Primeiro romance de Woody Allen



 A propósito de Baum


What’s with Baum? (que poderia ser traduzido por “O que se passa com Baum?”) é o primeiro romance do quase nonagenário Woody Allen. Recém lançado nos EUA  pela editora Post Hill Press, com as graças da internet pude ler o livro logo depois de sua publicação. Ao que parece, o cineasta não vai mais lançar nenhum filme, já que não consegue financiamentos por culpa dos cancelamentos muito comuns hoje em dia no show business, devido à acusação de abuso que teria cometido com sua enteada, o que nunca foi comprovado. Quem gosta de suas histórias procura, então, consumir seus textos literários, que incluem também contos e peças de teatro, além de uma autobiografia.

O protagonista do romance é Asher Baum, escritor cheio de expectativas em relação à carreira, mas que só alcança fracassos, já que pretende fazer uma literatura mais elaborada estilisticamente e com muitas reflexões filosóficas: “Ele queria que seus livros tivessem impacto, que mudassem a perspectiva das pessoas, e para isso precisava acertar tudo. Não queria marchar como uma vítima para a eternidade sem ter deixado pelo menos alguns volumes que ajudassem a abrir caminho para os outros. Ele estava determinado a que sua lápide não se lesse: Aqui jaz Asher Baum — e daí?”. Para piorar, é acusado de assédio por uma jornalista depois de uma entrevista. Para piorar mais ainda, Thane (filho de um dos casamentos de sua esposa, Connie), com quem não se dá muito bem e acha que é superprotegido pela mãe, alcança um sucesso instantâneo com sua obra de estreia, que Baum considera muito ruim: "Ele é um narcisista mimado, um talento de segunda categoria que se aproveita de críticos histéricos e de um público emburrecido." Além disso, acaba se sentindo atraído pela namorada do enteado, muito parecida com sua primeira esposa. Qualquer semelhança com a vida do próprio Woody Allen não é mera coincidência. 

Típico personagem de Woody Allen, judeu de meia-idade, autodepreciativo, neurótico, hipocondríaco, com uma visão pessimista da vida e cheio de problemas no relacionamento com a atual esposa, cuja família é ligada à indústria cinematográfica, Asher Baum me lembrou também de muitos personagens de Paul Auster, vítimas do acaso. “Sorte, acaso, destino. Quem pode viver em um mundo assim e permanecer são?”, reflete o protagonista. O acaso o fez reencontrar, por exemplo, a ex-esposa quando estava com a namorada de Thane, tentando justamente vivenciar momentos que teve com a outra em ambientes culturais de Nova Iorque. Por acaso, também, encontra um sujeito em uma livraria que conta para ele que o romance famoso do enteado é um plágio de uma obra desconhecida do século passado, o que desencadeia o final cômico, porém quase trágico, do romance.

A capa do livro é genial. Uma paródia com o quadro “O grito”, citado em uma passagem do romance: “Quando Baum saiu da festa e caminhou até seu carro, ele se imaginou não como uma caricatura, mas como uma pintura com as mãos cobrindo os ouvidos, boca bem aberta e assinada por Edvard Munch.” Em vez de uma ponte na Noruega, a ponte em Manhattan, cenário de muitos filmes de Woody Allen. 

Baum, em determinado momento, diz “que a crítica, não importa quão bem escrita ou cheia de percepções elegantes, sempre se resumia a mera opinião.” Não sei se sou um crítico, mas minha opinião é que What’s with Baum? não é um grande romance, porém tudo que vem de Allen é infinitamente superior à qualquer obra de arte atual. Esperemos sua tradução.

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