Escrevo, na Revista Sepé, sobre "Quatro marchas", de Rudinei Kopp
https://revistasepe.art.br/2024/12/11/quatro-marchas-de-rudinei-kopp/
Por Cassionei Niches Petry
O santa-cruzense Rudinei Kopp lançou este ano o seu quarto livro, por acaso (ou não) intitulado Quatro marchas (Editora Gazeta, 208 páginas), mais um bom artefato literário do autor que dialoga com algum tipo de arte. No seu primeiro romance, Rio dos dias, o protagonista é um pintor; na novela Oto e Isac, um marceneiro que faz arte em madeira; Contraforte, por sua vez, se passa num museu de artes. Desta vez, o cinema é a tônica, mais precisamente o documentário, lembrando que o autor também organiza um festival de cinema em Santa Cruz do Sul.
A cidade da Oktoberfest, com suas ruas de paralelepípedos que começam a ser asfaltadas, é o cenário da história que retrata a relação amorosa conturbada de Michele e Samuel. Ele, um roteirista, que não tem controle sobre o roteiro de sua própria vida; ela, uma lojista, que não consegue convencer o noivo a “comprar” suas emoções. No meio dos dois, Pedro, um funcionário público, que entra na loja de Michele para comprar um presente, mas acaba se “vendendo” aos encantos da dona. A quarta marcha é Fátima, uma ex-safrista de fumageira e ex-babá de Michele, que dá uma entrevista para um incerto filme de Samuel sobre os invisíveis funcionários das indústrias de tabaco, motor econômico da região. Em alguns momentos, há uma quinta marcha, o pai de Samuel, destinatário de cartas escritas pelo filho.
Marcha à ré? Temos. O enredo se passa durante os dois turnos das eleições de 2018, momento em que nosso país retrocedeu no âmbito democrático, quando “as baratas perderam o medo do sol”, como escreve Samuel em uma carta ao pai. O filho reacionário de Fátima, uma “pessoa de bem” com suspeitas de atos ilícitos, personifica esse momento de mudanças para pior. Felizmente, essa marcha da história foi temporariamente interrompida.
Rudinei Kopp é um nome que merece ser mais reconhecido na cena literária gaúcha, por isso escolhi seu livro como recomendação nesta edição de final de ano da Sepé. Um romance inventivo, polifônico, com capítulos curtos e uma boa história. Engate a primeira, leitor, e acelere. Mas respeite as leis.
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