Sísifo
1. Às vezes cansa existir. Cansa mesmo. No entanto,
existimos. Não há um benfeitor que nos esmague com a ponta dos seus dedos como
o faz Antoine Roquentin com uma mosca. “- Era um favor a se prestar a ela”, justifica-se
perante o amigo que tentou impedi-lo. Esta passagem faz parte do romance A náusea, de Jean-Paul Sartre, ficção
filosófica que discute justamente esse sentimento esquisito que é se saber no
mundo. Por isso leio, leio e leio. É o que me conforta. Aliás, me causa um desconforto
que me acalma. As inquietações provocadas pelas minhas leituras me conduzem, me
elevam, não me deixam desistir da existência. Cansa existir. Basta, entretanto,
descansar e começar tudo de novo, abrir um novo livro e empurrar a pedra até o
topo do morro que vejo daqui da porta da minha toca. Sei que ela vai descer
depois. Vai rolar de volta. Se não passar por cima de mim, tudo bem.
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