Somos ignorantes


Somos ignorantes

A expressão ignorante, infelizmente, ganhou um tom pejorativo, ofensivo muitas vezes. Vai alguém chamar o outro de ignorante!
Todos, no entanto, somos ignorantes. Eu sou. Tu, que me lês, também és. Alguns são “ingnorantes” (sic), outros “igonorantes” (sic). Ah, tu não sabes o que significa sic? És um ignorante.
Pois é, até Sócrates (o filósofo, não o jogador de futebol, seu ignorante!) se dizia ignorante: “só sei que nada sei”, afirmava ele. Ora, justamente por isso, o oráculo de Delfos confirmou ser ele o mais sábio dos homens. Quando assumimos que não sabemos tudo, somos sábios. Porém, é lógico que seremos sábios não apenas assumindo a ignorância, mas procurando o conhecimento.
Por isso, não concordo quando chamam o dicionário de “amansa burro”. Ora, quem procura o Aurélio ou o Houaiss, entre tantos outros, busca o significado de alguma palavra que não conhece ou a forma correta de escrevê-la. O dicionário, na verdade, é o “Pai dos inteligentes”.
Então, qual é a diferença entre o ignorante e o burro? É simples: o burro não sabe e prefere não ficar sabendo. O ignorante não sabe, mas busca saber, busca o conhecimento. Anota aí: todo burro é ignorante, mas nem todo ignorante é burro.
Mas voltando a Sócrates. O filósofo, cuja mãe era parteira, se dizia “parteiro de idéias”, pois fazia com que seus discípulos trouxessem à luz o conhecimento escondido dentro de cada um. A luz, então, passou a ser sinônimo de conhecimento, saber. Lembram quando o Professor Pardal, das histórias em quadrinhos, tinha uma grande idéia? Aparecia sempre uma lâmpada logo acima de sua cabeça. Existem expressões como “uma luz no fim do túnel” e “me dá uma luz”. Tivemos o Iluminismo no séc. XVII, chamado de “Século das Luzes”, contrapondo à “Idade das Trevas” como ficou conhecida a Idade Média. Se a pessoa pensa racionalmente, dizemos que ela é lúcida. E quando vamos explicar alguma coisa, vamos esclarecer, deixar tudo claro.
Platão, que foi discípulo de Sócrates, criou o Mito da Caverna para expressar a questão do conhecimento. Dentro de uma caverna viviam várias pessoas acorrentadas. Tinham como luminosidade o reflexo do sol na parede ao fundo, na qual eram refletidas as sombras de tudo que passava na entrada. Como nunca viram outra coisa, essas pessoas imaginavam que as sombras vistas eram a realidade. Que aconteceria, se um deles conseguisse sair da caverna? Primeiro, veria as coisas refletidas na parede como elas são realmente, descobrindo que, durante toda sua vida, havia visto apenas sombras de imagens. Depois, voltaria à caverna e contaria aos outros o que viu, tentando libertá-los. A maioria, porém, não acreditaria nele. Outros, quem sabe, poderiam ouvi-lo e também sairiam da caverna procurando conhecer a realidade.
Ora, a caverna seria o mundo em que vivemos. O homem que se liberta seria o filósofo ou qualquer pessoa que não quer permanecer nas trevas da ignorância. A luminosidade do sol seria a luz da verdade.
Devemos sempre seguir essa luz. E não vai aqui nenhuma conotação religiosa, tipo “luz divina”, até porque sou ateu (ou à toa, como me chama minha esposa). Quando falo em luz, é a interior, o brilho que todos temos dentro de cada um de nós (“conhece-te a ti mesmo”), mas fica escondido justamente por questões externas (entre elas as religiosas ou políticas). Quantas pessoas deixam de expressar sua opinião, preocupadas com que os outros vão pensar.
Sejamos, pois, ignorantes, mas busquemos, sempre, conhecer o que não conhecemos, saber o que não sabemos.

Cassionei Niches Petry – escritor e professor de Língua Portuguesa e Literatura

Comentários

Oi Cassiano,
Já me inscrevi nos feeds do teu blog, achei bacana! Valeu pela visita no Scriptus.
Abraços
Anónimo disse…
Olá, Cassionei adorei seu texto,estas de parabéns pelo o que escreve e a forma como consegue transmitir sua ideia para quem lê, vi seu blog numa comunidade do orkut (literatura)vim conferir e adorei o que vi!
Unknown disse…
De forma simples você define algo que poderia ser tão complicado para alguns.Um estimulo para os ignorantes."Quantas pessoas deixam de expressar sua opinião, preocupadas com que os outros vão pensar.
Sejamos, pois, ignorantes, mas busquemos, sempre, conhecer o que não conhecemos, saber o que não sabemos."Parabéns, você deve ser um ótimo professor .E que futuramente ,seja um escritor com títulos publicados.Sucesso!
Cassionei Petry disse…
Obrigado, Carol e Lara, pelos comentários.

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