Da série "Vale a pena (será que vale mesmo?) ler de novo"
“O verme se encolhe quando
pisado. Uma atitude prudente. Diminui assim a probabilidade de ser pisado outra
vez. Na linguagem da moral: humildade.” Diz Nietzsche em “Crepúsculo dos
ídolos”. É a atitude que nós, vermes seres humanos, precisamos às vezes tomar.
Encolho-me, muitas vezes, para não ser mais pisado, para sobreviver. Talvez não
seja humildade isso. Não, não é. Essa moral é justamente o que o filósofo tenta
destruir e não a quero mais para mim.
Deixei
de ser humilde, afinal, mesmo o sendo por alguns momentos nessas quase quatro
décadas de vida, os outros não me veem dessa forma. Já fui taxado de arrogante
quando emiti minhas opiniões nem sempre agradáveis às mentes acomodadas. Que o
seja, então. Arrogo-me o direito de ser arrogante. Agora não me importam mais
os outros.
“O
que não me mata me torna mais forte”, escreve o mesmo Nietzsche no mesmo livro.
Aforismo que quase nunca é atribuído a ele. No gauchês, nos lembra Marcelo
Backes em seu livro “Estilhaços”, se diz: “o que não mata engorda”. Ser um super-homem,
um além-do-homem, superar as minhas próprias fronteiras, eis o caminho que
decidi seguir. Chega de ser humilhado, ridicularizado. Vou mostrar apenas
aquilo no que sou bom e deixarei na penumbra aquilo que talvez não me
contemple, apesar de me sustentar, pelo menos financeiramente. O que faço de
melhor não me mantém, não mantém minha família, mas mantém minha dignidade, meu
orgulho, me mantém de pé.
Sim,
sou um verme, o verme machadiano que roeu as frias carnes de Brás Cubas. Foi a
mim que ele dedicou suas memórias. Sou um “operário de ruínas”. É dos escombros
da vida, da minha é a dos outros, é da carne podre do ser humano que retiro a
minha literatura. Declaro guerra à vida como o verme do poema de Augusto dos
Anjos, mesmo vencido.
Essa
guerra se dá na garagem que transformei em biblioteca e lugar de escrita. Toca,
bunker, caverna, não sei ainda como denominá-lo. Às vezes digo apenas “o meu
canto”. Um lugar agora iluminado apenas por uma lâmpada sobre os teclados,
refletindo minha enorme sombra na parede enquanto escrevo mais essa página do
meu diário. Posso ser pequeno, mas minha sombra será sempre maior e assombrará
ainda por muito tempo àqueles que querem me pisar.
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