De certezas e não-certezas vamos vivendo
Gostaria de ter a certeza
que muitas pessoas têm. Elas acreditam tão fielmente nas suas verdades e acham
que os demais estão errados, são “massa de manobra”, “corrompidos pelo sistema”,
“ovelhinhas do capitalismo”. Por incrível que pareça esses chavões ainda
persistem. Eu próprio caí em muitos deles. E ouvi essas frases feitas por estes
dias.
Mas se duvidarmos
das nossas certezas, veremos que não são apenas os outros a “massa de manobra”.
Se alguém diz, por exemplo, que não devemos simplesmente aceitar a tal da PEC (qual
o número dela agora?), pois estaríamos sendo manipulados, devemos nos perguntar
se quando somos contra porque nos disseram que ela é ruim, não estaríamos
servindo da mesma forma de fantoches de alguém. Vejam que coloco tudo no plural
porque me incluo como um cara que acaba sendo dirigido, robotizado, pois
desconheço o assunto, meus interesses são outros. Minha opinião acaba sendo
pautada por terceiros, por isso não exponho para não passar vergonha depois. Ou
seja, não vou falar que sou contra nem a favor, pois não tenho a capacidade
para analisar o assunto, tampouco li a proposta para saber que tudo que me
dizem faz sentido. E olha que sou bombardeado todos os dias por opiniões
distintas.
Penso sobre o
assunto depois de me lembrar de um Rap que escrevi em fins dos anos 90, início
dos anos 2000. Quando leio os versos que escrevi, não me reconheço, ou melhor, reconheço
um jovem cujas opiniões não eram próprias, eram orientadas por seus amigos, pelos
seus pares na arte que praticava, pelas músicas que ouvia, pelos livros,
artigos e entrevistas que lia. Era um ser totalmente alienado e que achava que
os outros o eram.
Hoje tento ter uma
visão individual, porém, até sem saber, ela continua sendo influenciada pelas
coisas que leio, pelas informações que recebo, pelo que “os outros dizem”. Lógico
que tento colocar tudo numa balança, equilibrar e, a partir daí, estabelecer
minha análise pessoal. Estaria, porém, mentindo para mim mesmo se dissesse que
não sou influenciado.
Por isso que a
literatura, de certa maneira, me conforta, mesmo se me tira do clichê da zona
de conforto. Sua incerteza, seu desequilíbrio, sua incoerência, às vezes até
sua covardia, sua alienação, sua fugacidade, sua submissão, sua confusão me dão
o chão, ou me tiram esse chão, me sustentam ou me derrubam, no entanto não
deixam minha mente se conformar, parar de funcionar, fazem-na mudar
constantemente. Isso angustia, mas uma vida sem angústia é muito chata de ser
vivida.
Não, não tenho
certeza sobre isso que escrevi. A escrita às vezes tenta ordenar meu
pensamento, o caos que tenho dentro de mim, tenta buscar um norte. Saio, porém,
desnorteado da imersão em um texto literário de um grande autor e ao ficar sem
rumo encontro um caminho. Saber que o mundo é esse caos e que minha cabeça é só
uma peça dessa máquina avariada é o que conduz minhas elucubrações. É um
sentido para a existência.
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