O processo

http://www.4shared.com/file/87527390/23e65834/Franz_Kafka_-_O_Processo-rev.html

Adaptação realizada pelo gênio Orson Welles, com Anthony Perkins no papel de Joseph K. Disponível no blog O sétimo projetor.
http://setimoprojetor.blogspot.com/2009/02/le-proces-orson-welles-1962.html

Resenha que escrevi para o site The graverobber:

O mundo é kafkiano

"A partir de certo ponto não há mais qualquer possibilidade de retorno. É exatamente esse o ponto que devemos alcançar."

Kafka, Aforismos

Costumo dizer que minha religião é a Literatura. Sou devoto de São Machado de Assis e São Julio Cortázar. Quem seria Jesus? Franz Kafka, claro. Assim como o homem de Nazaré, Kafka teve problemas com seu pai (“por que me abandonaste?”, perguntou Cristo na cruz), não casou, nem teve filhos (por mais que tentem provar que Jesus se envolveu com Maria Madalena) e só teve reconhecimento depois de morto. Além disso, podemos dizer que ambos só são o que são graças à traição de um amigo. Não quero polemizar sobre o evangelho de Judas, tão atacado por conservadores da igreja, mas se o Iscariotes não tivesse dado o beijo delator, provavelmente não conheceríamos hoje o cristianismo e os crucifixos não estariam decorando paredes de milhões de casas em todo o mundo (aliás, é a única religião que tem como símbolo um instrumento de tortura). O judas de Kafka foi Max Brod, a quem foi confiada a missão de queimar todos os escritos que não foram publicados em vida pelo escritor tcheco. Se tivesse cumprido o que Kafka pedira, não conheceríamos boa parte de seus contos e os romances, principalmente O Processo, que acaba de ser lançado pela editora L&PM, na coleção Pocket, em competente tradução de Marcelo Backes.

Joseph K. é detido certa manhã sem saber o porquê. Assim como Gregor Samsa, que depois de acordar viu que se transformara em um inseto, no texto mais famoso do autor, A metamorfose, o absurdo da nossa existência pode se manifestar de uma hora para outra. Nesse momento precisamos enfrentar o que não se pode enfrentar: Samsa, a família; Joseph K., a burocracia da justiça. O anti-herói do romance tenta se defender das acusações (não ficam bem claras quais são), assim como não encontra as pessoas certas que podem dar solução para o caso. Percorre um estranho tribunal com portas que dão a lugares imprevisíveis e corredores com tetos baixíssimos, cuja descrição causa uma sensação de angústia no leitor.

Várias interpretações se podem dar à história do bancário Joseph K. Em um ensaio publicado em O mito de Sísifo, Albert Camus afirma que “a arte de Kafka consiste em obrigar o leitor a reler. Seus desenlaces, ou suas faltas de desenlace, sugerem explicações, mas que não são reveladas com clareza e exigem, para nos parecerem fundadas, que a história seja relida sob um novo ângulo.” O crítico Erich Heller, por sua vez, é categórico: “Existe apenas um meio de evitar o trabalho de interpretar O processo: não ler o livro”, pois “a compulsão para interpretar é insuportável e tão grande como, para a maioria dos leitores, a dificuldade de abandonar a leitura: trata-se de pressões idênticas.” Já um dos maiores críticos contemporâneos, George Steiner, é categórico: “a idéia de que possa haver algo de novo a dizer sobre O processo de Franz Kafka é implausível”.

Vivemos em um mundo cristão e em um mundo kafkiano. Em ambos, a culpa atormenta, fere, impede que tenhamos liberdade. Se não cumprimos as regras, sofremos logo um julgamento, muitas vezes incompreensível como o sofrido por Joseph K. Será que nossa vida, tão absurda como a ficção de Kafka, não foi escrita por ele?



Comentários

Jorcenita disse…
Pena que você não possa estar presente hoje para falar sobre Kafka!
Mas tudo bem.
Coincidência ou não a frase ou aforismo que tenho no orkut nos últimos dias é justamente: "A partir de um certo ponto não há mais retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado." Franz Kafka
Cassionei Petry disse…
Se puder, leia este meu texto para o pessoal.
Tonzete Canivete disse…
*Relembrando toda a última aula de Literatura*
Jorcenita disse…
O tempo foi curto e não deu para ler, mas comentei as postagens do seu blog. Assistimos o curta "Na colônia penal" do seu blog e Comunicação a uma Academia (o link está disponível no meu blog)(http://www.youtube.com/watch?v=jTUV5nB66sA).
Ainda estou envolvida com kafka, pela metade do livro "O castelo".
Cassionei Petry disse…
Mirella, pela primeira vez consegui falar em aula sobre Kafka e outros autores univesais, fugindo da obrigatoriedade dos "contiudos" e, o que melhor, sendo compreendido e muitos que não prestavam atenção na aula estavam atentos. Fiquei muito feliz na última aula.

Jô, espero que o encontro tenha sido produtivo e vou te dar um conselho: assista ao filme Metamorfose que está aqui no blog. Espetacular a interpretação do ator!
Eduardo disse…
Se bobiar, somos todos personagens de uma obra de Kafka (e não percebemos simplesmente por não poder perceber que estamos em uma de suas histórias). Quanto aos livros (A Metamorfose e O Processo), eu pelo menos, fiquei profundamente angustiado ao lê-los, principalmente A Metamorfose, me senti preso (ao livro e à uma realidade absurdamente Kafkiana).
Ah, quanto ao meu blog, pensei que que eu havia te contado. Pois aogra ja sabes que tenho um blog.
Abraço!

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