Meu artigo na Gazeta do Sul de hoje

 



Que tal fazer o bem a quem sofre?

 

“A cada quarenta segundos, alguém comete suicídio”, escreve Andrew Solomon, no artigo “Suicídio, um crime da solidão”. O próprio autor, professor de psicologia, sofreu com a depressão e pensou muitas vezes em tirar sua própria vida. Tratar sobre o tema e escrever livros como o aclamado “O demônio do meio-dia”, que versa sobre a melancolia, foi uma forma de escapar de desejar “a indesejada das gentes”.

No artigo citado, publicado na revista New Yorker, em 2014, Solomon escreveu sobre o suicídio do ator Robin Willians, comediante, que durante toda a sua atividade artística fez o mundo todo rir, mas nos últimos anos de vida conviveu com a depressão. Como foi uma celebridade, sua morte gerou discussões e tentativas de encontrar os motivos. Seria o alcoolismo? Mas ele estava sóbrio já havia alguns anos. A vida amorosa? Ele era feliz no terceiro casamento. A carreira? Ora, ele nunca esteve em baixa, sempre encarreirando sucessos no cinema, no teatro e na televisão.

Acontece que artista que viveu o meu personagem preferido em toda a história do cinema, o professor John Keating, do filme “A sociedade dos poetas mortos”, vinha sendo acometido pela depressão depois de ter descoberto que estava com o mal de Alzheimer e sofria um processo de demência, conforme relatos de parentes e amigos em um documentário sobre o ator. “As qualidades que impelem uma pessoa ao brilhantismo são as mesmas que podem levá-la ao suicídio”, afirma Andrew Solomon. “Pessoas muito bem-sucedidas tendem a ser perfeccionistas, o tempo todo se esforçando para alcançar marcas impossíveis”.

Estaria o artista depressivo por não atingir mais a genialidade que sempre o acompanhou? Ainda segundo o autor do artigo, cujo título é o mesmo de um dos seus livros lançados no Brasil pela Companhia das Letras, o suicídio de um comediante como Robin Williams mostra que “todos estamos expostos à mesma assustadora vulnerabilidade”. Por conseguinte, podemos dizer que julgar atitudes não contribui para acabar com esse mal. O que precisamos é entender as pessoas e contribuir para que elas se sintam bem, não colocá-las ainda mais para baixo. Ajudar e não julgar é um bom caminho.

Para as pessoas que sofrem com a depressão, Solomon escreve que quando acorda e pensa: “Ah, hoje estou muito bem”, isso é algo “emocionante” e que contribui para superar o mal. Essa vitalidade o renova. “Pode ser uma ilusão da qual eu próprio acabei me convencendo. Mas, se for, para mim tem sido uma ilusão muito produtiva. E é o que recomendo a todos”.

Resta, a quem não sofre com esse mal, tentar fazer os outros se sentirem bem.

 

Cassionei Niches Petry –professor

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