O Canto do Cisne de Paul Auster?
Baumgartner
(Faber & Faber, 172 páginas) é a história de um professor e autor de livros
sobre filosofia, Sy ou ST Baumgartner, que se aposentou há pouco tempo e perdeu
a esposa há quase 10 anos. No início, o encontramos sozinho (não tem filhos) escrevendo
sobre os pseudônimos de Kierkegaard em seu estúdio, a que também chama de “cova”
ou “toca”, quando lembra que precisa descer ao primeiro andar e buscar um livro
para uma citação e também que precisa ligar para sua irmã. Descobre que esqueceu
uma panela no fogo e queima a mão ao tentar pegá-la. Depois, ao descer ao porão
para auxiliar o funcionário que faz a medição de luz, cai da escada e machuca o
joelho.
Esquecimento, dor, solidão.
Temas que perpassam o enredo e provocam as recordações do personagem, principalmente
sobre a esposa, Anna, que era tradutora e escrevia poesias. Perdê-la, depois de
tantos anos de casado, faz com que sinta como se um membro seu tivesse sido amputado,
embora ele perceba a presença dela em muitos momentos, o que o faz estudar “a
síndrome do membro fantasma, que ele passou a chamar de síndrome da pessoa
fantasma à medida que as congruências metafóricas se tornavam cada vez mais aparentes
para ele”.
Baumgartner já tem 71
anos e poucas perspectivas de viver. Uma das últimas coisas que o mantêm são as
memórias, lembradas por eles ou escritas por Anna, cujos manuscritos encontra
em suas gavetas e são reproduzidos no romance. Em determinado momento, o protagonista
se questiona: “por que alguns momentos fugazes e aleatórios
persistem na memória enquanto outros, supostamente mais importantes,
desaparecem para sempre?” Poderíamos responder, no que parece óbvio: é porque
temos que esquecer. Esquecer também é viver.
Paul Auster vem
sofrendo bastante na sua vida pessoal: no ano passado, foi diagnosticado com câncer,
e segundo sua esposa, a também escritora Siri Hustvedt, continua lutando contra
a doença na “cancerlância”. Também em 2022, morreu seu filho, de overdose,
depois de ter sido acusado de matar a filha recém-nascida. Consta que Baumgartner
foi escrito um pouco antes dessas tragédias. Mesmo assim, é um romance extremamente
melancólico e, parece, aponta uma despedida, pelo menos literária do escritor,
embora o final em aberto nos faça pensar o contrário. Esperamos que, como em
muito de seus enredos, o acaso promova uma reviravolta em sua vida.
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