A tragédia da educação
Hoje é comum o tal “lugar de fala” para tratar de assuntos delicados na nossa sociedade, como o racismo, por exemplo. Porém, a expressão parece não servir no que diz respeito à educação. Nesse tema, todo mundo apita, todo mundo faz críticas, todo mundo tem opinião sobre o que se deve ou não ensinar, todo mundo diz que a educação deve mudar e todo mundo aponta soluções que na prática estão longe de resolver os problemas.
Todo mundo pode opinar sobre a educação. Todo mundo, menos o professor. E quando digo professor, digo aquele que está na sala de aula todos os dias, e quando digo na sala de aula, digo na sala de aula da educação básica, não da faculdade, não em gabinetes, não em cargos ou postos de poder. O professor, a professora, o “profe”, a “profe”, o “sor”, a “sora”, aqueles que sujam as mãos com o giz ou com a tinta do canetão. Esses não podem falar, mas sim se calar e aceitar, afinal, ordens são ordens. Atenção para o prazo para enviar as planilhas e relatórios, caros colegas!
Acho que tenho o chamado “lugar de fala” para escrever sobre educação. São quase 20 anos de magistério, dando aula para alunos desde o 6º ano do fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, passando pelo EJA, antigamente chamado de supletivo, na rede pública e na rede particular, lecionando português, literatura e língua espanhola, que é minha formação, mas também filosofia, sociologia, ensino religioso, educação artística, história, seminário integrado (disciplina já extinta). Já fui elogiado como professor, também fui duramente criticado (demitido de uma escola particular por “não servir”, “não dar pra coisa”), já dei palestras em escolas como escritor. Ah, fiz mestrado, mas que parece não ter relevância na escola pública.
Enfim, relaciono toda essa experiência para dizer que sei do que estou falando quando falo sobre educação e por isso fiquei feliz com a repercussão do último texto sobre a nossa insatisfação quanto ao Novo Ensino Médio que escrevi para este espaço. Foram muitos compartilhamentos e comentários de apoio nas redes que são quantificados pelos marcadores, mas são incalculáveis os compartilhamentos nos grupos do aplicativo WhatsApp, sem contar também a leitura e debates em muitas salas de professores. Só demonstra que estamos preocupados, porém ainda não estamos sendo ouvidos, afinal não houve reportagens que fizessem contraponto aos defensores desse Frankenstein que estão nos impondo, tirando o artigo que escrevi.
Como se não bastasse, o escândalo do MEC vem acrescentar mais um triste capítulo à novela que virou a educação, cujo final tem tudo para ser trágico, quase uma tragédia grega. “Ai de nós! Que destino cruel!” (Desce o pano.)
Cassionei Niches Petry –professor
Gazeta do Sul, 29/03/2022
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