Grande educação: veredas
Gazeta do Sul, 02/03/2023
A cada início de ano letivo, se renovam neste amargo
professor expectativas de que tudo será diferente. Coitado, que ingênuo, deve
alguém estar pensando. Nada muda, na verdade. Há um eterno retorno do mesmo,
como diria Nietzsche. E quando há mudanças, sempre parece que são para piorar.
O professor, porém, é um teimoso. Se não fosse essa teimosia, nosso país já
teria afundado há mais tempo.
Nesta época, eu ainda sou um pouco romântico, no sentido de
idealista, com relação ao ensino. Todo o choro (somo todos “chorões
profissionais”?, pergunta Leandro Karnal, em seu livro Conversas com um jovem professor) fica para o final de ano,
lamentando o fato sermos forçados a dar chances e mais chances aos alunos que
não as merecem. Agora é hora de planejar aulas instigantes e imaginar que
haverá estudantes sedentos por aprender e que desligarão os celulares quando
não forem necessários como recurso didático. Não custa imaginar, sonhar. Ser
romântico é ser sonhador. Deixo o realista, o pessimista e o cético em modo de
espera. Logo, logo eles serão despertados.
Rubem Alves, que leio quando busco ser esse professor
sonhador, escreve, em Conversas com quem
gosta de ensinar, que devemos ser educadores e não professores: “...
professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor”, já o
educador, “ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um
grande amor, de uma grande esperança”. Anotei à margem do livro: “discordo”.
Hoje, porém, pelo menos nos próximos dias, concordo com a afirmação. Tentarei
ser amoroso com meus alunos e terei esperanças de ser correspondido.
Lógico que, quanto mais esperanças, maiores são as
decepções, quanto mais voamos como Ícaro, o sol queima as asas de cera e o
tombo é maior. Dói mais. Os professores, ou educadores, no entanto, somos
incorrigíveis. Persistimos, lutamos, brigamos por uma educação melhor e somente
nós sabemos, pelo contato diário com os jovens e crianças, o que é o melhor.
Isso não é uma opinião arrogante, é fato. Entretanto, são as decisões, em
grande parte equivocadas, tomadas nos gabinetes que prevalecem. E acatamos,
como bons profissionais e respeitadores da hierarquia. Sobram, porém, brechas
onde podemos fazer algo pelos jovens. E aí, somos imbatíveis.
Vale lembrar que também o “ Mestre aprende com o discípulo e
é modificado por essa inter-relação no que se converte de forma ideal em um
processo de intercâmbio”, como escreveu George Steiner, em Lições dos Mestres. Em outras palavras, dessa vez de Guimarães
Rosa, em Grande sertão: veredas: “Mestre
não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. Sigamos, portanto,
neste grande sertão que é a educação, rumo aos caminhos que se convergem.
Cassionei Niches Petry –
professor e escritor
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