Resenha sobre "Contra um mundo melhor", de Luiz Felipe Pondé
Em mais uma colaboração com o blog do Gustavo Nogy, escrevo sobre "Contra um mundo melhor", do Luiz Felipe Pondé (Editora Contexto):
http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/gustavo-nogy/2018/03/29/ensaios-bem-ponderados/
Ensaios bem ponderados
por
Cassionei Niches Petry
Contra
um mundo melhor – ensaios do afeto inaugurou, em 2010, uma
série de títulos populares de Luiz Felipe Pondé, surgindo na onda do sucesso de
suas colunas na Folha de São Paulo e o transformando em um best-seller
improvável. A Editora Contexto lança agora uma nova edição do livro (a
terceira), com a foto do filósofo na capa, coisa não muito comum por aqui.
Também é estranho que na campanha de divulgação não há nenhuma menção ao fato
de o volume não ser inédito.
De
qualquer forma, a publicação desses textos curtos, alguns de não mais de meia
página, traz de novo um belo livro à tona. É o mais pessoal do escritor, pois declara
sua forma de viver (“Detesto a vida perfeita”) e define algumas teorias que vão
perpassar sua trajetória, como a do “jantar inteligente”, da “tradição trágica”
(“o que nos humaniza é o fracasso”) e a “filosofia do afeto”.
Pondé
incomoda, inclusive aqueles que não o leem. Em uma conversa nas salas dos professores,
um colega me disse: “não gosto do Pondé por ele ser direitista, e eu sou de
esquerda!”, como se fosse um demérito o fato de se pensar ideologicamente de
forma distinta. O filósofo também incomoda certo setores da direita por se
posicionar, por exemplo, a favor do casamento gay. Incomoda da mesma forma os
ateus como eu, apesar de ele também ser um, pois não concorda com os militantes
ateístas e considera o fato de não acreditar em deuses algo tão fácil que até
uma criança de 8 anos pode deixar de acreditar. “Para mim, Deus permanece uma
ideia elegante”, declara.
Quando
afirma que é contra um mundo melhor, incomoda os otimistas, os utópicos,
aqueles que lutam por igualdade e felicidade para todos. “Tenho medo de pessoas
muito felizes”, afirma no prefácio. No primeiro ensaio, denominado
“Imperfeição”, acrescenta: “acho um mundo de virtuosos (...) um inferno”.
De
Cioran a Nelson Rodrigues, passando por Montaigne, Nietzsche e Kafka, o diálogo
com pensadores e escritores é uma constante nos ensaios. Alguns eram
desconhecidos e passaram a ganhar espaço nos debates no Brasil bem depois das
citações de Pondé. É o caso de Michel Oakeshott.
Falta
no Pondé, no entanto, um cuidado maior com a escrita. O uso quase que exclusivo
da conjunção “mas”, por exemplo, em detrimento de outras adversativas, muitas
vezes abrindo com ela uma frase depois do ponto, empobrece o texto, mesmo que o
objetivo seja aproximar o pensamento filosófico do público leigo. Pode-se dizer
que ele é um bom pensador, mas, ou melhor, porém, não se pode dizer que seja um
bom escritor. Há também algumas afirmativas estranhas como a de que Guilherme
de Ockham foi imortalizado por Umberto Eco através de um personagem do romance O nome do rosa, como se o conceito da
navalha de Ockham não fosse o suficiente para deixar o nome do teólogo na
História.
Apesar
disso, vale sempre a leitura dos textos de Luiz Felipe Pondé, pela quebra de
alguns paradigmas atuais e a crítica certeira a determinados sujeitos
contemporâneos, como os “inteligentinhos” e o pessoal que faz o bem mais como um
projeto de marketing pessoal do que por altruísmo. Com o perdão do péssimo
trocadilho, são ensaios bem ponderados.
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