Minha crônica no jornal de hoje: Uma proposta indecorosa

 



Minha crônica no jornal Gazeta do Sul de hoje:


Uma proposta indecorosa

 Escrevo esta crônica num domingo à tarde, ouvindo os latidos dos cachorros e, por incrível que pareça, nenhuma música, nem mesmo aqui em casa, se soma ao barulho dos animais. Está tudo tranquilo e monótono também. Acabei de ler os jornais dominicais pela internet e ia começar a leitura de um livro de contos quando me veio na cabeça escrever justamente sobre os dias da semana e fazer uma proposta de mudança para os governantes.

Domingo significa “dia do senhor” ou “dia do Sol”. Sábado, meu dia preferido, é o “dia do descanso”. Em português, os dias da semana vão de segunda à sexta-feira, sendo que feira significa, vejam só, “dia livre”, porém o livre se refere aqui às desobrigações religiosas segundo o calendário litúrgico da Igreja Católica. No espanhol e em outras línguas, os nomes dos dias da semana estão relacionados aos astros visíveis no céu na Antiguidade, os quais, por sua vez, se referem aos deuses da mitologia romana, ou aos deuses nórdicos, no caso da língua inglesa, considerados pagãos pelos cristãos que conseguiram, por isso, mudar a nomenclatura. “Viernes”, por exemplo, é sexta-feira no mundo hispânico, e lembra Vênus, a deusa do amor e do sexo (SEXta é só coincidência?), enquanto que no inglês é “Friday”, relativo à deusa nórdica do amor, Freya.

No Brasil, poderíamos utilizar como denominações para os dias da semana os nomes dos santos católicos ou dos orixás das religiões de matriz africana. Os evangélicos, no entanto, não iriam gostar nada disso, assim como os ateus, em que me incluo, ou os agnósticos, que desejam um estado laico e já estão fartos de tudo girar em torno das religiões.

Tendo em vista as particularidades de cada dia, poderíamos, quem sabe, intitulá-los de outras formas. Aí vai uma proposta indecorosa e despretensiosa, mas que tem tudo a ver com o brasileiro comum, que adora também a língua dos “States”: o primeiro dia da semana, que na verdade é o segundo, segunda-feira, poderia se chamar “Se arrasta day”, pois nos arrastamos para sair de casa e trabalhar, sendo que o dia ainda se arrasta interminavelmente. O dia seguinte poderia ser “É só o começo day”, lembrando que há muitos e intermináveis dias para chegar o “finde”. Quarta-feira seria “Copo meio cheio meio vazio day”, por motivos óbvios. Quinta-feira é o “Tá quase day”. Para sexta-feira, é só institucionalizar o “sextou day”, já na boca do povo. Sábado, claro, é o “Cerveja day”. Domingo, por conseguinte, é o “Ressaca day”.

E você leitor, tem alguma sugestão para mudar as denominações dos dias da semana e torná-los um pouco menos chatos? Cartas e e-mails para o jornal.

Cassionei Niches Petry – professor e escritor


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