Bauman foi mais esperto (XX) – Já te contaram?
“Às vezes não nos contam toda a história”, diz o diretor de
um filme dentro de outro filme, Império
dos sonhos, de David Lynch. O filme dentro de um filme, um sonho dentro de
um sonho, um corpo dentro de outro corpo, o tempo dentro de outro tempo, uma
história dentro de outra história.
São assim os filmes e séries de Lynch. Twin Peaks, o que foi aquilo!
Gosto de obras de arte assim. Um quadro de Magritte, um
romance de Vila-Matas, um conto de Cortázar, uma música de Humberto Gessinger. Metaficção.
Matryoshka. Ororoboro. Segui por este caminho em
alguns de meus contos e principalmente no romance publicado, porém inédito, Os óculos de Paula. Se alguém fez o
favor de ler, sabe do que estou dizendo.
Mas volto à frase do diretor, que contava ao casal de atores
sobre um fato acontecido com o casal de atores da primeira versão desse filme.
Um assassinato. Ninguém queria contar à equipe atual sobre uma possível
maldição para quem participa desse trabalho. Esconder os fantasmas, imaginários
ou reais.
Às vezes não nos contam toda a história que rola na
política. Apesar de muita coisa estar vindo à tona, há muita coisa escondida.
Nossos pais também não contam tudo. E nós também não contamos tudo para nossos
filhos.
Também não contamos tudo para nós mesmos.
A boa ficção esconde, não conta tudo. Histórias
mastigadinhas e colocadas na boca do leitor não são boa literatura. Há quem
goste. Mas então não gosta de literatura, gosta simplesmente de uma boa
história.
Uma boa história não é necessariamente boa literatura. E boa
literatura não é necessariamente uma boa história.
Aliás, as boas histórias estão sendo contadas hoje pelas
séries de TV ou da Internet.
Nem todas as histórias, porém, estão sendo contadas. Nem toda
a história. Nem mesmo a História está sendo bem contada.
Então, conte outra.
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