A Feira do Livro também é dos gibis



(Gazeta do Sul, 05/09/2018)

A Feira do Livro de Santa Cruz do Sul dá um destaque merecido às histórias em quadrinhos. Vale sublinhar que a feira é de todo tipo de livro, e não apenas um evento literário. Existem HQs publicadas em formato livro mas, mesmo se não o fossem, as “revistinhas” são uma iniciação ao universo da leitura. Minha vida de leitor, por exemplo, começou com a coleção de gibis dos meus tios. Depois de adulto continuei buscando esse tipo de entretenimento e inclusive na extinta coluna sobre livros que mantive neste jornal escrevi sobre obras como a graphic novel Sandman, do Neil Gaiman, ou as tiras de André Dahmer reunidas em Vida e obra de Terêncio Horto.

Apesar dessa importância, há quem insista a todo custo em dizer que HQ é literatura. Não, não é. Tampouco é necessário rotulá-la assim para que seja considerada arte. Existe até um termo correto para denominá-la, proposto pelo mestre do gênero Will Eisner: arte sequencial.

O processo de elaboração de uma história em quadrinhos é diferente do processo literário. O escritor elabora um roteiro que será ilustrado, diagramado e colorido por ele mesmo ou outros artistas. O objetivo final é chegar a uma história, uma narração, em que a imagem se complementa com as palavras e às vezes nem necessita delas. A literatura, por sua vez, é tão-somente a arte da palavra. Se há ilustrações, elas são apenas o complemento.

O escritor de HQ, portanto, escreve roteiro, que não faz parte de nenhum gênero literário, pois seu objetivo é guiar os passos de uma produção de audiovisual ou de imagem. A HQ tem suas linguagens e recursos próprios, fazendo parte de um sistema distinto do literário.

Ao dizer que HQ não é literatura não se está desmerecendo-a, bem pelo contrário. Ela não precisa estar atrelada a nenhuma outra arte porque ela existe por si só, sendo inclusive chamada de Nona Arte. A música (1ª Arte), a dança (2ª), a pintura (3ª), a escultura (4ª) e o teatro (5ª) não são literatura (6ª), assim como não o são o cinema (7ª) e a fotografia (8ª). Por que a história em quadrinhos seria? Não há, portanto, preconceito, como muitos afirmam, em dizer que HQ não é literatura. Muito menos é um pensamento retrógrado e sim uma valorização de uma forma de arte autônoma.

De qualquer forma, temos na praça ofertas de HQs desde as mais populares até as mais elaboradas artisticamente. Muitas são de artistas daqui da cidade ou da região. Aproveite, leitor, compre e leia, não se esquecendo também de pôr na sacola pelo menos um bom livro de literatura.

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