Ler por prazer?
Gosto de ler o que me inquieta, não o que me conforta. Às
vezes, endossamos a ideia de que lemos por prazer. Mas o que é o prazer?
Fumar, por exemplo. Até hoje não entendo como as pessoas
sentem prazer nesse vício, e olha que já fui fumante na minha adolescência e há
pouco tentei ser um cachimbeiro. Há, porém, quem sente prazer sim, e não é
porque não sinto que outras não irão sentir.
Nessa lógica, ou falta de, podemos achar agradável o não agradável,
prazeroso o não prazeroso, confortável o não confortável. Ora (direis), és um masoquista.
Pode ser. Não no aspecto físico, mas sim no psicológico. Historinhas certinhas,
que dizem o que queremos ouvir, escrevem o que queremos ler ou nos satisfaz, não
é boa literatura, ou ao menos o que considero como literatura adulta, ou,
melhor ainda, Literatura com L maiúsculo. Quando criança, sim, pode-se buscar
uma escrita que conquiste o pequeno leitor. Adulto, porém, a literatura deve
desagradá-lo.
Ora (direis), mas gosto de ler para me distrair, me encantar,
me divertir. Ótimo, mas isso é literatura, não Literatura. Continue lendo essas
obras. Eu também as leio de vez em quando. Dan Brown, por exemplo. Serve,
porém, apenas para isso: se distrair. Ora (direis), busco mensagens
edificantes, ensinamentos, o caminho a seguir nesta vida tortuosa. Eu vos
direi, no entanto: isso não é nem literatura e nem Literatura. Isso leva outro
nome: autoajuda, livro espírita, mensagens religiosas ou qualquer outro rótulo
que passa distante (ou deveria) das prateleiras classificadas com o número 8
nas bibliotecas. E, convenhamos, uma vida torta é muito mais divertida do que
uma vida retinha.
Ora (direis), és um chato, arrogante e estraga prazer. Sim (eu
vos direi, no entanto), justamente isso. Vim para este mundo para incomodar.
Assim como quero ler algo que me incomode. Quero sofrer com a leitura, quero
que ela me desnorteie, me desoriente, me leve para o mau caminho. Sinto prazer
nisso, o que pode ser difícil de entender para quem não sente esse prazer,
assim como para mim é complicado entender quem sente prazer ao ouvir
determinados tipos de música.
Ora (direis), vai à merda. Eu vos direi, no entanto: não
quero seguir o vosso caminho.
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