Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nas redes sociais
(por Cassionei Niches Petry)
A dona da voz que ajudou a imortalizar o verso também era
uma artista e um ser humano com todos os seus defeitos e incoerências. Dizia o
que queria e causava polêmica, não baixava a cabeça, criticava os que governavam
o país durante o auge de sua carreira. Tenho orgulho de dizer que é gaúcha como
eu. Como todo artista, é idealizada por seus fãs e também por pretensos
admiradores que detém o poder de entendê-la e têm certeza, mais do que a
própria família, do que ela pensaria hoje sobre determinado assunto.
Pois esses especialistas em tudo nas redes sociais, ajudados
por gente inteligente e culta que, como todo ser humano, é incoerente, critica
uma propaganda de uma marca de carros por ter usado a música de Belchior e a
voz e a imagem (através da IA) de Elis Regina, sendo que eles eram contra o
capitalismo, a ditadura e a opressão que a empresa apoiou. Ao que parece, essas
pessoas andam em automóveis específicos, imaculados, de marcas que não são do império
capitalista americano ou que não tiveram ligações com o fascismo na Itália ou
apoiaram o nazismo. Jamais andaram em um Fusca, um Monza, um Uno, por exemplo.
Outro ponto é justamente a idealização de artistas,
principalmente os já falecidos. Quando lemos sobre a vida de quase todos eles,
nos damos conta que muitas vezes suas obras não representam o que criam ou
interpretam. Toda a arte é ficção, não é real, embora possamos, como
apreciadores, interpretá-la de várias formas. “Como nossos pais” pode ser uma
crítica a uma geração, como também pode ser uma crítica ao “vil metal”, embora
compositor e cantora lucraram muito com a canção, assim como seus herdeiros,
que aprovaram sua utilização no comercial e até participaram, no caso Maria
Rita, filha da cantora. Ah, esses artistas não recusavam se apresentar numa
emissora de televisão que apoiou a ditadura e também faz tudo pelo “vil metal”!
A letra da música pode ser uma crítica a ”você que ama o
passado”, aos chatos da internet que ainda são e vivem “como nossos pais”, que
acham que ainda “somos jovens” e que “nossos ídolos ainda são os mesmos”. Mas “as
aparências não enganam, não”. Os ídolos continuam “contando os seus metais”.
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