Bauman foi mais esperto (XIX) – Lendo gibi
Fui ontem com a família ao centro da cidade, mais
precisamente à praça da igreja matriz, para tomar chimarrão. Um costume comum
em qualquer cidade, mas que para nós é algo meio raro, em parte porque a minha
esposa trabalha dois domingos por mês, mas o principal motivo é que não gosto
de sair da minha toca e ficar longe dos meus livros, meus discos e o computador
onde escrevo estas linhas e também é fonte de outras tantas leituras.
Mas o motivo desta crônica (que retoma a série “Bauman foi
mais esperto” do meu blog) não foi nossa saída, mas sim a reação de um menino que
me viu lendo um gibi que havia aproveitado para comprar na banca. “O Tio
Patinhas!”, ele disse, admirado, talvez porque um marmanjo estava lendo esse
tipo de publicação (minha filha já havia feito uma brincadeira comigo quando me
viu voltando da banca com o exemplar na mão).
Quem ficou mais admirado, na verdade, fui eu. O guri deveria
ter uns 8 ou 9 anos e brincava com outro da mesma idade. E hoje não há quase
crianças que conheçam HQ’s. Apenas sorri para ele, que logo voltou a brincar
com o amigo, pulando da estátua da praça que mostra uma mãe amamentando seu filho.
Minha formação de leitor passou pelos gibis que enchiam,
além das prateleiras do quarto dos meus tios, também os olhos do guri que estava
aprendendo a ler sozinho. Usufruí o quanto pude daquele paraíso, já que não
podia tê-los. Mais tarde, adolescente, cheguei a comprar alguns exemplares, mas
depois os revendi ou troquei por livros em um sebo.
Já adulto, retomei a paixão escondida. Com a internet,
baixei vários exemplares que eram meu sonho de consumo, e comprei outros tantos
no mesmo sebo. Só não comprava mais em bancas porque os desenhos atuais não me
agradam muito, principalmente as novas versões dos super-heróis.
Bem diferente foi o exemplar da Disney que comprei, que
mantém os mesmos traços que marcaram a minha infância, bem como as histórias em
sua maioria ingênuas e apressadas. Escolhi uma revista com uma história do
Professor Pardal, que sempre me marcou por ser o gênio que eu queria ser.
Já escrevi alguns textos sobre HQ’s não tão infantis, como
as de Neil Gaiman, e também sobre a polêmica sobre considerá-las como
literatura. Penso que é um tipo de arte diferente, que não precisa ser chamada
de literatura para ter qualidade. A arte sequencial já é considerada como a 9ª
arte, portanto com o reconhecimento que lhe é devido.
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