Sobre “The Sunset Limited”, de Cormac McCarthy
Quem me lê sabe que o suicídio me
atrai. Como tema de estudo, claro, sobretudo na literatura. Outro assunto sobre
o qual me debruço vez ou outra é o ateísmo. Disto sim eu sou adepto. Por isso
me detive algumas horas deste dia de folga para ler a peça teatral, ou romance
em forma dramática, “The Sunset Limited”, de Cormac McCarthy. (Vale acrescentar
que a capa da edição norte-americana tem uma xícara de café, outra coisa que me
atrai. E muito.)
Há tempos estava querendo ler a obra
antes de assistir a adaptação de Tomy Lee Jones, um telefilme que conta com
Samuel L. Jackson no papel do negro e o próprio
Lee Jones no papel do branco. Vou tentar assistir ainda neste fim de semana. Um
filme obviamente pouco conhecido, pois não há ação e as cenas se passam todas
em um único lugar e somente com dois atores. Um filme de ideias, se seguiu o
original, e que por aqui recebeu o título “No limite do suicídio”.
A peça toda se passa no apartamento de
um ex-presidiário recuperado e religioso fervoroso, denominado na rubrica apenas
por “negro”. A seu lado, um professor ateu, cuja rubrica indica “branco”, que
havia há pouco tentado se jogar nos trilhos do trem e foi salvo justamente pelo
dono da casa, que não o deixa sair, receoso de que voltasse a tentar a se
suicidar. O que se vê ao longo das 70 páginas é um sólido diálogo não só sobre
a crença e a descrença, mas também sobre o altruísmo e o egoísmo, o otimismo e
o pessimismo, a vida e a morte, a amizade e a solidão.
Eis alguns trechos, numa tradução
livre. Logicamente, pela minha visão de
mundo, acabei destacando as ideias de um dos personagens:
"BRANCO: A visão pessimista é sempre a correta. Quando
lemos a história da humanidade, estamos lendo uma saga de derramamento de
sangue, de cobiça e de loucura, cujo alcance ninguém pode ignorar. Ainda assim,
imaginamos que o futuro será de alguma maneira diferente. Não tenho nem ideia
de como estamos, mas o que é certo é que não vamos durar muito mais."
“BRANCO: Você acha que minha cultura
está me empurrando ao suicídio, não?
NEGRO: Pra você, por que você acha
que as pessoas se suicidam?
BRANCO: Não sei. Por razões
diferentes.
NEGRO: Ok, mas essas razões
diferentes não têm algo em comum, digamos?
BRANCO: Não posso falar pelos outros.
As minhas giram em torno de uma perda gradual da fantasia. Isso é tudo. Um
lento esclarecimento quanto ao caráter da realidade. Do mundo.”
“BRANCO: Minha ideia é
que o mundo, basicamente, é um campo de trabalhos forçados do qual a cada x
dias retiram uns quantos internos (todos eles completamente inocentes) a fim de
executá-los.”
“BRANCO: Eu não acredito em Deus. É tão difícil de
entender? Olhe ao seu redor, cara. Você não vê? O grito indescritível dos que
sofrem deve ser para ele o mais agradável dos sons.”
Comentários