Novo Ensino Médio: bom para quem?



 

Há anos fala-se em mudar a educação. Há anos fala-se em melhorar a educação. Há anos ela vem mudando. Há anos vem piorando. Quem está em sala de aula nas últimas décadas é cobaia de experiências que estão destruindo o que levou tempo para ser construído. Acho que tenho o chamado “lugar de fala” para abordar o assunto, afinal, sou professor e vivenciei muitas propostas, todas inúteis.

Em edição recente deste jornal, foram entrevistadas pessoas que relataram pontos positivos do Novo Ensino Médio. Todas, em princípio, conhecem o assunto e a nossa realidade. Por isso, talvez, suas falas denotam uma gravidade. Grave porque defendem algo que a maioria dos professores desaprova. E elas sabem o que seus pares pensam. Grave porque põe no lixo a formação do professor. Grave porque a mudança faz o professor lecionar algo que não sente prazer em ensinar, como disciplinas inventadas em gabinetes, como o tal de “Projeto de vida”. Sem prazer, o trabalho se torna ruim e os alunos são os prejudicados. O professor, por sua vez, se sente desprestigiado, desvalorizado, desmotivado. Como um professor desmotivado vai motivar alunos, já que a base da mudança é justamente, dizem, motivá-lo?

O que se vê nas salas de professores nesses primeiros dias de aula é um cansaço, desânimo, um ar de tristeza, às vezes de velório, que cede lugar às risadas quando um colega mais bem-humorado brinca com sua própria situação. Como se diz por aí, estamos rindo, mas de nervosos. Professores perdem carga horária em uma escola, precisam se desdobrar em duas, três, quatro, para dar conta, isso quando conseguem mais aulas. Outros apenas têm que se contentar com o corte em seus vencimentos, quando são contratados, ou perdem a convocação, quando concursados.

E os alunos? Mais perdidos ainda do que os professores, obviamente, pois não sabemos como orientá-los, também questionam essas mudanças: “como serão os vestibulares, o Enem, as avaliações externas? Não sei que itinerário vou escolher, pois nem sei ainda que carreira quero seguir”, nos relatam.

Perguntamos, nós, professores, e tenho certeza de que represento a maioria: essa mudança é boa para quem? Para nós, não é. Para os alunos, muito menos. Para os gestores parece ótimo, afinal demonstram estar botando a mão na massa, mostram estar fazendo algo de útil para a educação, se vangloriam por estar pensando no futuro, antenados com os novos tempos e tal. Estão numa bolha, porém.

Bolha por bolha, prefiro a da sala dos professores. Ali sabemos o que passamos, ouvimos uns aos outros, nos indignamos. Pena que ninguém quer saber o que pensamos.

Cassionei Niches Petry –professor


 

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