Sobre livros (molhados) que chegam à toca

 




Chuva e chuva. Vou buscar o jornal no pátio e vejo um envelope sobre a caixa de correio, todo molhado. Um livro! Ah, carteiros, como nós, leitores, temos uma relação de amor e ódio com vocês! Abro o envelope e vejo que são dois livros que, por sorte, estavam plastificados, porém não impediu que um deles ficasse úmido, causando um pequeno rasgo na capa.

Não estava esperando nenhum livro. Há alguns meses não os compro (meu salário de professor diminuiu com a reforma do governador). Vejo, então, que foram enviados pelo Miguel Sanches Neto. Já escrevi sobre cinco livros do escritor. Um trecho de uma das resenhas foi até traduzido para o inglês e publicado num catálogo de divulgação de autores brasileiros na Feira de Frankfurt. Outra resenha foi sobre “Herdando uma biblioteca”, que ganha agora nova edição pela Ateliê Editorial. É esta edição que recebo e justamente a que molhou e rasgou. Vejam como são as coisas. A primeira edição que eu tenho possui um furo, que atravessa todo o livro, provocado por uma traça (não à toa, minha extinta coluna no jornal onde publiquei a resenha se chamava “Traçando livros”). A nova agora tem um furo por causa da água na capa, que também ficou enrugada. A traça e a umidade estão elencadas entre “Os inimigos da biblioteca”, um dos capítulos acrescentados na nova edição.

Recebo os livros (o outro é “Museu da infância eterna”) depois de ter parado de escrever críticas e resenhas. Aliás, um dos motivos pelos quais escrevia era justamente para ganhar livros, seguindo passos de críticos como o próprio Miguel ou o saudoso Paulo Bentancur, que afirmavam em entrevistas que recebiam exemplares. Recebi alguns livros nesses anos todos, uma época até a Companhia das Letras me enviava quatro livros por mês. Uma das minhas últimas críticas foi sobre os “Contos completos”, do Sérgio Faraco, que pediu para a sua editora, a L&PM, que me enviasse a 3ª edição, já que a minha era a 1ª ainda. O exemplar chegou aqui na toca há poucos dias. Espero que ele não fique chateado por eu divulgar isso, assim como o Sanches Neto, pois há pouco tempo um escritor não gostou de eu ter divulgado que recebi seus livros, porque muita gente depois fica pedindo cortesias. Por falar em Faraco, se antes ele nunca foi escolhido para ser patrono da Feira do Livro de Porto Alegre porque não queria participar de nenhuma disputa, por que cargas d’água ele não foi eleito agora, justamente quando não havia outros indicados? Daqui a pouco, no currículo de um escritor, o ato de escrever será apenas uma nota de rodapé, algo como, “além de tudo, o escritor também escreve”. Mas essa é uma discussão na qual não quero entrar, pelo menos no momento.

Ainda sobre receber livros, também me enviam obras em PDF (esses não chegam molhados). Leio nesse formato, sem problema nenhum, e é uma forma de os autores promoverem sua obra, já que muitos não dispõem de exemplares para divulgação e em alguns casos precisam vender seus livros para pagar as edições. Eu mesmo já mandei muitos livros em PDF para críticos. Recentemente, o escritor Ricardo Soares em enviou dessa forma a obra “Devo a eles um romance”, lançada pela Penalux. Será uma das minhas próximas leituras.

Por enquanto apenas leio. Sou agora tão somente um leitor, sem compromisso de escrever sobre livros. Foi uma escolha minha e estou gostando disso. O ruim é que não vou mais ganhar livros. Paciência.



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