Professor Stoner
Stoner, de John Williams, lançado por aqui
pela novata editora Rádio Londres, com tradução de Marcos Maffei, ficou
esquecido durante muito tempo. Publicado nos Estados Unidos em 1965, não teve
muita repercussão. Quase vinte anos depois da morte do autor em 1994, a obra
foi redescoberta a partir de uma edição francesa. Fico pensando na quantidade
de boas obras literárias como essa que são desprezadas hoje e que não vão ter a
mesma sorte de serem valorizadas.
Temos aqui a vida de
William Stoner. Filho de camponeses muito pobres, seus pais o aconselham a
estudar no curso de agricultura da universidade, a fim de tocar para frente o
negócio da família. No entanto, como acontece com quase todo o jovem, a
universidade, quando bem aproveitada, torna-se um fator de mudanças profundas
na vida do indivíduo. Cursando uma disciplina obrigatória para todos os
estudantes, literatura inglesa (que bom seria se por aqui fosse assim!), Stoner
encontra Archer Sloane, exigente
professor que lhe faz uma pergunta sobre um poema de Shakespeare. A questão o
faz repensar sua existência (“Tomou
consciência de si próprio como nunca antes lhe acontecera.”) e os
caminhos que estava seguindo. Resolve trocar de curso e estudar Literatura.
A paixão que acaba adquirindo pelos livros (“Por vezes, imerso nos seus livros, tomava
consciência de tudo o que não sabia, que não lera, e a serenidade à qual
aspirava estilhaçava-se, quando percebia o pouco tempo de que dispunha na vida
para ler tanta coisa, para aprender o que queria.”) o faz terminar o curso e depois se
doutorar, chegando, por fim, a ser professor na mesma universidade. A
literatura torna-se o seu refúgio, companheira de sua solidão, mesmo depois de
se casar com Edith, personagem contraditória, e ter uma filha, Grace, uma das
personagens mais tristes do romance, povoado de gente assim. Nem mesmo a
aventura com a amante, Katherine Driscoll, sua aluna de pós-graduação (sim,
aquele cara meio bobo tinha o seu quê de safadinho também), tampouco as brigas
com o colega, e depois chefe, Lomax e com o aluno brilhante, mas relapso, Walker
(dois vilões em boa parte do enredo), o fazem se afastar da sua pacata vida de
aulas, correções, apontamentos, orientações.
Logo nas primeiras
linhas, o narrador nos revela a data em que Stoner irá morrer. A forma como são
narrados seus últimos dias, no entanto, deixa o leitor travado, emocionado. É um
pouco piegas, confesso, mas a tristeza que nos abate no final é inevitável. Dá
para se dizer, portanto, que o romance pode agradar a leitores mais exigentes e
aos nem tanto. Como sou exigente, diria que não é uma obra-prima, como muitos
estão afirmando. Entretanto, vale a leitura.
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