"O Melhor Livro Entre os Dez Piores das Últimas Semanas"

 

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O melhor livro entre os dez piores das últimas semanas

Quis o acaso (que nunca me protege quando estou distraído, contrariando a canção dos Titãs) que eu lesse Vento em setembro, de Tony Bellotto (Companhia das Letras, 296 páginas, disponível em e-book), num dia de setembro com muito vento. O som no telhado, o balançar dos galhos das árvores, mas também as músicas de cantores e bandas citadas no livro, embalaram minha leitura, quase ininterrupta, desse arremedo tupiniquim de O código da Vinci.

Desejava a todo o custo desvendar o mistério das pichações das estátuas de Aleijadinho em Ouro Preto, nos dias atuais, e a ligação desses atos de vandalismo com a história de uma espécie de ritual de desvirginamento do filho de um rico fazendeiro, um barão da soja no interior de São Paulo, nos anos 70, embora logo as peças começassem a se encaixar de maneira até um pouco óbvia. As referências culturais, porém, sempre me prendem num texto literário e, neste romance, elas têm aos montes. Por isso segui a leitura com boa expectativa.

O problema é que o enredo é cheio de reviravoltas, cheio de personagens, cheio de lugares, cheio de revelações, às vezes falsas, que cansam o leitor. O narrador e protagonista, um pretenso escritor, autor de um livro só que serve inspiração para as pichações, acaba não sendo bem desenvolvido, porque outros personagens acabam dividindo o protagonismo, num ir e vir do tempo (“tudo ao mesmo tempo agora”), e o leitor não se apega a nenhum deles. Há um inclusive uma nota do autor no final, totalmente supérflua, explicando uma cena que ele deixou incompleta, supondo que o leitor gostaria de saber sobre o que aconteceu ou deixou de acontecer com o personagem numa determinada noite. Como os preparadores de texto da Companhia das Letras deixaram passar isso?

Tony Bellotto é um artista que não se contenta com a boa música que faz e tenta fazer uma boa literatura. Em Vento em setembro, porém, ele se perde na narrativa, assim como eu, acho, perdi tempo na leitura.