"El problema final", de Arturo Pérez-Reverte

 

Elementar, meu caro leitor

por Cassionei Niches Petry 


O espanhol Arturo Pérez-Reverte é um escritor apaixonado pela literatura. Por mais incrível que possa parecer, esse tipo de escritor é raro. Há quem use a literatura como ferramenta política, há quem a use para se promover intelectualmente, há quem goste de escrever, mas lê muito pouco. Pérez-Reverte é do time daqueles que gostam da literatura de todos os matizes, da mais popular à mais erudita, dos livros de aventura a histórias herméticas e enigmáticas. Faço o uso errado desses extremos, pois eles não são extremos. Existem livros bons e livros ruins e é isso.


Pérez-Reverte não só gosta como também escreve livros de vários gêneros. No seu livro mais recente, lançado por enquanto só no mundo hispânico, ele faz uma homenagem ao gênero policial. El problema final faz referência já no título ao conto de Arthur Conan Doyle em que Sherlock Holmes teria morrido, em luta com o vilão Moriarty. Atendendo a pedidos dos leitores, o autor teve que “ressuscitar”  seu personagem. Na história de Pérez-Reverte, o “ressuscitado” é o detetive do cinema, representado por Basil Rathbone em várias produções hollywoodianas. O ator é rebatizado como Hopalong Basil e está isolado em uma ilha na Grécia devido a uma tempestade. Com ele, no único hotel, mais precisamente a única edificação do lugar, mais oito hóspedes, a proprietária, o gerente, um garçom e uma camareira. Na primeira noite, uma das hóspedes é encontrada enforcada no pavilhão da praia. Supostamente, foi um suicídio, pois o lugar estava fechado por dentro. Alguns fatos, porém, levam à suspeita de que possa ter acontecido um assassinato. Trata-se, então, de um caso do tipo “quarto fechado”, como no conto “Os crimes da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe. Como a polícia não pode ir à ilha por causa do mau tempo, os sobreviventes escolhem Basil para investigar, afinal, ele interpretou o famoso detetive inúmeras vezes.


O papel de Watson acaba ficando com Paco Foxá, um escritor de ficção policial que é vendida em bancas de revistas. Com amplo conhecimento do gênero, assim como Basil, os dois acabam promovendo deliciosos diálogos sobre romances e filmes de crimes e suas resoluções, assim como questionam sobre o papel importante do leitor na interpretação desse tipo de enredo. O romance, portanto, vai da metanarrativa ao romance-problema, resultando, portanto, não só num livro de entretenimento, como também numa obra mais ao gosto da crítica acadêmica, digamos assim.


Em uma das conversas, Basil afirma: “O que mais me fascina é a arte narrativa do engano”. Foxá acrescenta: “Nos bons romances com enigma, a solução está à vista desde o princípio” (tradução minha). Pérez-Reverte se sai bem nesse quesito, pois cheguei a achar que tinha descoberto o nome do criminoso, o qual seria muito óbvio, e quase que Basil confirmou minhas suspeitas. No final, porém, há uma reviravolta muito bem arquitetada e que nos surpreende, embora a explicação seja muito longa, quebrando o clímax, sem, no entanto, tirar o brilho da obra.


Arturo Pérez-Reverte tem algumas obras publicadas no Brasil, como O clube Dumas adaptado por Roman Polanski no cinema com o título O último portal. El problema final merece também ser traduzido por aqui.

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