As máscaras um dia vão cair?
Termina o Carnaval e as máscaras são guardadas na gaveta
para o próximo ano. Elas servem, na festa momesca, para quem quer extravasar
sem se sentir ridículo ou então se divertir assumindo papéis inversos do seu
cotidiano. Muitas máscaras, entretanto, ainda continuam escondendo o rosto de
muita gente por aí.
A máscara social não é necessariamente ruim. No sentido
positivo, usamos máscaras no cotidiano para melhor convivermos. Quando uso a
máscara de professor, por exemplo, meço minhas palavras, meu lado mais racional
ganha espaço, tento não rir de alguma bobagem dita pelo aluno para não
constrangê-lo e agir de acordo para que aprenda, e tento sorrir mesmo quando
estou triste, pois meus problemas pessoais e financeiros não podem interferir
no andamento das aulas. Assumo a máscara no sentido grego de personagem. Isso
serve para qualquer ramo profissional. Desde que não seja para prejudicar os
demais, a máscara é um recurso essencial.
O problema, obviamente, é a máscara da falsidade. É a
máscara que serve para fazer algo errado, para fazer protesto (e aqui ela pode
não ser apenas metafórica) destruindo patrimônios públicos ou privados e
provocar a polícia para que ela reaja e seja por isso criticada, ou para
esconder o perfil anônimo nas redes sociais e destilar comentários racistas,
por exemplo. É a máscara da cara de pau, a do bom moço, a do falso herói, a do
político defensor dos pobres que distribui gentilezas enquanto mete a mão no nosso
bolso.
A roubalheira dos cofres públicos e o recebimento de
propinas e favores de empresas particulares com o intuito de benefícios futuros
são práticas comuns há muitos anos. Nenhum partido político escapa, assim como
nenhuma esfera do poder. Os escândalos das revelações dessas falcatruas ganham
projeção nacional e vemos os políticos dando seus depoimentos com caras de criança
inocente pega com a boca lambuzada e dizendo “não fui eu, não fui eu, foi o
Juquinha”. Consideram-se, às vezes, vítimas das circunstâncias. E o pior é que
acreditamos neles.
Nova eleição se aproxima e o bom moço vem bater na nossa
porta ou invadir nossa rede social na internet para pedir voto para si ou para
seu colega partidário. Como somos espectadores desse teatro que é a
política, suspendemos nossa racionalidade, somos envolvidos pela narrativa do
mascarado que vemos na nossa frente e depois o aplaudimos. Com as investigações
e prisões realizadas, as máscaras estão caindo. Outras, no entanto, tomam o seu
lugar.
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