Uma decepção
Além do livro citado, Lygia Fagundes Telles também proibiu
que fossem reeditados Praia viva (1944)
e O cacto vermelho (1949), pois são,
segundo ela, “obras juvenis e seria perda de tempo lê-las”. Histórias de desencontro (1958) e O jardim selvagem (1965) também não
foram reeditados e somente alguns contos apareceram em coletâneas posteriores,
numa sucessão de títulos que confunde o leitor. Embora respeite a decisão da
escritora, não a aprovo porque priva seus admiradores de conhecer toda a obra,
sua evolução e, porque não dizer, a possibilidade de perceber que mesmo um
conto ruim da Lygia Fagundes Telles merece ser mais lido do que contos de “fenômenos”
fabricados por agências e editoras, inclusive a própria Companhia das Letras
(vide o caso do incensado Geovani Martins).
Cheguei um dia a perguntar numa das redes sociais da editora
se não fariam uma edição dos contos de Lygia semelhante a que fizeram com a obra
de Caio Fernando Abreu. Responderam que não estava nos planos. Quando anunciaram
Os contos como se fosse uma edição
com todos os relatos, criei uma expectativa muito grande, assim como deve ter
acontecido com muitos leitores, e pensei que haviam atendido a meu pedido.
Mas não. Os livros da coletânea são todos os editados pela própria
Companhia das Letras, desde Antes do
baile verde (de 1970, mas com alguns contos de coletâneas anteriores) até O coração ardente. Este último, lançado
em 2012, pode parecer, para um leitor desavisado, um livro de contos novos de
Lygia, mas todos são na verdade de livros dos anos 50 e 60 que não foram
reeditados. Nem mesmo o belo posfácio de Walnice Nogueira Galvão explica isso.
Aliás, é o único texto crítico em uma importante publicação como essa.
Uma edição, portanto, que acrescenta muito pouco à obra da
autora. É apenas uma reunião de alguns livros que ainda estão em catálogo somando-se
a alguns contos esparsos. O que poderia ter sido uma bela homenagem em vida
para nossa grande escritora, torna-se apenas mais um título na sua bibliografia.
Merece ainda mais do que isso.
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