25 DE JULHO, DIA NACIONAL DO ESCRITOR

(Minha crônica no jornal Gazeta do Sul de hoje.)

Sabe aquela frase: “Poderia estar matando, poderia estar roubando, poderia estar me prostituindo”? Pois é quase isso que o escritor faz. Ele mata personagens e rouba o tempo de quem lê. Mas é com a profissão mais antiga do mundo que a comparação é mais certa. Só que o escritor se vende pelo preço mais baixo possível, deixa-se usar por cafetões que o exploram, frequenta lugares onde talvez encontre alguém que deseje seu corp…, digo, livro, às vezes o oferece até de graça e, mesmo assim, muitos não o querem.

Há aqueles que colocam seu produto em casas de tolerância sofisticadas, onde inclusive se encontram bebidas como o café para vender. O leitor apalpa o produto, abre suas per..., digo, páginas, cheira, mas acaba apenas bebendo o nobre líquido negro porque não tem mais dinheiro para gastar.

Há aqueles escritores que colocam seu produto à venda em sites, mas ele fica apenas lá, exposto em fotos com poses de gosto duvidoso. O leitor olha, talvez até com desejo. Não passa, no entanto, do voyeurismo. Há até aqueles que já provaram do produto e o elogiam nos comentários. Outros cospem no prato em que comeram e desaconselham sua compra.

Há escritores que expõem o que escrevem na rua, nas esquinas, nas saídas dos bares. Atacam possíveis leitores abrindo as per..., ou melhor, as páginas do seu produto para mostrar seus atributos. O provável leitor pergunta pelo preço, pega na mão, acaricia. Acaba, no entanto, não comprando. O escritor faz um preço mais camarada, entretanto o sujeito diz que está com pressa, atrasado para pegar o ônibus para o trabalho ou que não é chegado nessas coisas.

Há escritores que oferecem de graça seu produto na internet para ser baixado e apreciado na tela. O leitor, porém, não quer apenas um relacionamento virtual. Gostaria de ter o objeto em capa e miolo na sua estante, apesar de alegar, com razão, que prefere apreciar outros produtos oferecidos por cafetões mais famosos.

O escritor, então, veste sua roupa e vai procurar um emprego que lhe sustente e que lhe possibilite ficar, nos finais de semana, na sua biblioteca, somente sob a luz de um abajur, dedilhando e acariciando as teclas do seu computador, numa relação com ele mesmo. Um prazer, portanto, solitário.

Cassionei Niches Petry – professor e escritor, autor de Desvarios entre quatro paredes, Editora Bestiário.

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