"Esquerda ou direita: é preciso escolher?", meu artigo no jornal Gazeta do Sul de ontem
Esquerda ou
direita: é preciso escolher?
Já fui ligado à
política na juventude. Influenciado pelo movimento Hip Hop, eu era de esquerda,
preocupado com questões sociais. Era petista, daqueles que usavam estrelinha no
peito. Entrando na universidade, minha ideologia foi fortalecida, afinal os
professores que não eram indiferentes à política faziam questão de demonstrar
seus ideais esquerdistas, a admiração pelo socialismo, o ódio à direita. Na
aula de didática, no lugar de práticas de ensino, aprendi a criticar a visão
neoliberal e capitalista que acabava com a educação. Fui muito bem doutrinado. Emocionei-me
com o Lula eleito.
Algo, porém, me
inquietava. Não conseguia aceitar a visão coletivista do esquerdismo. Os que
criticavam a condição do povo como massa de manobra do capital se tornavam uma
massa obediente aos ditames socialistas. Minha individualidade estava ameaçada.
Porém, conheci livros e sites da internet que reconheciam a importância do
indivíduo. As letras do Neil Peart, baterista da banda Rush, também começaram a
me fazer refletir sobre o homem frente à massa. Esse pensamento, no entanto, é
relacionado à “direita” e para mim isso era uma ofensa. Era o que minha mente
ainda presa à esquerda pensava.
Boa parte da
direita, infelizmente, mantém uma postura religiosa dogmática, e criticam os
ateus como eu. Por isso, hoje digo que estou em cima do muro, com uma visão
privilegiada dos dois lados. Todas as manifestações dos últimos anos, sejam as
dos “mortadelas”, sejam as dos “coxinhas”, foram observadas aqui de casa, pela
TV e pela internet. Não saio às ruas porque não quero parecer uma ovelha a mais
no rebanho.
O que me incomoda é
a visão simplista de meus pares intelectuais (professores, escritores,
filósofos, artistas) tentando defender a todo o custo o governo que foi deposto.
Há uma subserviência incrível a um partido que partiu não só o Brasil como a
própria esquerda. Penso que a falta de independência política limita a ação
desses intelectuais que fingem não enxergar a realidade de miséria que vivemos
em todos esses anos (não começou só agora) e a corrupção que atingiu altos
níveis justamente com seus heróis.
Esquerda e direita
já estiveram no poder. O que mudou? Os Engenheiros do Hawaii já cantavam nos
anos 80: “Esquerda e direita, direitos e deveres,/ Os 3 patetas, os 3 poderes/
Ascensão e queda, são dois lados da mesma moeda/ Tudo é igual quando se
pensa/Em como tudo poderia ser/ Há tão pouca diferença e há tanta coisa a
fazer.” Uma das coisas a fazer é reconhecer que existe tanto ditadura de
direita como de esquerda. Ambas são indesejáveis.
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