Baixo retrato (descaradamente plagiando Leon Eliachar e Juca Chaves)


Sou Cassionei Niches Petry, 45 anos (com corpinho de 44 e meio), trabalho como professor, pois nenhuma outra profissão me aceitou. Cabelos: ainda tenho, começando a rarear e clarear. Altura: alguma coisa entre 1,60m e 1,69m. Peso: entre 1kg e 105kg. Uso óculos de lentes grossas (que aumentam consideravelmente os números da balança), tenho miopia e um pouco de astigmatismo, os graus eu não lembro e não encontro a receita do oftalmologista, que ainda por cima escreveu com letra pequena, sacaneando o paciente. Quando nasci, a família morava num porão de um CTG, portanto vim ao mundo com o peso da tradição gaúcha sobre mim, mas bah!, logo me livrei, tchê!, e hoje sou um cidadão do mundo que nunca saiu da sua cidade, Santa Cruz do Sul, cidade inapropriada para um ateu viver. Tenho uma união estável com a mulher que me incentivou a continuar estudando e por isso me livrou de ser um rapper sem sucesso e ainda, o melhor, me deu uma filha, por sorte mais bonita e inteligente do que o pai.

Prato predileto: prato fundo, de preferência com bastante carne de churrasco. Gosto de ler livros, ouvir música lendo livros, assistir à TV lendo livros, comer lendo livros e navegar na internet em busca de livros. Escrevo algumas coisas que chamei de contos e romances e algumas pessoas acreditam que são mesmo, chegando a dizer que sou escritor e, como sou do contra, digo modestamente, “não, não, que é isso, sou só um escrevinhador”.

Queria era escrever crônicas de humor, como as de Luis Fernando Verissimo, Millôr Fernandes, Stanislaw Ponte Preta e Leon Eliachar, mas como não tenho esse talento, pratico o plágio descarado desses autores, sem a mesma qualidade, é claro (é agora que o leitor comenta, “não, que é isso, você tem muito talento”). Na política, sou um “em cima do muro” assumido, vendo os dois lados discutindo e jogando pedras uns nos outros, mas quem é atingido sou eu, por não ter lado (aliás, como sou barrigudo feito uma bola, tenho dois lados, o dentro e o de fora). Sou uma metamorfose ambulante que muda de opinião a todo o instante, mas não deixo de opinar democraticamente sobre as coisas relevantes do país, como por exemplo, se se deve pôr o feijão por baixo ou por cima do arroz e afirmo: é lógico que é por baixo, quem pensa diferente deve ser fuzilado ou enforcado.

No futebol, sou colorado não praticante, já assisti masoquistamente a todos os jogos do Internacional, mas hoje é mais emocionante assistir na TV de madrugada aos pastores da Universal exorcizando demônios. Já disse que sou ateu, mas tenho santos de devoção: São Kafka, São Cortázar e São Machado de Assis (este último é a prova de que santo de casa não faz milagre e que nascer no Brasil é uma merda). Tenho uma visão trágica e pessimista da vida, acredito que o ser humano não tem solução (inclusive eu, claro, pois sou um ser humano, até alguém me cortar e ver os fios e os mecanismos internos que me mantêm aqui), que não existe esperança (pelo menos não para nós, como escreveu Kafka, ops, São Kafka, amém) e não acredito e nem quero que exista vida além da morte (imagina ter que me aguentar a mim mesmo durante toda a eternidade). Por último, e não menos importante, quero ser cremando quando morrer e que minhas cinzas sejam jogadas no vaso sanitário ou no lixo mesmo, mas se eu fosse enterrado gostaria que estivesse escrito na minha lápide:

AQUI JAZ CASSIONEI
LEU DURANTE TODA A VIDA,


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