O que escrever sobre este ano que termina?
O cursor pisca na
tela em branco esperando que eu decida sobre o que escrever. O cansaço do final
de ano, no entanto, e a cabeça que, confesso, não está concatenando as coisas
direito, não me permitem comentar sobre o que eu pretendia, o antes indefectível
balanço do ano. Deixo fluir o pensamento e mexo os dedos aleatoriamente,
esperando que algo baixe e qual um médium vou preenchendo o espaço com letras
que, talvez, formem alguma coisa legível.
Foi um ótimo ano, em
certo sentido, visto que concluí meu romance, defendi minha dissertação,
recebendo um conceito A e me tornei mestre em Letras (fato aliás que não muda
muito as coisas para o vivente, visto que hoje está muito fácil ser mestre, enquanto
demorei quase dez anos para ser um e, hoje, gente que recém se formou já está
ingressando no mestrado e logo empatará comigo), participei de uma antologia
que tem como um dos autores o Antonio Skármeta, passei a lecionar em uma escola
particular ligada à universidade em que me graduei e pós-graduei, vi um texto
ser publicado num livro didático de distribuição nacional, continuei com minha
coluna no jornal, o blog atingiu 150 mil visualizações, um texto meu foi
plagiado por inúmeros estudantes e professores nas escolas desse país, o que significa
que era bom, aumentei as estantes da minha biblioteca, comprei um carro, ultrapassei
a barreira dos 33 (só meus leitores atentos sabem o que isso significa) e minha
família vai muito bem, obrigado.
Mas o ano também foi
ruim, em certo sentido, pois meu romance não foi publicado, ser mestre em
Letras não mudou praticamente em nada a minha vida, ser publicado numa antologia
também não, dar aulas em escola particular apenas aumentou um pouco meu
salário, meu texto no livro didático foi esquecido (eu mesmo quase me esqueci
de citá-lo aqui, inclusive), minha coluna no jornal continua repercutindo muito
pouco (salvo quando o autor do livro resenhando compartilha o texto) e me
proporcionando apenas tapinha nas costas, o blog tem muitas visitas mas pouca
leitura, ninguém que utilizou meu texto em formaturas pelo país me agradeceu
nos comentários do blog pelo trabalho que tive em escrevê-lo, não tenho muito
tempo para ler os livros da minha biblioteca, meu carro dá problemas e despesas
(e odeio dirigir). Não bastasse tudo isso, estou sofrendo um processo por uma
opinião dada no facebook.
Foi bom, mas não
foi. Meu lado otimista sorri, meu lado pessimista bate com a cabeça na parede.
Meu lado otimista diz que as coisas estão melhorando aos poucos. Meu lado
pessimista está cansado de tapinhas nas costas. No fundo, no fundo, ainda me
considero um frustrado, me acho um gênio incompreendido (sei que não sou um
gênio, me enganaram na infância quando disseram que era um super dotado e eu
acreditei e no fundo ainda quero acreditar).
Ainda está aí,
leitor? Imaginei. Não vai saber que comprei um violão e que estou aprendendo a
tocá-lo. E que descobri que não tenho nenhuma habilidade para tanto.
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