Repetir os erros (meu artigo na Gazeta do Sul)
Assisti a um episódio do Café Filosófico, na TV Cultura, com
o filósofo francês Luc Ferry. Foi uma hora de bate-papo com o psicanalista
Jorge Forbes (que pra mim tem nome de empresário milionário), num momento cada
vez mais raro na televisão. Há quem prefira “lives” daqueles que ainda não
saíram das fraldas metidos a defensores dos clássicos e também de mais velhos
metidos a “mudernos”. Todos criticam a torto e a direito todo mundo (inclusive
nós, pobres professores de Literatura), mas com raciocínios mais rasos que
pires e do que essa comparação clichê.
Uma das falas de Luc Ferry me chamou a atenção e me fez
relacioná-la com o tempo em que vivemos hoje, em meio à pandemia, apesar de a
palestra ter ocorrido há alguns anos. Um professor de psiquiatria, segundo ele,
explicara certa vez que um psicótico é aquele para quem 2 mais 2 é igual a 5 e se
você tenta contestá-lo vira seu inimigo, não vai mudar de ideia e, por mais que
se prove que 2 mais 2 é 4, o errado será você.
Aí me dou conta de que estamos rodeados por psicóticos e,
inclusive, somos governados por um. Na sanha de defender suas ideias
estapafúrdias (sempre quis usar essa palavra), esses psicóticos elegem a todos,
inclusive seus ex-aliados, como inimigos que devem ser atacados e nem se
preocupam de, pelo menos, convencer o adversário com argumentos plausíveis de
quem está com a razão. Eles não estão certos por um motivo. Eles estão certos
porque estão certos e o outro está sempre errado.
A política está tomada de psicóticos, na direita, na
esquerda e também no centro. Os que estão neste último time apenas mudam de
certezas, desde que elas lhes proporcionem poder. Esses psicóticos, no seu
delírio, distorcem a realidade para que caibam no seu ego inflado. Esquecem até
o que combateram no passado, seguindo o mesmo caminho do inimigo. Tudo em busca
de alcançar o poder, de manter o poder ou ampliá-lo.
E nesse delírio não veem que estão perdendo o poder, quando
o têm, e de que estão dando de bandeja ao outro o que conquistaram. Quando isso
acontece, nunca é sua culpa, mas sim do outro, afinal a sua grandeza não foi
devidamente valorizada. “Eu avisei”, pode ser a frase predileta desse
psicótico. Avisou que estava certo, sempre, e o outro estava errado, sempre.
Por isso não carrega a culpa de entregar, por seus erros, o poder ao inimigo.
A História se repete e ninguém aprende. O oroboro, ser
mítico, cobra ou dragão, que come o próprio rabo, representa esse eterno
retorno do mesmo, expressão do filósofo alemão Nietzsche. Repetimos e
repetiremos os mesmos erros. Ou melhor, os outros repetirão. Eu não erro nunca.
Cassionei Niches Petry
–professor
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