Um nome ("Eles" VII)
Pedi
para fecharem a cortina, mas até agora não fui atendido. Dizem que o sol fará
bem para mim. Não são apenas a luz no meu rosto ou o calor que me incomodam,
mas também a imagem das calcinhas em um varal da casa vizinha. Lógico que não
vou dizer que esse é o verdadeiro motivo.
Também
pedi para mudarem meu cardápio. Mais uma vez minha solicitação não teve sucesso.
Durante toda a minha existência nunca comi muita verdura, não é agora no final
da vida que devo mudar. É para o seu bem, me falam. Digo que não me importo se
vou morrer. Não quero comer verdura. Não basta estar doente, se é que estou,
não posso mais decidir nada, nem mesmo escolher a hora de morrer eu posso.
Solicitei
uma TV no quarto, mas alegam que devo descansar. As notícias podem me trazer
preocupação. O que eles não querem que eu saiba? O que estão me escondendo?
Não
sei há quanto tempo estou aqui. Eles não me respondem quando pergunto. Aliás,
quase não ouço voz de ninguém aqui dentro, apenas passos dos sapatos das
enfermeiras. Se é que são enfermeiras. Não sei se estou no hospital. Nunca
havia entrado nesta ala, portanto não sei se é o mesmo lugar onde nasci. Não
reconheço a casa ao lado. Também não sei nem mesmo se estou na mesma cidade de
onde nunca saí. Ninguém me responde nada. Eles dizem que devo ficar quieto, que
é para o meu próprio bem.
Eles
também não me dizem o que eu tenho. Não me fazem mais exames, apenas me
perguntam como estou. Digo que estou bem, não tenho nada, que poderia ir
embora. A última pergunta que me fazem é sobre o meu nome. Respondo já sem
paciência, eles anotam na prancheta e vão embora.
Percebo,
então, que é o nome que me prende aqui. Começo a dar novos nomes, se é isso que
eles querem. Um dia, talvez, eu acerte o verdadeiro e ganhe alta deste lugar.
Um dia, talvez, eu consiga me livrar deles.
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