Meu texto sobre Erico Verissimo no Jornal Sarau
Neste mês que ora termina, no jornal literário Sarau, do Mauro Urich, publiquei um texto sobre O resto é silêncio, de Erico Verissimo.
Réquiem para Joana Karewska
O resto é silêncio é uma das obras mais subestimadas de Érico Veríssimo. Pelo menos, vejo poucas menções a esse ótimo romance, eclipsado por O tempo e o vento, Incidente em Antares ou Olhai os lírios do campo. O mote do livro talvez seja a causa: o suicidio de uma personagem presenciado por 7 pessoas diferentes na Porto Alegre dos anos 40. O tabu do ato de morte voluntária ainda é muito forte, até em pleno século XXI. A palavra suicídio, inclusive, chega a ser censurada por algumas plataformas da internet.
Joana Karewska é o nome da mulher que se joga do décimo andar de um prédio da capital gaúcha. Ela, porém, não é a protagonista. Não aparece nem mesmo na lista de personagens disposta no início do romance. Ela é apenas o elo que estabelece a ligação entre os outros personagens que têm suas vidas correndo quase que em paralelo. O que o fato representou para cada um deles? Emoção, comoção ou indiferença? Acontece que suas vidas continuam e são essas histórias pessoais que vão desfilando em capítulos que se alternam, no estilo “ponto e contraponto” difundido por Aldous Huxley, autor traduzido por Érico Veríssimo, que também utilizou o recurso em outro romance, Caminhos cruzados. Desde um desembargador aposentado, passando por um entregador de jornais, um advogado, um homem de negócios, um ex-tipógrafo, a mulher de um maestro de orquestra até chegar a um escritor, são classes sociais distintas retratadas, com seus problemas familiares, econômicos e de relacionamento.
Não me agrada, no entanto, o final um tanto quanto esperançoso, típico de outros romances de Érico Veríssimo. “As violas e os celos afirmavam com acento humano que ainda havia esperança de salvação”, reflete o personagem-escritor Tônio Santiago, um dos que presenciaram o suicídio e que a crítica vê como um alter-ego do autor. Mais adiante, afirma: “Era preciso vencer a ideia da morte e da derrota, acreditar na possibilidade da construção de um mundo de beleza e de bondade, apesar de toda a lama, de toda a miséria, de toda a dor”.
A visão trágica e pessimista que o simples leitor que vos escreve tem da vida não se coaduna com esse idealismo, assim como o próprio título do romance, oriundo de uma tragédia de Shakespeare, Hamlet, parece não combinar com isso. Mas, enfim, para usar uma expressão de outro pessimista, Machado de Assis, são “rabugens de pessimismo” deste resenhista.
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