3 parágrafos sobre Humberto Gessinger
Humberto Gessinger retoma, com o seu último álbum, a tradição que os “Engenheiros do Hawaii” sempre seguiram em sua trajetória, que era lançar, depois de 3 discos, um trabalho ao vivo com pelo menos duas músicas inéditas de estúdio. Trata-se, agora, de Revendo o que nunca foi visto, que chegou às plataformas de streaming um dia antes de seu show em Santa Cruz do Sul neste sábado, e também estará brevemente disponível em 3 mídias físicas: CD, LP e K7. Depois de deixar de usar o nome da banda, HG (como é chamado pelos fãs) lançou 3 trabalhos solos: Insular, Depois daquela hora e Quatro cantos de um mundo redondo, além de alguns singles nas plataformas digitais. O mais recente álbum, por sua vez, traz canções já conhecidas da banda, gravadas durante a turnê Acústicos Engenheiros do Hawaii. As novidades são as músicas “Paraibah”, em parceria com Chico César, e “Sem piada nem textão”.
As letras (a parte das canções que me sinto confortável para comentar) sempre foram um forte na carreira de Humberto Gessinger, que escreveu, inclusive, livros de crônicas, como Seis segundos de atenção e Mapas do acaso. Referências literárias e filosóficas, trocadilhos, aliterações, assonâncias e metáforas permeiam sua obra. A inédita “Sem piada nem textão”, que abre o disco, tem letra mais simples, como denota o título. Sem complexidade, mas sem ser simplória, também possui um paradoxo típico dos versos gessingerianos: “Nenhuma saudade do que não vivi”. Na música seguinte, “Paraibah”, o recurso do trocadilho fica evidente no título, representando a ponte artística entre o estado natal de Chico César e a terra de HG: “Bah! / Eu canto para a bolha estourar / Imagina a pampa nordestina, alucinação”.
Clássicos como “O papa é pop”, de cujos versos vem o nome do álbum, “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones”, “Piano Bar” e “Toda forma de poder”, são atrativos para os fãs, com novos arranjos e uma ou outra mudança nas letras, que às vezes pegam desprevenido quem tenta cantar junto com o ídolo nos shows. Constam também outras canções que fazem parte do repertório da banda depois da separação da formação mais conhecida, que tinha 3 integrantes (Augusto Licks e Carlos Maltz completavam o trio), e que talvez por isso não fizeram tanto sucesso. Destaco a música “3ª do plural”, que traz no título a obsessão de Gessinger com o número 3. Não por acaso, são 3 os parágrafos desta resenha.
(Cassionei Niches Petry é professor e escritor, autor de, entre outros, o romance Desvarios entre quatro paredes, Editora Bestiário.)
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