A fé num café (ou mais um devaneio crônico de um ateu à toa ou fé demais não cheira bem ou chega de trocadalhos do carilho)
Na comunicação,
há um emissor, que emite uma mensagem a um receptor, o qual depois se torna
emissor de uma resposta. A mensagem só pode ser compreendida se ambos
conhecerem o código, o contexto. Tudo passa por um determinado canal. Digamos
que o emissor reza (mensagem) para um determinado ser (O Grande Grampeador) que
responde para ele (nova mensagem). O código é a língua, conhecida por ambos (O
Grande Grampeador conhece todas as línguas), o contexto é uma situação de
desespero, por exemplo, e o canal é o pensamento ou o próprio ar (nesse caso
tem que gritar porque O Grande Grampeador é surdo), e ele responde pelo canal
das ações, pois O Grande Grampeador não sabe falar por ele mesmo (não é surdo,
mas é mudo, ou melhor, só fala para algumas pessoas escolhidas por ele).
Entretanto, para ser atendido, quem ora tem que ter muita fé e acreditar que
qualquer coisa é uma resposta. Por exemplo, se você está perdido na vida, está
prestes a se matar e for orar para que O Grande Grampeador mande um sinal, se
ele não responder é porque você deve se matar. No caso foi uma não-ação dele,
pois você não tem fé suficiente.
Quando
pequeno, rezei muito um dia para que minha bisavó não morresse. Ela morreu. Decerto
não tive a fé necessária. Outro dia, rezei para que minha mãe não descobrisse
que consumi todo o conteúdo da latinha de leite condensado e fui atendido.
Logo, percebi que ter fé funcionava. Boa lógica eu tinha quando criança, não
concordam?
Muitos
esperam pela divina providência, cuja função é providenciar soluções para todos
os problemas. Como todo produto comercial, porém, ela está sujeita a falhas. Só
que não tem SAC para reclamar. Quando funciona, porque não é noticiado no
Jornal Nacional ou no Jornal da Record? Aliás, por que o Jornal da Record não
noticia as curas feitas na Igreja Universal? Será o medo de perder a
credibilidade, pois não há provas de que são milagres?
Quanto a
estudos científicos que tentam entender esses supostos milagres, só demonstram que
a ciência não é dona da verdade, como os religiosos apregoam. Se houvesse, no
entanto, conclusões definitivas, estaríamos vivendo num mundo muito melhor. Uso
sempre o exemplo do café. Há pesquisas provando que o café faz bem, outras provando
que o café faz mal. Como gosto de café, acredito nos estudos que aprovam a
bebida. Assim, existem estudos que mostram possibilidades de milagres e há
estudos que mostram outras respostas. Quem acredita em milagres vai continuar
acreditando de qualquer forma.
“Mas como o
fulano curou sua dor de barriga só com a imposição das mãos do pastor?” Ora, então
tudo que não tem uma explicação inicial é resultado de uma ação divina? É mais
ou menos isso que os antigos pensavam. Se caía um raio, e a ciência ainda não
tinha uma resposta, logo, foi um deus. Simples. O cara chegou em casa com uma
marca de batom e a mulher perguntou: “Como você explica isso?” Ele respondeu: “Não
tenho como explicar”. E ela: “Nossa! Deus usa batom!”
O
protagonista da série televisiva Dr.
House faz diversos diagnósticos e erra seguidamente. Possíveis curas podem
(veja, digo, podem) ser diagnósticos errados no início. Aí você vai dizer: ah,
o Dr. House é ficção. Pois é, é
ficção, assim como o causador de milagres.
“Mas o fulano
foi curado depois de termos rezado muito por ele.” Sim, rezaram, o fulano foi
curado, mas por um médico.
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Estais sob o efeito do café!