Belchior em Santa Cruz do Sul: quem foi seu último mecenas?


Ainda cercados de mistérios, os últimos dias de Belchior aqui em Santa Cruz do Sul ganharam um registro distinto das versões divulgadas pela imprensa e pela conhecida biografia escrita por Jotabê Medeiros, editada pela Editora Todavia. Em "Viver é melhor que sonhar: os últimos caminhos de Belchior", lançado pela Sonora Editora em 2021, Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti esclarecem algumas informações que ficaram pendentes durante certo tempo, pelo menos publicamente, como por exemplo, o nome do empresário que emprestou uma casa para o cantor e sua esposa Edna. Nem mesmo Romar Beling, em resenha sobre o livro na Gazeta do Sul, revelou a informação.
Na verdade, o empresário, que não quis se identificar para a imprensa na época, abrigou Belchior num primeiro momento em sua própria mansão, num condomínio fechado, a pedido do jornalista e poeta Dogival Duarte. Foi nessa casa, aliás, que Belchior recebeu o cantor Zeca Baleiro, também por obra de Dogival. Aí veio outro fato que eu desconhecia e não consta na biografia escrita por Jotabê Medeiros: por causa dessa visita, Duarte se tornou persona non grata pelo casal e nem mesmo ficou sabendo da mudança do compositor para o endereço derradeiro.
Entrevistado pelos autores do livro, ficamos conhecendo quem foi o último mecenas de Belchior. Trata-se de Júlio César Schmidt. Quando li o nome, pensei: “peraí, eu conheço esse cara!” Fui fuçar na minha biblioteca e encontrei o livro de poemas "Inventário do imaginário", cujo autor é Júlio César Schmidt e a orelha é assinada pelo Dogival Duarte! As peças se encaixam.
Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti afirmam que Schmidt comprou outra casa especialmente para Belchior, bancou a reforma e ainda deixava com Edna um valor mensal para as despesas, mesmo depois de ele próprio passar por uma crise financeira. O que me dói particularmente é que, alguns meses antes de sua morte, visitei amigos que eram vizinhos do artista. Nem eles imaginavam que tinham um vizinho famoso. Se não pude conhecê-lo, escrevi um conto, ainda inédito, em que imagino esse encontro.
Resta-nos esperar o livro que Dogival Duarte está escrevendo sobre o amigo e ídolo a quem ajudou e também deu morada. Será mais um belo capítulo dessa misteriosa e “divina comédia humana”.
(Cassionei Niches Petry)

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