Meu texto na Gazeta do Sul de hoje

 


Livros, “shelfies”, ostentação


Já ouviram falar das “shelfies”? São uma variante das “selfies”, só que as fotos são de estantes de livros. Já sou há um bom tempo adepto das “shelfies”, postando nas redes sociais a evolução das prateleiras da minha ainda pequena (para os meus objetivos) biblioteca, uma espécie de ostentação, outra palavrinha que está em moda. Pode ser pelo simples exercício de narcisismo ou para incentivar outros a também formarem a sua biblioteca. Não sei qual o meu caso, mas prefiro compartilhar fotos dos livros que tenho a postar fotos do que estou comendo (se bem que já compartilhei fotografias minhas assando um saboroso churrasco ou de um belo prato de arroz com linguiça). Apesar de estar acima do peso, devoro mais livros do que comida.

Por outro lado, surge a questão: por que tantos livros? A pergunta comum que ouço é se já os li todos. Lógico que não, porém o simples fato de tê-los à disposição para ler a hora que quero, folhear e cheirar de vez em quando, consultar um trecho, correr os dedos sobre as lombadas, apreciar sua disposição nas estantes, etc., justifica a construção de uma biblioteca particular. Ora, não pergunto para ninguém por que a pessoa assina várias plataformas de “streamings” se não pode assistir a todos os conteúdos!

Não façam essa pergunta a um leitor como eu. É uma questão que não merece ser respondida.

Além das quatro estantes abarrotadas de livros que tenho no meu escritório (que chamo às vezes de caverna, outras vezes de toca, outras de “bunker” ou simplesmente meu quartinho), tenho talvez milhares de livros em diferentes formatos digitais que abarrotam arquivos no meu computador. Muitos foram comprados, outros presenteados e alguns baixados de diferentes sites na internet, inclusive para apreciação e depois a compra na versão impressa tradicional. Boa parte eu não teria condição de ler, principalmente as edições estrangeiras, que se tornam muito caras para adquirir.

Pois a cada mês a quantidade de livros vai aumentando, novos lançamentos e relançamentos vão surgindo, novos títulos aparecem em sites de livros usados, novos e-books aparecem para download e ainda temos a Feira do Livro com seus balaios. A necessidade de comprar mais estantes e aumentar a memória do computador cresce na mesma proporção.

Tantos livros para ler e tão pouco tempo para fazê-lo. E ainda insisto em escrever crônicas como esta ou então livros que não serão publicados. Não seria melhor parar de escrever para somente ler?


Cassionei Niches Petry – escritor e professor


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