O veneno da religião segundo Hitchens
Escritor e jornalista, Christopher Hitchens –
que morreu em 2011, aos 62 anos, devido a um câncer no esôfago – era um dos
“Quatro Cavaleiros do Ateísmo”, juntamente com Richard Dawkins, Daniel Dennett
e Sam Harris. A denominação é uma brincadeira com a profecia bíblica do
Apocalipse, já que esses pensadores lideram um movimento – chamado neo-ateísmo
– de combate à religião e a tudo de nefasto que ela traz. Hitchens expôs essa
ideia em Deus não é grande – como a religião envenena tudo lançado
em nova tradução pela Globo Livros.
O autor inicia o livro falando sobre sua professora
na escola primária, a Sra. Watts, que ensinava sobre a natureza e as
Escrituras. Em uma das aulas, ela afirmou que Deus, poderoso e generoso, teria
criado as árvores e a grama verdes, por ser a cor mais repousante para os
olhos. O pequeno Hitchens, de apenas 9 anos, percebeu o falso conceito da
professora, pois, pela lógica, os olhos estão ajustados à natureza, não o
contrário. O episódio destruiu não só a admiração que o aluno nutria pela
professora, como também sua fé.
A partir desse momento, começou a notar “outras
esquisitices”: “Por que, se deus era o criador de todas as coisas, devíamos
‘louvá-lo’ tão incessantemente por fazer o que lhe vinha com naturalidade? Além
de tudo era algo servil. Se Jesus podia curar uma pessoa cega que encontrasse
por acaso, então por que não curar a cegueira? (...) E todas aquelas preces
incessantes, por que não davam resultado?”. Nascia aí, bem jovem, o ateu
polêmico.
Os capítulos subsequentes (com títulos como “A
religião mata” e “A religião é abuso infantil?”) trazem informações críticas
sobre como as religiões, principalmente as monoteístas, tentam de todas as
formas serem as donas de uma verdade absoluta, impondo aos demais sua crença.
Os argumentos utilizados por Hitchens se valem, além das histórias pessoais, de
análise de textos religiosos e relatos documentados. O 11 de setembro, por
exemplo, é uma presença constante no livro, uma vez que o extremismo religioso
islâmico foi o motor das ações terroristas, justificadas por passagens do
Corão. O islamismo também é criticado pela sentença de morte contra o escritor
Salman Rushdie, depois das publicação de Versos Satânicos, o que
obrigou seu autor a viver durante anos sob forte aparato de segurança.
O livro também reserva espaço à Madre Teresa de
Calcutá. Hitchens conheceu de perto o trabalho da religiosa ao realizar uma
reportagem e escreveu um livro (The Missionary Position) sobre o falso
interesse dela pelos pobres, o que o levou a ser convidado pelo Vaticano para
ser o “Advogado do Diabo” no processo de beatificação da freira, pois também
havia desmascarado um falso milagre atribuído a ela. Em Deus não é
grande, Christopher (nome irônico para um ateu, não acham?) a chama de
“freira ambiciosa”.
É importante que se diga: o livro de Hitchens não
se propõe a converter ninguém, como apregoam seus detratores. Deus não
é grande deve ser lido, afirmo eu, por quem já é descrente e procura
se aprofundar no assunto, já que a obra é repleta de informações de quem, como
jornalista, conhecia bem a realidade mundial e não tinha medo de expor suas
críticas às religiões, que “ensinam as pessoas a pensar abjetamente em si mesmas,
como miseráveis e culpados pecadores prostradas diante de um deus zangado e
ciumento”. Como afirmou Richard Dawkins, ao se despedir do amigo no funeral,
Hitchens “foi um homem que lutou contra todos os tipos de tiranos, incluindo
Deus”.
Comentários
Obrigado pela indicação!
Um forte abraço!