Uma coluna (des)motivacional
Estou nessa de escrever sobre livros de forma mais sistemática
há 10 anos. Antes, o fazia esporadicamente. Atualmente, há períodos em que
engato mais de uma resenha por semana no meu blog. Em outros momentos, me vejo
obrigado a reescrever alguma crítica antiga, esquecida no tempo, mas que
considero ainda ter algo a dizer, para pelo menos cumprir com o meu compromisso
semanal com os leitores deste jornal. Às vezes, não escrevo sobre um livro
específico, mas sim faço uma crônica sobre literatura ou pratico filosofices.
Tudo depende da motivação.
A motivação pode ser um livro recebido diretamente do autor
ou pela editora. Outras vezes é um lançamento que me provocou uma análise. A
maioria das vezes, porém, não sei o motivo (sei que nunca é dinheiro, pois
nunca recebi por isso). Ora é uma releitura que me toca profundamente, ora um
livro novo que me inquieta ou é o tema que me agrada (como relatei semana
passada). Não sei. Só sei que encontro uma veia, começam a jorrar palavras e a resenha,
crítica ou crônica aparecem.
O mistério maior, no entanto, é entender por que não encontrei
motivo para escrever sobre outros tantos escritores e livros de que gostei, alguns
que inclusive constam da minha lista de predileção, mas que não me despertaram
para escrever sobre eles. Nunca escrevi sobre livros do Dostoiévski, por
exemplo, salvo uma ou outra citação. O mesmo com Érico Veríssimo, Josué
Guimarães (o seu romance “Camilo Mortágua” é um dos livros mais importantes da
minha vida), Ítalo Calvino, Fernando Sabino (me inspirei neste para crônicas
sobre o cotidiano), Marcos Rey e tanto outros.
Reparem que não falo em inspiração, até porque me não refiro
a textos ficcionais. Não há musa inspiradora para o trabalho de análise. A musa
do crítico é a motivação. Se os demais textos literários não precisam ter
função nenhuma, a crítica literária tem que ter, inclusive mais de uma. Fazer a
obra ser lembrada ou esquecida e instigar sua leitura ou sugerir distância são
algumas dessas funções.
Alguns escritores clamam por uma crítica. “Falem bem ou
falem mal, mas falem do meu livro”. Segundo Leyla Perrone-Moisés, no seu livro
de ensaios “Mutações da literatura no século XXI”, editado pela Companhia das
Letras em 2016, “sempre desejaram a atenção desses profissionais para seus
livros, quer por mera vaidade, quer pelo desejo legítimo de serem lidos e
divulgados”. Mas se a análise é negativa, o escritor desdenha o crítico, não
divulga a resenha, tentando, talvez escondê-la, esquecendo que uma polêmica
pode atrair mais leitores do que afastá-los. Ou seja, nesse sentido o crítico
sempre faz um bem para a Literatura. Se elogia, ajuda nas vendas do livro. Se
detona a obra, também. Pensando friamente, o escritor só tem a ganhar com o
trabalho do crítico.
Vez ou outra chega aquele desejo de parar de escrever sobre
literatura e apenas ler ou escrever os meus próprios livros (que também clamam
por uma crítica!). Ganhei algumas inimizades por opiniões negativas que
externei. O “desfazer amizade” ou o “bloqueio” nas redes sociais são
indicativos. Não me importo com isso, no entanto. Importo-me em ser lido, caso
contrário, não publicaria nada, deixando tudo inédito nos meus cadernos de
anotações ou na organização desorganizada dos meus arquivos do computador. É a
motivação para esta coluna continuar.
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