Sim, eram “eles” ("Eles" V)
– Prepare-se para
conhecer “eles” – um político antigo me alertou depois que fui eleito.
– “Eles” quem? –
perguntei.
– Logo, logo você vai
saber.
Aceitei ser candidato
a vereador depois de muita insistência por parte do prefeito, que buscava a
reeleição. Disse que meu nome seria uma representação importante na comunidade
cultural do município. Poderia ser, inclusive, nomeado como secretário de
educação e cultura. Além de escritor, eu tinha experiência como ex-dirigente de
uma escola de samba, sem contar meu passado como membro da cultura Hip Hop. Não
milito mais em nenhuma dessas frentes depois que passei a me dedicar à
literatura, no entanto ainda sou conhecido por muitos que continuam nessas
atividades.
Nunca tinha vontade de
concorrer a nada. Meu jeito de ser, meu comportamento discreto e o pouco tato
com as pessoas me colocariam como um fracasso eleitoral. O prefeito disse que
não deveria me preocupar com isso. No meu caso, meus eleitores não seriam
daqueles que gostam de muito aperto de mão, abraços e beijos. Deveria ganhar
meus votos através das redes sociais, artigos na internet e, principalmente,
pela imagem conhecida nacionalmente. Acabei aceitando, mais por inércia do que
por qualquer outra coisa. Não sei dizer “não”, ainda mais quando o lado vaidoso
se manifesta.
Depois do juramento,
recebi os cumprimentos de praxe, o abraço da família e dos amigos e conversei
com alguns colegas. Quando saí da câmara de vereadores, “eles” estavam na
calçada me esperando, com seus carnês nas mãos, com seus filhos doentes, com
suas angústias, com suas chagas abertas. Sim, eram “eles”.
Comentários