“A eterna contradição humana”
Pedimos que os
candidatos cumpram as leis, no entanto as descumprimos quando postamos fotos
durante a votação, sendo que foi algo proibido pela justiça eleitoral.
Cobramos respeito
dos candidatos, no entanto recusamos dar-lhe a mão se ele vem nos cumprimentar,
numa atitude pseudorrebelde que só revela nossa falta de educação.
Queremos confiar no
candidato, porém quebramos a confiança dele se tiramos uma foto e
disfarçadamente mostramos um cartaz criticando-o.
Reclamamos da
roubalheira dos políticos, no entanto aceitamos votar num candidato em troca de
favores.
Ficamos indignados
com os santinhos jogados pelas ruas, porém jogamos lixo para fora da janela do
carro.
Queremos que os
candidatos não coloquem cavaletes com propaganda nos trevos, mas colocamos
propaganda de nossas lojas e empresas em calçadas, muros, postes de luz,
paradas de ônibus...
Reclamamos por ter que
ir votar no domingo, porém vamos felizes da vida assistir a um jogo de futebol,
que é mais importante do que decidir o destino do nosso país.
Reclamamos que o
voto é obrigatório, mas reclamaríamos se não pudéssemos escolher quem nos representa.
Pedimos o fim da
propaganda eleitoral, porque o mais importante é a novela das 9 e aí ela começa
muito tarde.
Criticamos quem vota
em branco ou nulo, porém entregamos ao professor a prova em branco ou cheia de
desenhos.
Reclamamos da urna eletrônica
que pode ser fraudada, porém assistimos TV com uma antena pirateada e baixamos
músicas sem pagar na internet.
Queremos que o
político, já eleito, nos pague um salário do qual somos merecedores, entretanto
sonegamos impostos.
Exigimos que o
político se lembre de suas promessas de campanha, mas não lembramos em quem
votamos na última eleição.
Como disse Deus ao
Diabo em um conto do Machado de Assis: “É a eterna contradição humana.”
Comentários