Traçando o livro do Humberto Gessinger hoje
Minha coluna, que durante as férias foi quinzenal, traz hoje o mais recente livro do líder dos Engenheiros do Hawaii.
http://www.grupogaz.com.br/gazetadosul/noticia/434618-seis_paragrafos_sobre_hg/edicao:2014-03-05.html
http://www.grupogaz.com.br/gazetadosul/noticia/434618-seis_paragrafos_sobre_hg/edicao:2014-03-05.html
6 parágrafos sobre HG (ou O arquipélago hawaiiano)
1
Pra entender o mundo
ao seu redor (o mundo é que gira ao seu redor ou você é que gira ao redor do
mundo?) é preciso seiscentos anos de estudo ou Seis segundos de atenção
(Belas Letras, 167 páginas), segundo nos diz Humberto Gessinger (HG ou @1berto
para os íntimos ou não tão íntimos assim) em uma de suas letras, que não por
acaso estampa a quarta capa do livro.
2
Gessinger, para mim,
é o melhor letrista do rock brasileiro. Como líder dos Engenheiros do Hawaii, e
agora em carreira solo, faz de sua canções uma poesia
filosófica-existencial-intertextual-pop-intelectual-regionalista-universal.
Fora da grande mídia, continua experimentando artisticamente novas formas de
expressão, entre elas a produção de crônicas em um blog, cujas postagens
acontecem religiosamente à meia-noite de terça-feira e são aguardadas pelos fãs
que disputam a honra de quem será o primeiro a comentar. Parte dessas crônicas
foi reunida neste seu 5° livro.
3
Se em Pra ser sincero: 123 variações sobre o mesmo
tema a obsessão de Gessinger era com o número 3, aqui ele multiplica por 2
a conta. Os títulos de algumas crônicas reforçam isso: “Sexta-feira santa”,
“Seis pilhas pro meu rádio”, “Seiscentos anos de estudo”, “Seis sentidos na
mesma direção”, “Seis variações sobre o mesmo tema” e por aí vai.
4
“Dizem que ser
genial é ver o óbvio antes dos outros”, escreve na crônica “A força do
silêncio”, lembrando a obra 4’33’’, de
John Cage. HG tem momentos de genialidade em suas crônicas, quando relata, por
exemplo, em “Aerodinâmica num tanque de guerra”, o estranhamento que sentiu ao
ouvir um grupo de pagode cantando uma versão alegre da música “Sunday bloody sunday”,
do U2, que retrata o chamado “Domingo sangrento”, que aconteceu na Irlanda em
1972. Eu também tive a mesma sensação, mas ele teve antes.
5
Em “Zeitgeist”, HG
comenta sobre as redes sociais, mencionando o comportamento das pessoas em
bate-papos em que ele participou sobre temas desde os mais prosaicos até os
mais complexos intelectualmente. Nota que “muito rapidamente uma discordância
virava um estranhamento que descambava para a ofensa”. Há uma necessidade muito
grande das pessoas de “emitir juízos definitivos” sobre tudo em comentários na internet
e uma dificuldade igualmente enorme de entender a existência de um pensamento
diferente. Contar até seis e se acalmar poderia ser uma solução, mas quem está
atrás da tela se sente poderoso e tem seis motivos pelos menos para manter sua
ira.
6
O livro também reúne
as letras do mais recente CD do Humberto Gessinger, o primeiro solo, Insular,
título que por si só já renderia
uma análise: a palavra designa o que está isolado, ilhado. Desmembrando-a,
temos o termo in, que traduzindo do inglês significa “dentro”, mais as
palavras sul e lar. Mas in também pode ser o sufixo de negação. Ou seja,
o artista é regional, mas também é universal. Como ele escreveu no seu blog, insular
é “a crença de que todo artista constrói um mundo próprio
com sua arte e a vontade de conectar estas ilhas com pontes que respeitem suas
particularidades.” Com seus discos e livros, mais os ouvintes e leitores, HG forma
um arquipélago.
Cassionei Niches
Petry é professor, mestre em Letras e escritor. Publicou Arranhões e outras feridas (Editora Multifoco).
Escreve regularmente para o Mix e mantém um blog, cassionei.blogspot.com. Nos anos 90, era um garoto que não amava os Beatles
e os Rolling Stones, mas amava os Engenheiros do Hawaii.
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