Monteiro Lobato e o racismo (3 notas para um improvável artigo)
- Há exatos dois anos, em outubro de 2010, um parecer do CNE
(Conselho Nacional de Educação) queria tirar das escolas o livro "Caçadas
de Pedrinho", de Monteiro Lobato por alegarem racismo na obra. Não sei
como ficou o caso. Agora, sobrou para outra obra do autor, “Negrinha”.
- Em vez de se proibir, deve se
refletir sobre os livros.
- Não é que Monteiro Lobato seja
inatacável. O que está em jogo é a literatura que ele escreveu. Um escritor
pode ser um crápula, como dizem que foi o francês Céline, mas o que importa é que faça obra literária
de qualidade. Na literatura vale a questão estética.
A inquisição também achava errado quem praticava bruxaria, levou gente para a fogueira
e queimou muitos livros. O conteúdo supostamente racista de
alguns trechos do Lobato jamais levou ninguém a odiar o outro. Pode se debater
sobre ele, mas jamais proibir.
Comentários
―André Gide
Besteiradas as caçadas ao Monteiro Lobato. As Caçadas de Pedrinho, porém, eu já não protejo, e não é nada pelo racismo em si: meramente acho pouco humano uma criança negra ser obrigada a ler um livro que afronta a sua raça.
Se pautassem o problema pelo emprego desse livro em escolas, tudo bem -- mas não é o caso. Virou um apontar de dedos estéril.
A escritora Ana Maria Gonçalves, autora do romance Um Defeito de Cor, aclamado como uma das grandes ficções brasileiras sobre o tema da escravidão no Brasil, defende que o foco da discussão deveria ser o das crianças negras expostas à obra de Lobato:
– É interessante perceber que, em outros contextos, sem racismo, os estudiosos louvam a importância da literatura na formação da criança. Aliás, defendem Lobato geralmente pela importância que os livros dele tiveram em sua formação como leitores, escritores ou estudiosos. É preciso notar que esses estudiosos que defendem Lobato na mídia são todos brancos, a quem o racismo não atinge em sua ponta mais dolorosa: a de vítima. Fossem eles negros, pais de crianças negras, talvez não achassem "exagero" lutar por uma escola livre de racismo.