Homenagem ao Mestre



Escrevi na última coluna que nunca recebi dinheiro pelas resenhas literárias que escrevo. Entretanto, o meu mestre imaginário, Júlio Nogueira, que vive tranquilamente em uma chácara no interior de Rio Pardo e vez ou outra me puxa as orelhas, envia um e-mail me questionando a afirmação: “E os direitos autorais que recebeu pelas críticas suas reproduzidas em livros didáticos não contam?”.

O mestre tem razão. Dois textos meus já foram parar em materiais didáticos de grandes editoras. Um deles foi usado como exemplo de resenha crítica e de outro foi retirado um trecho em que conceituo o miniconto. Os dois livros forma destinados a alunos do Ensino Fundamental. Dessa empreitada, saíram uns extras que ajudaram a pagar algumas contas desse pobre professor estadual.

Os mestres servem também para isso. Além de serem bússolas que norteiam o discípulo sedento por conhecimento, ajudam-no a corrigir desvios de conduta, como a mentira. No caso do meu mestre imaginário (inspirado em Erasmo Rangel, mestre imaginário do saudoso escritor mineiro Autran Dourado), é uma mentira que me ajuda a mentir (literariamente falando), mas que também me auxilia na busca de uma verdade (se ela existir).

Por falar em mestre, um dos meus mestres (este bem real) encerrou suas atividades acadêmicas recentemente. Milhares de alunos passaram por suas mãos durante quase 50 anos de profissão e se tornaram professores, jornalistas, publicitários, etc. Acima de tudo, muitos se tornaram bons leitores. Elenor Schneider é um nome que é sinônimo de Letras aqui na região.

Não há quem não lembre dele quando se fala em leitura, produção textual e atividades literárias. Professor, chefe do Departamento de Letras, Pró-Reitor e também responsável pela equipe (da qual faço parte há mais de 10 anos) de avaliação das redações do vestibular na Unisc, incentivador da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, coordenador do Seminário Estadual de Língua Portuguesa e Literatura em Rio Pardo, entre tantas outras atividades (como as religiosas, na Paróquia Espírito Santo), fazem dele a maior figura das Letras na região, e uma das maiores do RS, quase uma lenda viva. Não por acaso, quando fiz parte da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, expus em uma reunião que me sentia constrangido em ser um membro da instituição e ele estar de fora. Com minha saída voluntária (agremiações não me atraem mais), a justiça se fez e o mestre assumiu a cadeira que lhe era de direito.

Elenor teve na minha trajetória intelectual um papel importante, pois além de ser meu professor, foi também meu orientador na monografia de conclusão de curso de graduação na universidade (sobre uma obra de Autran Dourado, citado anteriormente), não me deixando desistir num momento difícil da minha vida. Foi nesse tempo que conheci sua biblioteca, a primeira biblioteca particular de respeito que os olhos do jovem estudante e aspirante a escritor viram. Uso, portanto, esta coluna para prestar uma homenagem, ainda que longe do que merece, ao nosso grande mestre, com a expectativa de que, quem sabe agora, saiam de sua gaveta aqueles contos inéditos, quiçá um romance ou os famosos cadernos com as anotações de leitura desse grande leitor.

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