Devaneios de um sábado letivo
Hoje houve sábado letivo, dia de aula
que, nessa época de pandemia, se dá por EAD, ou seja, somente através do Google
Sala de Aula, como vinha sendo até semana passada, antes da volta das aulas
presencias. Aliás, tenho que dizer que a pandemia acabou por decreto do governo
e por cansaço, tendo em vista o grande número de alunos na escola, os abraços e
conversas no pátio, as máscaras embaixo do queixo. É o “dane-se” para tudo o que
impera por aí.
Ia dizendo que foi sábado letivo e
enviei leituras como atividade, uma delas uma resenha que escrevi sobre “Bestiário”,
do Cortázar, já que um dos textos que estamos lendo em espanhol é “Casa tomada”.
A propósito, a Companhia das Letras vai lançar um box com os contos reunidos do
escritor argentino, o que vai chamar a atenção de mais leitores brasileiros
para os relatos do cronópio.
Num comentário das redes sociais da
editora alguém afirmou algo como “não entender o que veem no autor”. Isso
explica muita coisa no nosso mundinho literário, do qual me afasto cada vez
mais. Hoje, por exemplo, há um
sarau online de lançamento de novo número de uma revista literária da
qual participo com exercícios poéticos (tenho vergonha de chamá-los de poesia).
Não vou estar presente porque não tenho vontade nenhuma de ler meus poemas, nem
de ouvir leituras. Tudo que é coletivo em literatura me dá certo receio hoje. Só
aceitei o convite de mandar alguns textos para a publicação para incentivar o
organizador e como forma de agradecimento por ele ter lido e comentado meu
último livro publicado. Cada vez estou mais só e busco essa solidão. Por isso,
resolvi abandonar tudo, embora, vez ou outra, cometa alguns textos ou vídeos no
YouTube.
Agora à tarde, apesar de ainda ter
trabalho a fazer, que é “preparar” as aulas da semana e corrigir atividades
devolutivas, o que vou deixar para amanhã, estou lendo “Contra a interpretação”,
primeiro livro de ensaios da Susan Sontag, em nova tradução. Já esbocei algo no
Word sobre o início da leitura. O que pretendo mesmo, no entanto, é retomar o
projeto de uma narrativa que estou escrevendo, em princípio um romance, que
pode virar conto, mas que pode também virar nada. Tenho um romance inédito que
não sei se vou tentar lançar, ensaios e crônicas que queria reunir em livro,
ideias não faltam. Falta vontade. Falta vontade para escrever resenhas,
crônicas, artigos (os últimos publicados no jornal são textos velhos e requentados).
O que não me falta é vontade de ler, ler cada vez mais, e comprar mais livros,
e baixar mais livros, e devanear sobre os livros, porém sem escrever. Talvez
esteja cansado mesmo, cansado de escrever, cansado do meio literário, cansado
das discussões políticas inúteis, cansado de políticos inúteis. Mas não cansado
da vida. Aliás, preciso de muitos anos de vida para ler pelos menos um terço de
tudo o que quero. Preciso de tempo. E justamente meu trabalho me faz perder horas
preciosas que poderiam ser dedicadas à leitura. Aliás, volto ao livro que estou
lendo. Estes devaneios também estão me fazendo desperdiçar o tempo, o que faz
me lembrar que Norman Lloyd, o ator que fez a papel de diretor e vilão no filme
“Sociedades dos poetas mortos”, morreu nesta semana. Carpe Diem.
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