Uma crônica paranoica
Observe, caro
leitor, este curto poema de Carlos Drummond de Andrade chamado “Cota zero”: “Stop./ A vida parou/ ou foi o automóvel?”.
Minha interpretação dos versos sempre relaciona a vida ao homem e o automóvel à máquina. Se
respondermos a pergunta dizendo que foi o homem que parou, podemos dizer que, em
consequência disso, a máquina também vai parar, afinal somos nós que a ativamos.
Por outro lado, parando a máquina, o homem também para, pois estamos nos
tornando tão dependentes da tecnologia que não fazemos nada sem clicar botões.
O resultado disso está no título do poema, pois a nossa cota de participação no
mundo será zerada: já há máquinas que criam, acionam e fazem a manutenção de
outras máquinas. Sobrará algo para nós?
A ficção científica
discute há muitos anos a questão. As histórias de robôs (e para mim toda
máquina é um robô em potencial) ora os mostram como vilões, ora como aliados. Um
conto de Harl Vincent, “Rex”, de 1934, época próxima do poema drummondiano, traz
um autômato desenvolvido que realizou um golpe para se tornar o rei da
humanidade. Já Isaac Asimov criou para seus contos e romances as “três leis da
robótica”, que proíbem os robôs de fazerem algum mal para o ser humano. Isso
pelo menos no âmbito ficcional.
Quando penso numa
possível dominação das máquinas, vejo assustado os olhares fixados nas telas
dos celulares, os dedos nervosamente digitando, os corpos excitados depois de
ouvirem o sinal sonoro ou perceberem a luz que acende, como animais
condicionados em laboratório reagindo sob estímulos. Os aparelhos móveis, que
hoje fazem de tudo, despertam o meu lado paranoico. Assusta-me a possibilidade
desses pequenos robôs dominarem de tal forma o ser humano, fazendo-nos abrir a
guarda para a chegada de autômatos maiores, que poderão controlar o mundo e
relegar ao ser humano o papel de escravos, numa vingança premeditada há
décadas, apesar de estarmos sendo alertados pela ficção.
Digito essas
palavras justamente em uma máquina, o computador, que vez ou outra parece não
atender os meus comandos, tranca teimosamente, fica lento na hora em que eu
mais preciso de agilidade. Parece ter vida própria. A resposta realista é a
possibilidade de que algum vírus (metáfora que deveria aumentar nossa paranoia)
tenha infectado os programas. Os vírus, dizem, são criações de seres humanos
com o intuito de obter informações de seu computador, dados pessoais que possam
ser usados para crimes. Deve existir, porém, vírus criados pelas próprias
máquinas. Não me surpreenderei no dia em que a tela escurecer e um emoji aparecer para me dizer “olá, humano,
você agora está sob o meu comando”.
Meu lado cético,
geralmente predominante, duvida de teorias conspiratórias. Já meu lado
paranoico, porém, cada vez que vê uma pessoa absorta em seu celular, tem medo
de uma possível dominação das máquinas. Espero que isto nunca venha a acon#@ ((()))&*%1!!bzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
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