A arte, o artista, o público
Assistindo há pouco a este vídeo do Eddie Van Halen, uma
avalanche de reflexões vieram na minha cabeça, principalmente em relação ao
artista e ao apreciador de sua arte. Há muitos detalhes estéticos ali e não
foram postos em prática por acaso.
Penso primeiro no indivíduo que pratica sua arte na solidão
(no caso, um trecho solo em meio a um espetáculo feito por um coletivo de
músicos). Ele experimenta, realiza, se arrisca, cria, recria, faz referências, inclusive
com outros estilos, explora o instrumento ao limite, buscando sonoridades
distintas, inventando técnicas de tocá-lo, etc. E mais: os cabelos compridos
sobre o rosto, o figurino, as caretas, os pulos, as palhetas coladas na
guitarra (por sinal, construída por ele próprio), o cigarro aceso preso entre
as cordas soltando fumaça, a luz sobre o artista seguindo-o, iluminando-o ou,
sob outra perspectiva, emanando dele mesmo, tudo contribui para o efeito
estético. Estético, vale uma explicação, vem do grego aisthesis, significando sensação, sensibilidade. O alvo das
sensações, além do próprio artista que busca se satisfazer esteticamente também,
é o público que, num show, soma a sensação individual com os seus vizinhos, que
explodem num êxtase quando a arte consegue atingir a todos. O coletivo ruge,
grita, levanta as mãos, sua, bate cabeça, faz gestos, chora, enfim. Responde de
tal maneira ao artista que ele retribui se esmerando para fazer cada vez mais e
melhor, buscando o aplauso, a aprovação e, consequentemente, sua satisfação
pessoal.
Não gosto de ir a shows, cinema, teatro, sarau. Aprecio-os
de outra forma aqui no meu canto, na minha biblioteca, através dos meios proporcionados
pela internet. Não gosto dessa catarse coletiva, de ser influenciado pelo
outros, de muitas vezes ter que aplaudir algo de que não se gostou para não
ferir suscetibilidades ou ser aceito pelos demais. Porém acho lindo ver a
reação das pessoas pelo que o artista está fazendo, às vezes até quando não
gosto do que este faz. É uma prova de que a arte mexe com o indivíduo e, se ela
serve para alguma coisa é para isso, para tirar o sujeito de seu mundo,
elevá-lo intelectualmente ou, vá lá, espiritualmente, fazê-lo fugir da
realidade ou repensá-la.
Enfim, são devaneios de quem, no aconchego de seu canto
íntimo, se transportou para um tempo e lugar distante, investindo 10 minutos de
seu dia para apreciar uma obra de arte, o artista que a cria e o público que
reage a ela.
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