YJjXoxx6CcJ1-NzVXn7w-0sCIxCPg2-XAr/s750/20211007-capitu-e-o-capitulo-papo-de-cinema-1-e1634085022194-750x313.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="313" data-original-width="750" height="269" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjeXvTWw1M1SEp9r9DKYvBmZCMRIw8UOEhj5BFkSeFi4oSgeHklo_gxZ9Tfky8MaK3lAxh2PckA6NvAaSHmYH_6mIW7uFXKDCUEPsFkxqp_7L6XJ4rN0pVw0FH8Ot5dvpU4FCg6XQYwFEiUcLBh9YJjXoxx6CcJ1-NzVXn7w-0sCIxCPg2-XAr/w640-h269/20211007-capitu-e-o-capitulo-papo-de-cinema-1-e1634085022194-750x313.jpeg" width="640" /></a></div><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: right; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">por Cassionei Niches Petry</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Júlio Bressane
recorreu a Haroldo de Campos para dar título ao seu filme de 2021, mas que só
agora, em 2023, chega aos cinemas. <i>Capitu e o capítulo </i>foi retirado de um
diálogo entre o cineasta e o poeta concretista. A ideia é de que o importante
no romance <i>Dom Casmurro</i> é a divisão em curtos capítulos. O mesmo se dá
em outras obras de Machado de Assis, como em <i>Memórias póstumas de Brás Cubas</i>,
também levada à grande tela por Bressane. Neste filme de 1985, inclusive, foi
inserida uma cena em que mulheres recitam um poema concreto de Haroldo: “se /
nasce / morre nasce (...)”. Na mesma obra, Bressane destaca capítulos do
romance em que Machado poderia ser considerado precursor do concretismo, como o
LV, “O velho diálogo de Adão e Eva”. O filme, simplesmente chamado <i>Brás
Cubas</i>, poderia se chamar <i>Virgília e a vírgula</i>. E, se Bressane
resolver adaptar Quincas Borba, pode usar o título <i>Sofia e o sofisma. </i>Por
que não?, perguntaria o narrador defunto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Mas voltando,
estimado leitor, à película recente. Júlio Bressane é um diretor que não
facilita nada para o espectador. Quem não leu o romance machadiano pode entender
muito pouco do que está acontecendo. Bressane, pressupõe, claro, que seu
espectador conhece arte tanto quanto ele, por isso as referências que aparecem são
muitas, como pinturas ou cenas de outros filmes do diretor (como a cena do
“necrofone” que abre o já citado <i>Brás Cubas</i>). O que importa são as
imagens, as palavras, as frases curtas, mas também as digressões, os silêncios,
as cores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Como se trata de uma
adaptação ou, como prefere o cineasta, uma extração da obra machadiana, a
pergunta que fica é sobre o enigma de Capitu. Pois no filme fica claro que
Capitu (Mariana Ximenez) traiu, mas não só ela. Capitu beija Escobar (Saulo
Rodrigues) e Bentinho (Vladimir Brichta) beija Sancha (Djin Sganzerla), esta
mais insinuante do que a outra. Capitu também acusa Betinho de ter uma paixão
platônica pelo amigo nadador de braços fortes. Os braços sempre foram indícios
de desejo nas narrativas de Machado de Assis, basta lembrar o conto “Uns
braços”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bem, o leitor ainda pode dizer
que ainda é Bentinho, ou melhor, o já velho Dom Casmurro quem conta a história,
por isso pode ainda ser uma invenção de uma mente ciumenta. Mas penso que o
Casmurro (vivido pelo ator Enrique Díaz) que aparece escrevendo sua história em
uma maravilhosa biblioteca é na verdade Machado de Assis, inclusive em uma cena
sofre de um ataque epilético. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;">Das poucas transposições
de <i>Dom Casmurro</i> para as telas, essa é a mais hermética e artisticamente
elaborada. É muito mais Bressane que Machado, lógico. Por isso explora pouco o
texto machadiano. Senti falta do velório de Escobar, quando Bentinho começa a
desconfiar da fidelidade Capitu. O diretor opta por inventar outro momento, bem
mais precoce, para a desconfiança. Também o personagem José Dias, que o
escritor Raimundo Carreiro, em artigo recente no jornal literário Rascunho,
sugere ser o verdadeiro narrador do romance, não foi bem explorado. <i>Capitu e
o capítulo</i> é uma obra “oblíqua e dissimulada” e merece ser vista.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-63377163587024761802023-08-26T17:52:00.003-03:002023-08-26T17:52:39.346-03:00Um diálogo sobre um Brasil sombrio<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNaEmVuQy66fNVtopipki8whc8h1QbFsdsyEBRSQt8mdW0qGU4o4Ac2RGuo4d4oXRBqYcoioh7gF0NCPARGHNkx0Kj0-SNOEcRsnOSCkSyFLVVKi7tk-P9AzHc0whf9tTSjdEQ3u9elL-BvSzkvk3JIF4FXFvek-BjKXq14Lr0eDBfkehc_Zcm/s650/veado-assassino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="433" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNaEmVuQy66fNVtopipki8whc8h1QbFsdsyEBRSQt8mdW0qGU4o4Ac2RGuo4d4oXRBqYcoioh7gF0NCPARGHNkx0Kj0-SNOEcRsnOSCkSyFLVVKi7tk-P9AzHc0whf9tTSjdEQ3u9elL-BvSzkvk3JIF4FXFvek-BjKXq14Lr0eDBfkehc_Zcm/w266-h400/veado-assassino.jpg" width="266" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Jamais podemos ler a
obra de <b>Santiago Nazarian</b> sem ser surpreendido. Nenhum livro seu é igual
ao outro. O autor pode atacar com uma obra de terror, como em <i>Neve negra (resenha sobre o livro <a href="https://cassionei.blogspot.com/2017/10/resenha-minha-sobre-romance-de-santiago.html">aqui)</a></i>,
ou visitar temas históricos, porém flertando como o realismo mágico, como em <i>Fé
no inferno (resenha <a href="https://cassionei.blogspot.com/2021/04/a-fragil-condicao-humana.html">aqui</a>),</i> só para citar os livros imediatamente anteriores a <b><i>Veado assassino</i></b>
(Companhia das Letras, 112 páginas). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">No novo romance (na quarta
capa consta que é uma novela, talvez pelo número de páginas, mas é um termo que
no Brasil está muito associado à teledramaturgia e causa confusão, apesar de romance
também causar), Nazarian nos apresenta um longo diálogo, sem narrador, como se
fora uma peça teatral, com algumas poucas rubricas que são dispensáveis. Um adolescente
de dezesseis anos conta boa parte de sua vida a um interlocutor, que achamos
ser um psiquiatra. Ao que parece (e tudo no romance pode nos enganar), ele está
preso por ter assassinado o presidente do Brasil antes da campanha eleitoral de
2022. O protagonista, cujo nome é Renato, é gay, não binário ou simplesmente
veado como consta no título, pertence a uma família conservadora de Santa Catarina,
eleitora do político de extrema-direita, embora o pai seja negro e a mãe professora,
e ainda tem uma irmã transexual. Viciado em games, Renato vivia trancado em seu
quarto, tendo somente contato com outros jogadores de forma online.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O que o suposto
psiquiatra (ou seria um jornalista?) tenta saber são as motivações para o ato
que, claro, tem repercussão mundial. O jovem sofreu abusos quando criança ou
recentemente? O bullying na escola teria represado algum ódio no jovem? Algum
professor? Os jogos violentos da internet o influenciaram? O ódio do então primeiro
mandatário do país contra os homossexuais foi o motivo? Outras pessoas estariam
envolvidas ou seria um ato de um lobo (ou veado) solitário? Todas as questões do
entrevistador são provocativas, tentando arrancar de Renato aquilo que ele poderia
esconder, porém o interlocutor, na verdade, parece saber de tudo e querer só a confirmação.
Bom para o leitor, que faz especulações, tenta preencher as lacunas e completar
a narrativa aberta. Quase no final, quando a identidade do sujeito é revelada,
o leitor ainda se surpreende com a situação em que se encontra o jovem, trazendo
uma tragicidade para uma narrativa que tinha um tom zombeteiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Li o livro de uma
sentada (ops!) neste sábado de manhã, depois de ter lido as notícias da roubalheira
do ex-presidente extremista que, no mundo real, não foi assassinado por nenhum
jovem gay. Às vezes penso e anuncio que não vou escrever mais nada sobre livros,
porém leio romances provocativos como <i>Veado assassino</i> e o resenhista sai
das sombras. Que assim seja!</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-58128575049563600572023-08-17T09:53:00.006-03:002023-08-17T10:37:35.500-03:00Sobre a 2ª edição de Herdando uma biblioteca, de Miguel Sanches Neto<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEGeemLlwmHpDMGpD3F8fFnw2Z88IowQXOgAOAsimSAD8eG7Hw7pVukZQxd1cxbaweJyfvYqDs55t2kPeAmLE74Swy8Zx0qDYZwzLf3c1K8Xa5YijMp_B3RJ-SuwBOSY7TJ8RNtfikgxfsI93bRQjdsvASHWX_TmVONc6VqDCZ4681RrsaN7di/s960/sanches%203%20(1).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEGeemLlwmHpDMGpD3F8fFnw2Z88IowQXOgAOAsimSAD8eG7Hw7pVukZQxd1cxbaweJyfvYqDs55t2kPeAmLE74Swy8Zx0qDYZwzLf3c1K8Xa5YijMp_B3RJ-SuwBOSY7TJ8RNtfikgxfsI93bRQjdsvASHWX_TmVONc6VqDCZ4681RrsaN7di/w400-h300/sanches%203%20(1).jpg" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;"><b><span style="color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;">De heranças e livros</span></b><span style="color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: right; text-indent: 35.45pt;"><span><b><span style="color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;">por Cassionei Niches Petry</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;"><span style="color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">É
difícil eu me identificar com algum livro. Geralmente não gosto de me
identificar. Aliás, o uso desse verbo é um clichê de que não gosto. Mas vez ou
outra eu uso. Somos refém de clichês, não adianta. Este livro do </span><b style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">Miguel
Sanches Neto</b><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">, no entanto, diz coisas que eu gostaria de dizer, traz
momentos que também vivenciei, produz aquela sensação de “eu já passei por
isso”.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;"><span style="color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;">A
trajetória de leitor e as reflexões sobre o objeto livro em <b>Herdando uma
biblioteca</b> nos transportam e nos fazem valorizar mais o livro impresso, as
marcas que eles nos deixam, as marcas que deixamos neles e as marcas que outros
fatores deixam nos exemplares. Aliás, tenho duas edições da obra. A 1ª, de
2004, comprei num sebo e há um furo de traça a partir da capa e que ultrapassa
todas as páginas. A 2ª, revista e ampliada, publicada pela Ateliê Editorial em
2020, me foi enviada gentilmente pelo próprio autor junto com outro livro. O
pacote foi deixado pelo carteiro sobre a caixa </span><span style="background: white; color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;">de correio, porém acabou chovendo. Os livros estavam plastificados,
porém não impediu que um deles ficasse úmido, causando um pequeno </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">rasgo na capa,
além de “rugas” que deram um aspecto de envelhecido ao exemplar.</span><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">A
traça e a umidade estão elencadas entre “Os inimigos da biblioteca”, um dos
capítulos acrescentados na nova edição.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large;"><span style="color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;">Em
princípio é um livro de crônicas. Pode, porém, ser lido como um romance, que
tem como protagonista o Miguel que se torna leitor, escritor, crítico e professor.
Até certo ponto, o me vejo nessas páginas. Assim como ele, também tive
uma Bíblia com a tradução de João Ferreira de Almeida. Meus primeiros livros
também foram os escolares herdados de parentes. Também não havia biblioteca na
minha casa. Também sou do interior. Também me formei como leitor em bibliotecas
escolares e públicas. Também roubei livros. (</span><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;">"Roubar livros que nos
solicitam amorosamente é uma forma de herdar à força uma biblioteca que nos foi
negada.") Também comprei muitos livros em sebos. Meus primeiros livros
também foram colocados em algumas prateleiras do armário de roupas do meu
quarto. Também recebi e recebo alguns livros (não tanto como o Miguel), devido
à atividade (só que, no meu caso, não remunerada) de crítico literário. (A
propósito, este texto que escrevo não é uma crítica literária e sim, quem sabe,
uma crônica ou somente impressões pessoais de leitura. Impossível ser objetivo
com esse livro, pois ele me pegou emocionalmente, inclusive na releitura.)</span><span style="color: black; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Minha identificação se encerra no momento em que a
personagem Miguel se torna um escritor reconhecido e professor universitário.
Continuo aqui na minha vidinha de escritor desconhecido e um simples e discreto
professor de escola pública, municipal e estadual, numa cidade do interior do
Rio Grande do Sul. Também não tenho uma vasta biblioteca ainda. Herdo daquelas
pessoas que me influenciaram, entre elas o Miguel da vida real, esse gosto meio
estranho por um objeto quadrado em que mentes privilegiadas descarregaram suas
angústias, sofrimentos, conhecimentos, habilidades com a palavra. Herdo dos
livros que li a vontade de ter mais livros, de me desfazer dos ruins para dar
lugar aos bons, de conhecer outros e esquecer alguns. Foram os livros que me
formaram e depois me deformaram. Eles me construíram e também me destruíram.
Construo uma biblioteca para que ela me destrua, portanto. Mesmo assim não
deixo de preencher prateleiras e mais prateleiras, comprar livros e também
ganhá-los. “Cada livro que colocamos em nossas estantes”, escreve o Miguel, “é
uma peça a mais nesse complexo quebra-cabeça que nunca chega a se completar.”</span></span><span style="color: black; font-family: "Georgia",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><span>Mais Miguel Sanches Neto aqui neste moribundo espaço literário:</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><span><a href="https://cassionei.blogspot.com/2010/09/meu-texto-sobre-o-cha-das-cinco-com-o.html">https://cassionei.blogspot.com/2010/09/meu-texto-sobre-o-cha-das-cinco-com-o.html</a></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><span><a href="https://cassionei.blogspot.com/2015/07/a-segunda-patria-de-miguel-sanches-neto.html">https://cassionei.blogspot.com/2015/07/a-segunda-patria-de-miguel-sanches-neto.html</a></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2016/09/acabei-de-descobrir-que-fui-traduzido.html">https://cassionei.blogspot.com/2016/09/acabei-de-descobrir-que-fui-traduzido.html</a></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2015/03/no-tracando-livros-de-hoje-escrevo.html">https://cassionei.blogspot.com/2015/03/no-tracando-livros-de-hoje-escrevo.html</a></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; color: #141823; font-family: Georgia, serif; line-height: 150%;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2016/07/a-biblia-do-che-de-miguel-sanches-neto.html">https://cassionei.blogspot.com/2016/07/a-biblia-do-che-de-miguel-sanches-neto.html</a></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2018/09/a-vida-gira-como-roda-de-uma-bicicleta.html">https://cassionei.blogspot.com/2018/09/a-vida-gira-como-roda-de-uma-bicicleta.html</a></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2020/09/sobre-livros-que-chegam-molhados-toca.html">https://cassionei.blogspot.com/2020/09/sobre-livros-que-chegam-molhados-toca.html</a></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br /></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-1819917986552025772023-08-15T20:06:00.005-03:002023-08-15T20:24:18.237-03:00Mais uma vez um texto meu é referência em tese de doutorado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy1wu6ZyjHvp5hMbkseDTxX_lkyb4QOWA7QaDbTDaNmIhta_Syu_8wMD8zmEGNhO8qxgNoEGyFdtUUGAbnhbgfZ5KwYzuwyXmqrUA2oJPwm6DbmkfLhobfY2EmxOUkGzy4XBhlxsYImfgPGEQLZMSHNJKwqCk2VkQ6ySrVysJMfjFe7FiNUy4x/s745/referencia%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="268" data-original-width="745" height="144" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy1wu6ZyjHvp5hMbkseDTxX_lkyb4QOWA7QaDbTDaNmIhta_Syu_8wMD8zmEGNhO8qxgNoEGyFdtUUGAbnhbgfZ5KwYzuwyXmqrUA2oJPwm6DbmkfLhobfY2EmxOUkGzy4XBhlxsYImfgPGEQLZMSHNJKwqCk2VkQ6ySrVysJMfjFe7FiNUy4x/w400-h144/referencia%202.jpg" width="400" /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy1wu6ZyjHvp5hMbkseDTxX_lkyb4QOWA7QaDbTDaNmIhta_Syu_8wMD8zmEGNhO8qxgNoEGyFdtUUGAbnhbgfZ5KwYzuwyXmqrUA2oJPwm6DbmkfLhobfY2EmxOUkGzy4XBhlxsYImfgPGEQLZMSHNJKwqCk2VkQ6ySrVysJMfjFe7FiNUy4x/s745/referencia%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj07NPgsS_1gAnWg6M-3sWZL7rLoE79Os2laffbQCpUdCJ9pQvvpqktbFlJcBGFcfr0DoiTpV4rVRZzKPxlymxF8UXzm1J3BKr2mjAh7KOLYEboDs8MpgBE43wTkvxmq_Rx5SjNtV0giNClYLfwv6dIrpcYE0eLfEihZsZ96NXxUBbMOFu1aMcB/s798/referencia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="624" data-original-width="798" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj07NPgsS_1gAnWg6M-3sWZL7rLoE79Os2laffbQCpUdCJ9pQvvpqktbFlJcBGFcfr0DoiTpV4rVRZzKPxlymxF8UXzm1J3BKr2mjAh7KOLYEboDs8MpgBE43wTkvxmq_Rx5SjNtV0giNClYLfwv6dIrpcYE0eLfEihZsZ96NXxUBbMOFu1aMcB/w400-h313/referencia.jpg" width="400" /></a></div></div><br /><br /><p><br /></p><p> Mais uma vez um texto meu é referência em tese de doutorado, dessa vez numa universidade do Rio Grande do Norte.</p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-83306124559927190712023-07-31T21:02:00.003-03:002023-07-31T21:02:25.801-03:00Resenha de Mauro Ulrich no jornal literário Sarau sobre "Desvarios..."<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLChJP9dH5C-f4iM1CHtr3k3-yEgMARRQkPM_OKFcuSdbeIkJiBTEmUtH5h_OIHwZ7a-X0F626XNWEg1iJfWrZuz9MFUFb90GTMPsEtv_EvQhEdy4AWlPynHTocJoNs2Y3SwPFZjy6W0b8itQ3BqIC-HF5jazvNpRsQkad_dAQ-ApGQnVRSpCQ/s1024/desvarios%20no%20sarau%202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="454" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLChJP9dH5C-f4iM1CHtr3k3-yEgMARRQkPM_OKFcuSdbeIkJiBTEmUtH5h_OIHwZ7a-X0F626XNWEg1iJfWrZuz9MFUFb90GTMPsEtv_EvQhEdy4AWlPynHTocJoNs2Y3SwPFZjy6W0b8itQ3BqIC-HF5jazvNpRsQkad_dAQ-ApGQnVRSpCQ/w284-h640/desvarios%20no%20sarau%202.jpg" width="284" /></a></div><br /><p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-62186023566908822042023-07-30T11:06:00.005-03:002023-07-30T11:14:39.370-03:00Ficções de um escritor fictício<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj35JXQFlujlCPt_6OH2Gc2G_hvIypS3Ll-0EyKFjwydIWdZce2IkcuhRS_RWeyX-9BmxOXBso2nUrR3qkkmnf1ErcGvddJVx15k6OyPHdqh945lEtOJtPd_xKtRkzqMlP0ruz2_KZ6jVobAAuG7VUbhW_UEYWTuDIccIqWB5auNG2TpFoPJRC3/s1200/capsulas.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="840" data-original-width="1200" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj35JXQFlujlCPt_6OH2Gc2G_hvIypS3Ll-0EyKFjwydIWdZce2IkcuhRS_RWeyX-9BmxOXBso2nUrR3qkkmnf1ErcGvddJVx15k6OyPHdqh945lEtOJtPd_xKtRkzqMlP0ruz2_KZ6jVobAAuG7VUbhW_UEYWTuDIccIqWB5auNG2TpFoPJRC3/w400-h280/capsulas.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: right;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Arial;">por Cassionei Niches Petry<o:p></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: right;"><span style="font-family: "Georgia",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: medium;">Quando se diz que vivemos numa bolha, penso, na
verdade, que vivemos em cápsulas, que são mais resistentes: não é qualquer objeto
pontiagudo que as fure. Os contos de Marcio Renato dos Santos, reunidos
justamente sob o título <i>Cápsulas, bifurcações e overdrive </i>(Tulipas
Negras Editora, 98 páginas), trazem personagens em seus mundos fechados, sejam
apartamentos, carros e até em seus próprios sonhos, e de como é difícil
entendê-los em sua solidão. No conto “Proatividade inútil”, por exemplo, o
narrador diz que “Silvo anda, segue e não sai de onde está”, e conclui que ele
está “dentro de uma caixa fechada (...), de um caixão de onde não consegue sair,
por mais que se esforce (...)”.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: medium;">O gênero conto é, por sua vez, uma cápsula. Algo
pequeno que contém algo potente: um remédio que nos ajuda a enfrentar os nossos
males ou algo explosivo que mata. O personagem de “18:13 e sozinho”, por
exemplo, vê-se às voltas com medicamentos para dormir e munições facilmente
encontráveis em supermercados numa cidade que parece encarar com facilidade a
morte dos outros. A explicação para esse estranho lugar pode estar em outro
conto, “Ao som dum gramofone blue”.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: medium;">Mas o título também traz a palavra “bifurcações”, o
que nos remete a ambiguidade do texto literário, como se o escritor fizesse o
leitor escolher entre duas cápsulas, das cores das pílulas de Matrix. Em
“Cápsula 2023”, por exemplo, Melina, uma Capitu moderna, quer trair seu marido
ou tudo não passa da imaginação ciumenta de Rômulo-Bentinho? Mais uma
intertextualidade com Machado, o que Marcio Renato dos Santos faz com
frequência em suas histórias, basta lembrar seu livro anterior, <i>Candongas
não fazem festa, </i>que nos remete ao clássico conto do Bruxo do Cosme Velho,
“Um homem célebre”.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: medium;">Bifurcações também podem ser as das ruas (de
Curitiba?), cenário que aparece em alguns contos, como no início de “Roan
precisa de trabalho”, em que um detetive, quando está indo ao encontro de um
suposto cliente, observa, de dentro do sua cápsula, digo, carro, um malabarista
no sinal vermelho. Em “Farelo”, as ruas são de uma cidade fictícia, Entreposto,
onde o protagonista, cujo nome dá título à narrativa, diz que quer “brilhar,
fazer e acontecer” e encontra um certo Senhor Who que propõe, para que o
sujeito atinja seus objetivos, a assinatura de um contrato em uma encruzilhada.
Mais uma referência intertextual bem executada pelo escritor.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: medium;">O livro fecha com os contos “Fora do imaginado
porvir” e “Aqueles”. Em ambos, o protagonista é um escritor chamado Santiago
Maria Paes, que escreve textos para outros escritores assinarem. O que me
deixou com uma pulguinha atrás da orelha. Pesquisando sobre o nome da editora
do livro, Tulipas Negras, que seria de propriedade do próprio autor, descobri
que tem a ver com uma confraria de homens que se vestiam de mulher, alguns
realmente gays, em Curitiba, nos anos 50, e cujos membros seriam de pessoas
importantes da alta sociedade. Um conto de Dalton Trevisan, “Em busca de
Curitiba perdida”, cita a tal sociedade secreta. Ou seria essa história apenas
ficção? Nas páginas de créditos do livro, inclusive, consta o seguinte endereço
(fictício) da editora: Avenida Newton Sampaio, s/n, Bairro Jamil Snege,
Curitiba – Paraná. Marcio Renato dos Santos também seria uma ficção e seu nome
verdadeiro é Santiago Maria Paes? Ou é este quem escreve os livros (quase um
por ano) assinados pelo outro? Ou ambos são, na verdade, Dalton Trevisan (este resenhista já o chamou de herdeiro do vampiro)?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.45pt;">E esta resenha, não seria escrita pelo próprio
escritor (para disfarçadamente se autopromover), mas assinada por Cassionei
Niches Petry?</span><span style="text-align: right;"> </span></span></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Outras resenhas sobre os livros do autor escritas pelo dono deste blog (até prova ao contrário):</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Sobre <i>Finalmente hoje</i>: <a href="https://cassionei.blogspot.com/2016/05/contos-de-espera.html">https://cassionei.blogspot.com/2016/05/contos-de-espera.html</a></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Sobre <i>Outras dezessete noites</i>: <a href="https://cassionei.blogspot.com/2017/03/com-espada-no-pescoco.html">https://cassionei.blogspot.com/2017/03/com-espada-no-pescoco.html</a></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Sobre <i>A cor do presente</i>: <a href="https://cassionei.blogspot.com/2019/04/herdeiro-do-vampiro.html">https://cassionei.blogspot.com/2019/04/herdeiro-do-vampiro.html</a></p><p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-4658754924169296392023-07-26T09:25:00.005-03:002023-07-26T09:25:39.056-03:00Uma escritora que me dá medo<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqFjwchdvskFOuzO2DoYrTXc4bz6KHDfGvSFDMw4P13opXjr_sYhtWLubep22xFUJEiixh2tehalc6dTOqsVZZtQ9UI3jxAVyTw8RJat9nVd3bY80Ylx1w-oeFZvt8HTvy-rz9BeZOTLbNXtoKCjLF9O9hr2jAD-flqxkYbFZ3kQ2RwNRTRu5o/s365/osperigosdefumarnacama-g.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="365" data-original-width="238" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqFjwchdvskFOuzO2DoYrTXc4bz6KHDfGvSFDMw4P13opXjr_sYhtWLubep22xFUJEiixh2tehalc6dTOqsVZZtQ9UI3jxAVyTw8RJat9nVd3bY80Ylx1w-oeFZvt8HTvy-rz9BeZOTLbNXtoKCjLF9O9hr2jAD-flqxkYbFZ3kQ2RwNRTRu5o/w261-h400/osperigosdefumarnacama-g.jpg" width="261" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i><span style="background: white; color: black; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-family: georgia;">por Cassionei Niches Petry</span></span></i><span style="background: white; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><i><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">Os perigos de fumar na cama</span></i></b><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;"> é o quarto livro de <b>Mariana
Enríquez</b> que a Intrínseca lança no Brasil. Publicado originalmente em 2009,
traz contos com protagonistas adolescentes, apesar, diga-se, de não ser escrito
exatamente para essa faixa etária. O medo é o fio condutor das narrativas, o
medo que atormenta não só as personagens, mas também o leitor.</span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">A escritora argentina, nascida em 1973, já afirmou
em entrevistas que gosta de textos literários que mais sugerem do que mostram o
terror. É isso que faz com que uma obra desse gênero tenha qualidade,
somando-se, claro, ao apuro linguístico. Os doze contos, com tradução de Elena
Menezes, preenchem muito bem esses critérios. Nada é muito explícito, o que
poderia deixar uma sensação de que pode ser tudo psicológico, assim como pode
ser uma alegoria de questões políticas que envolvem o passado recente da
Argentina.</span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">O conto que abre o volume se chama “O desenterro da
anjinha” e começa com uma menina encontrando, no quintal da casa, depois de uma
tempestade, ossos que parecem ser de um pequeno animal. Na sequência, no
entanto, a revelação de sua avó de que seriam da “anjinha” e uma aparição (real
ou alucinação?) jogam a personagem e o leitor no terreno do sobrenatural. Em
seguida, “A Virgen da pedreira” se passa em uma espécie de açude formado por
pedreiras abandonadas e mostra meninas capazes de qualquer atrocidade como
vingança por serem rechaçadas por um rapaz.</span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">Em “O carrinho”, um mendigo que empurra seu
carrinho de lixo joga uma praga para os moradores de um bairro de Buenos Aires
porque foi escorraçado de lá. “O poço” é um conto que me fez lembrar das casas
das benzedeiras aonde era levado quando criança, lugares repletos de imagens de
santos e velas e que me provocavam medo.</span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">“Rambla triste” tem como cenário Barcelona, num
lugar em que uma força sobrenatural, relacionado a alguma culpa do passado, não
deixa os argentinos que por lá vão morar voltarem para sua terra natal. Em “O
mirante”, por seu turno, a presença de um fantasma que atormenta a já
atormentada protagonista me remete a outro medo que tenho: de ser preso em um
lugar sem que ninguém possa ouvir meus gritos de socorro.</span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">Em “Onde está você, coração?”, a protagonista tem
um fetiche por ouvir corações doentes e encontra inclusive uma rede na internet
composta por pessoas com a mesma fantasia. Já em “Carne”, fãs de um roqueiro,
agindo como as Mênades da mitologia grega, levam à risca as suas letras, numa
espécie de culto depois da morte do ídolo. “Nem aniversários nem batizados” tem
como protagonista um cinegrafista que recebe uma solicitação de trabalho muito
estranha: filmar as possessões demoníacas de uma jovem.</span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">“Garotos perdidos” é um conto que foi mais
tarde ampliado, dando origem a um romance curto. Lembra bastante a série televisiva
“Resurrection”, porém foi escrito anos antes. Relata casos em que crianças e
adolescentes desaparecidos e dados como mortos voltam com as mesmas
características de quando sumiram. Zumbis? Fantasmas? A referência à ditadura
argentina é notória, assim como no último conto, “Quando falávamos com os mortos”,
em que jovens brincam com o tabuleiro ouija, porém despertam não apenas
espíritos, mas também todo um passado nebuloso do país. </span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;">O conto “Os perigos de fumar na cama” lembra um
episódio parecido com o que aconteceu na vida de Clarice Lispector, que quase
morreu queimada ao dormir com o cigarro aceso, entorpecida com comprimidos para
dormir. Na história de Mariana Henríquez, a personagem faz furos com o cigarro
embaixo do lençol, querendo ver “um céu estrelado sobre sua cabeça”. Aqui o
suspense é a tônica, o leitor se angustia com a possibilidade de acontecer
algo.</span><span style="background: white; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Mariana Enríquez é para mim uma das melhores
escritoras que apareceram nos últimos tempos, ao lado de Samanta Schweblin.
Ambas são rainhas do medo e só poderiam ter vindo de onde vieram, do país que
tem a melhor literatura do mundo.</span></span><span style="background: white; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia;">Resenha adaptada, originalmente publicada como colaboração no blog do Gustavo Nogy no site do jornal Gazeta do Povo: </span></span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/gustavo-nogy/uma-escritora-que-da-medo/">https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/gustavo-nogy/uma-escritora-que-da-medo/</a></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="background: white; color: black; line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia;">Resenha de outro livro da escritora que escrevi para a Revista Amálgama: </span></span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2017/08/resenha-no-amalgama-sobre-mariana.html">https://cassionei.blogspot.com/2017/08/resenha-no-amalgama-sobre-mariana.html</a></span></span><span style="background-color: white; font-family: georgia;"><a href="https://cassionei.blogspot.com/2017/08/resenha-no-amalgama-sobre-mariana.html"> </a><span style="font-size: medium;"> </span></span></i></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-89633697067038665152023-07-22T10:37:00.003-03:002023-07-22T10:37:39.004-03:00Mil leituras<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizem_mQnWzHXWsleoXmh8DC_uR-2-R5c6B-ZbWP34OmycVuqFHIwdD6ua4nP91tf6O7Rr4WA-LfQiF2ufUHFu1PRm5BKPA0W1PixIuvQLBWVmUNcNagJ8knPtcmQt8sOXp0XTPLHCwdQKDiEWxGA0T-OHvrX4gNMVT_547swggQNrZ62biXlmV/s3744/mil%20placebos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3744" data-original-width="2640" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizem_mQnWzHXWsleoXmh8DC_uR-2-R5c6B-ZbWP34OmycVuqFHIwdD6ua4nP91tf6O7Rr4WA-LfQiF2ufUHFu1PRm5BKPA0W1PixIuvQLBWVmUNcNagJ8knPtcmQt8sOXp0XTPLHCwdQKDiEWxGA0T-OHvrX4gNMVT_547swggQNrZ62biXlmV/w283-h400/mil%20placebos.jpg" width="283" /></a></div><br /><p></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">por Cassionei Niches Petry<o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Sinto-me lisonjeado quando escritores
estreantes me enviam suas obras para leitura. O que veem num resenhista tão
obscuro, perdido no interior do Rio Grande do Sul? Nessas horas bate aquele
orgulho, mas também uma responsabilidade. O novo escritor quer ser lido e
talvez os grandes críticos e os resenhistas que têm espaço na grande mídia ou
em sites de literatura mais conceituados só têm tempo para autores já
conhecidos e para atender às médias e às grandes editoras. Críticos como eu, de
certa maneira, dão atenção aos ainda não totalmente conhecidos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">E é com grata surpresa que aportam
aqui na toca (minha biblioteca e local de escrita onde me escondo, introspectivo
e solitário) boas obras, como <i>Mil Placebos</i>, romance de estreia de
Matheus Borges, lançado pela editora Uboro Lopes em 2022. Egresso da cultuada
oficina literária de Luiz Antônio de Assis Brasil, em Porto Alegre, o autor tem
formação em audiovisual e é roteirista, por isso a ênfase na descrição de
cenários e o ritmo acelerado de um filme de ação que perpassam a narrativa.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O enredo é, num primeiro momento,
policial, uma história detetivesca. Assim nos parece no início. Os passos do
detetive são acompanhados pelo narrador protagonista que não sai do seu quarto,
introspectivo e solitário na frente do computador. Ele próprio vira,
supostamente, criminoso, e essa informação nos é antecipada nas primeiras
páginas: “É a minha história e, naturalmente, uma história humana. A história
de, dentre outras coisas, como matei um homem pela primeira vez”. Será mesmo? Podemos
acreditar no que diz? Antes disso, porém, o protagonista, do qual ficamos
sabendo apenas o <i>nickname</i> usado em fóruns na Internet, Eyeball Kid, vê
sua vida transformada quando fica sabendo da morte de sua paixão virtual, Jersey
Girl, que conheceu em um fórum e morava nos EUA, e depois recebe a notícia do
desaparecimento do moderador do mesmo fórum, Dot King. Coincidência?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A trama segue numa mistura de ficção
científica que lembra Philip K. Dick na abordagem de fármacos que distorcem a
realidade. O leitor entra na paranoia do narrador, visita seus pesadelos, os sonhos
no momento de vigília e viaja junto com ele no submundo virtual, na “deep” ou “dark
web”, não sei, pois desconheço a nomenclatura dessas profundezas. Sei que é um poço
sem fundo, perigoso e criminoso. No entanto, é o inglês J. G. Ballard, e sua
ficção especulativa que lida com a psicologia relacionada à tecnologia, a referência
maior de Matheus Borges, explícita na escolha de uma das epígrafes. Uma cena em
que um táxi cai no Arroio Dilúvio na capital gaúcha me fez lembrar de <i>Crash:
estranhos prazeres</i>, romance de Ballard que foi levado ao cinema por David
Cronemberg, outro artista que orbita na temática do estranho, do psicótico, da
paranoia, das doenças, das deficiências físicas e dos fetiches.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Um livro que nos leva à dúvida sobre
o que realmente aconteceu, com nós difíceis de desatar, que deixa uma sensação
de incompletude. Gosto disso. Vale ressaltar que o título, ao parafrasear <i>Mil
platôs, </i>Deleuze e Guattari, pode trazer outra camada para a discussão sobre
o romance, numa teia filosófica sobre o capitalismo (a indústria farmacêutica)
e a esquizofrenia (o protagonista é diagnosticado com “transtorno de
personalidade esquizoide”). Fica a sugestão para outro leitor-crítico. Termino
por aqui com a ideia de que os mil livros da minha biblioteca (acho que são bem
mais do que isso), são placebos que me ajudam a seguir a vida nesse mundo
caótico. Com este livro de Matheus Borges, agora são mil e um placebos nas minhas
estantes.<o:p></o:p></span></span></p></div><p><br /></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-500195528782394182023-07-15T10:41:00.000-03:002023-07-15T10:41:10.206-03:00Leitores premiados<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicXfTsKDOFBTZuTy5ihRHL4OzlEUTRsP70-Db3xKPJzOiQqJGb8I9l0-eazCR9aNCIWiUpMqLqv-YPXFZQ8YIu-rnbS2A42xFbZ9a5gy4TTg95okeC-1ouXWcP3UG9KCbl-H05dlf6J1sYme7CJx9UfZqXdWbXpL6HOU7RVNu5LcBBU7gjrVA3/s650/os-premios.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="433" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicXfTsKDOFBTZuTy5ihRHL4OzlEUTRsP70-Db3xKPJzOiQqJGb8I9l0-eazCR9aNCIWiUpMqLqv-YPXFZQ8YIu-rnbS2A42xFbZ9a5gy4TTg95okeC-1ouXWcP3UG9KCbl-H05dlf6J1sYme7CJx9UfZqXdWbXpL6HOU7RVNu5LcBBU7gjrVA3/s320/os-premios.jpg" width="213" /></a></div><p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: georgia;">por Cassionei Niches Petry, autor
de<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Desvarios<o:p></o:p></i></span></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: georgia;">entre quatro paredes, </span></span></i><span style="font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: georgia;">Editora
Bestiário</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Temos um jogo nesse primeiro romance de Julio Cortázar, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os prêmios</i> (que ganha nova tradução de
Ernani Ssó pela Companhia das Letras), assim como nos óbvios <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O jogo da amarelinha</i> (lógico que o
título original<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, Rayuela</i>, é bem
melhor, mas não temos um equivalente em português: “sapata” seria pior) e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Final do jogo</i>. Jogo no sentido literal,
mas também no simbólico. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Um grupo de argentinos é sorteado, numa estranha loteria, para
uma viagem em um cruzeiro. Os dezoito personagens, de diferentes idades e
classes sociais, sabem muito pouco sobre o prêmio, nem mesmo o destino que o
navio seguirá. Intercalando o foco narrativo nos diferentes personagens,
ficamos sabendo aos poucos sobre suas vidas, assim como o verdadeiro caráter de
cada um começa a ser revelado e as divisões de opinião aparecem, na medida em
que outro mistério precisa ser solucionado: por que lhes foi vedado conhecer a
outra metade da embarcação, onde fica a popa? O que os tripulantes estariam
escondendo no outro lado? O que seria uma viagem prazerosa, que faria os
sorteados esquecerem os problemas cotidianos, vira uma investigação com tintas
de suspense, até se tornar um pesadelo para todos os envolvidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Há muitas camadas de leitura no romance. Embora o próprio
Cortázar tenha dito em uma palestra que sua primeira narrativa longa havia sido
apenas um “exercício de estilo” e um “divertimento”, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os prêmios </i>é rico em simbologias. Podemos pensar no Malcolm, nome
do navio, como uma representação da Argentina, com seus conflitos de classe e
polarização política. “O país está muito bem representado”, afirma um
personagem sobre seus companheiros de bordo. No âmbito artístico, o navio é uma
metáfora da própria escrita. O escritor muitas vezes não sabe que rumo terá sua
obra e só o descobre depois que criou os personagens e delineou seus caracteres,
assim como há zonas vedadas ao autor, brancos no enredo que ele não consegue
acessar e o bom seria realmente ele não ultrapassar esse limite. Se o faz, as
consequências podem ser graves. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Uma das referências de Cortázar para os pontos de vista
cruzados no enredo foi um brasileiro, pelo menos é o que deixa entender a
menção desse escritor na fala de um personagem: “Como? Não se lê quando se
estuda? Sim, claro que se lê, mas apenas livros didáticos ou anotações. Não o
que se chama um livro, como um romance de Somerset Maughan ou de Erico
Verissimo”. Vale dizer que o escritor gaúcho escreveu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Caminhos cruzados </i>e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O resto é
silêncio </i>com a técnica do ponto e contraponto, inspirado em Aldous Huxley.
Ou estaria Cortázar ironizando os escritores de sucesso?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Há quem diga que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os
prêmios</i> é um romance menor de Julio Cortázar. Dizer isso, porém, não
desmerece a obra, só reafirma que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Jogo
da amarelinha</i> e a maioria dos seus contos são tão superiores em qualidade literária
que nem ele mesmo conseguiu repetir o feito. O romance (que é anterior,
diga-se, à sua obra-prima) é só mais uma das peças do grande jogo cortazariano
que o autor e leitor manipulam e disputam para ver quem sai vencedor. O leitor,
mesmo perdendo, é quem ganha o prêmio.<o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-27431927830663374962023-07-13T11:50:00.003-03:002023-07-22T09:18:40.857-03:00Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nas redes sociais<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhMc4AJydQFRYkSMoTe1PXi8IWjfNpdrJeWmaphi6XKWwcwCXxMjyJ9HNEUzfEs9ZNRnY1Ilf2QZU0CB4_SaVtWeE02ITE0YrZQGDKUbPWYBjGt6XKOPBlKalNeM2n2V1tENXPLFg4wKS1_C1R3tIzg9yxDwRs93hDRHl8PYfT8sY40QtKb41B/s2048/elis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1690" data-original-width="2048" height="330" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhMc4AJydQFRYkSMoTe1PXi8IWjfNpdrJeWmaphi6XKWwcwCXxMjyJ9HNEUzfEs9ZNRnY1Ilf2QZU0CB4_SaVtWeE02ITE0YrZQGDKUbPWYBjGt6XKOPBlKalNeM2n2V1tENXPLFg4wKS1_C1R3tIzg9yxDwRs93hDRHl8PYfT8sY40QtKb41B/w400-h330/elis.jpg" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">(O texto foi publicado no dia 22/07/20023, no jornal Gazeta do Sul.)</div><br /><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /><span style="font-size: large;">(por Cassionei Niches Petry)</span></i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p> </o:p></b>“É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”
é um verso, é uma letra de música, é poesia. Seu autor, um artista, era culto,
irônico, inventivo e um ser humano com todos seus defeitos e incoerências. Tenho
certo orgulho em dizer que ele viveu seus últimos dias na minha cidade. Como
todo artista, ele é idealizado por seus fãs e também por pretensos admiradores
que detém o monopólio de entendê-lo e têm certeza, mais do que a própria
família, do que ele pensaria hoje sobre determinado assunto.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A dona da voz que ajudou a imortalizar o verso também era
uma artista e um ser humano com todos os seus defeitos e incoerências. Dizia o
que queria e causava polêmica, não baixava a cabeça, criticava os que governavam
o país durante o auge de sua carreira. Tenho orgulho de dizer que é gaúcha como
eu. Como todo artista, é idealizada por seus fãs e também por pretensos
admiradores que detém o poder de entendê-la e têm certeza, mais do que a
própria família, do que ela pensaria hoje sobre determinado assunto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Pois esses especialistas em tudo nas redes sociais, ajudados
por gente inteligente e culta que, como todo ser humano, é incoerente, critica
uma propaganda de uma marca de carros por ter usado a música de Belchior e a
voz e a imagem (através da IA) de Elis Regina, sendo que eles eram contra o
capitalismo, a ditadura e a opressão que a empresa apoiou. Ao que parece, essas
pessoas andam em automóveis específicos, imaculados, de marcas que não são do império
capitalista americano ou que não tiveram ligações com o fascismo na Itália ou
apoiaram o nazismo. Jamais andaram em um Fusca, um Monza, um Uno, por exemplo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Outro ponto é justamente a idealização de artistas,
principalmente os já falecidos. Quando lemos sobre a vida de quase todos eles,
nos damos conta que muitas vezes suas obras não representam o que criam ou
interpretam. Toda a arte é ficção, não é real, embora possamos, como
apreciadores, interpretá-la de várias formas. “Como nossos pais” pode ser uma
crítica a uma geração, como também pode ser uma crítica ao “vil metal”, embora
compositor e cantora lucraram muito com a canção, assim como seus herdeiros,
que aprovaram sua utilização no comercial e até participaram, no caso Maria
Rita, filha da cantora. Ah, esses artistas não recusavam se apresentar numa
emissora de televisão que apoiou a ditadura e também faz tudo pelo “vil metal”!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A letra da música pode ser uma crítica a ”você que ama o
passado”, aos chatos da internet que ainda são e vivem “como nossos pais”, que
acham que ainda “somos jovens” e que “nossos ídolos ainda são os mesmos”. Mas “as
aparências não enganam, não”. Os ídolos continuam “contando os seus metais”.</span><o:p></o:p></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13817266.post-28295167859173702332023-07-01T11:19:00.001-03:002023-07-01T11:19:38.775-03:00Filhotes dos ratos<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTybJdjMdavL2wWCuTI7mmP3AudyQigd8nImXvpCt86gO_QAzgaJd7qSPkPkvWJ6KY1wsd0np5vOkCR5cnflRWNO4JuHuCJWgioDhLXIHUR8Z5TyZt102EwO3IPICElNTifYZrUqDOXU6RUKn_enZERZfpy9-SHV7d_Q83yel-N8aw_qOAiNOm/s3480/IMG_20230701_103601540_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2464" data-original-width="3480" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTybJdjMdavL2wWCuTI7mmP3AudyQigd8nImXvpCt86gO_QAzgaJd7qSPkPkvWJ6KY1wsd0np5vOkCR5cnflRWNO4JuHuCJWgioDhLXIHUR8Z5TyZt102EwO3IPICElNTifYZrUqDOXU6RUKn_enZERZfpy9-SHV7d_Q83yel-N8aw_qOAiNOm/w400-h284/IMG_20230701_103601540_2.jpg" width="400" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um pobre homem</i></b>, de 1927, é o primeiro livro de Dyonelio
Machado, que viria a ser conhecido pela segunda obra, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os ratos, </i>de 1935. Os contos reunidos no volume já apontavam os
caminhos que o romancista seguiria: desvalidos, prostitutas, funcionários
públicos, loucos, escritores frustrados e outras figuras do cotidiano das
cidades vivendo os percalços da vida e seus impasses existenciais, quase sempre
com a sombra da morte os perseguindo. Aliás, o primeiro conto abre com uma
morte: “Acabo de enterrar o meu velho amigo Sanches”, diz o narrador, para quem
o falecido fora “um dos raros homens interessantes deste hemisfério”, considerado
louco devido a sua obsessão pela língua latina. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A melancolia também é algo que atravessa as personagens, inclusive
intitulando um dos contos, embora as narrativas tragam certo tom de humor e
ironia, como apontou o crítico José Geraldo Couto. Segundo Moisés Vellinho, em
um ensaio de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Letras da província, </i>essa
melancolia veio do ambiente da infância do escritor em sua cidade natal,
Quaraí, no Rio Grande do Sul. É justamente sobre essa fase da vida o conto mais
belo do livro, “Ronda das gotas” (que seria o primeiro capítulo de um romance
por anos inédito), em que uma menina observa da janela de casa as gotas da
chuva deslizando nos fios de luz da rua, tendo, a partir disso, sua primeira
dúvida metafísica: “Aproveitavam um declive do fio, doce e curvo como um seio,
e precipitavam-se, velozes, como se brincassem ‘de pegar’. [...] Superior ao
prazer que lhe dava a passagem ininterrupta das gotas: era descobrir-lhes a
origem!” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em vários contos aparece um “pobre homem”, como nos versos
de um poema de Sylvino Guimarães, personagem de “Caso singular”: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O pobre homem que crê ou num deus ou num
mito</i>”. Em “O Sr. Ferreira”: “Um homem pobre, simplesmente, o ar simpático
do funcionário público que matou uma a uma todas as ilusões no serviço do
estado e que empobreceu serenamente e sofreu com método [...]”. Confesso que me
identifico com o personagem, pelo menos nesse ponto. E, claro, há o pobre homem
do último conto, o que dá título ao livro, um sujeito que perdeu a mãe de sua
filha no parto e depois a própria filha, que vai para outra cidade e se torna prostituta.
Quando, doente, ela volta para o lar, o homem não cuida dela, preocupado com o
trator novo para sua plantação: “A história desse pobre homem era, a um tempo,
um drama de família e um caso de negócio”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Há ainda uma curiosa história de um prefeito que extinguiu o
cemitério da cidade, do prisioneiro de guerra que foi executado sem receber
nenhum tiro, de um casal que resolve cometer suicídio, “naquele fim trivial das
tragédias de amor”. São 16 contos na segunda edição, de 1995, já esgotada, da Ática,
que tenho em mãos, um a menos do que a primeira edição, pois um conto foi
retirado pelo próprio autor para edições futuras, embora retorne na edição mais
recente e disponível, de 2017, da Editora Siglaviva, comemorativa, trazendo
ainda outros contos esparsos de Dyonélio Machado e uma considerável fortuna
crítica sobre o livro. Narrativas curtas e cenas do cotidiano que prenunciavam
a história de um sujeito que precisa, num espaço de 24 horas, conseguir dinheiro
para pagar o leite do filho e se livrar de ratos na madrugada. Mas aí é tema
para outro texto.</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">(Cassionei Niches Petry)</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></p>Cassionei Petryhttp://www.blogger.com/profile/01933597279606830618noreply@blogger.com0