Já fui professor de Sociologia também
“Cada vez que você estiver do lado da maioria,
é tempo de fazer uma pausa e refletir.” Mark Twain
Em uma das várias aberrações
que acontecem na educação de nosso país, fui algumas vezes convocado a ser professor
de Sociologia. Se não me falha a memória (e ela... ela... o que eu dizer nesse
parêntese?), a primeira aula minha como professor contratado na primeira escola
foi de Sociologia. Quando ela voltou a ser obrigatória, junto com a Filosofia,
os executores da lei tentaram (e ainda tentam) cumpri-la em parte, pois não
fizeram (fazem) questão de colocar quem realmente é especializado na área para
lecionar. Por isso, qualquer professorzinho acaba assumindo a matéria para
preencher sua carga horária. Modéstia à parte, porém (e eu sou muito modesto,
além de gênio), me saí muito bem e conseguia dar boas aulas, isso dito por
ex-alunos até hoje.
O difícil era
driblar as questões ideológicas de esquerda de toda a bibliografia sugerida para
a disciplina. Apesar de recém-formado na universidade (isso há dez anos) e com
toda a ideologia “jogada” na minha cabeça ainda jovem, comecei a flertar com um
pensamento diferente, que alguns chamariam de direita e conservador. Era uma
ideia de que o indivíduo deveria se preservar perante a ditadura da
coletividade que começou nos anos de FHC e continuou na era Lula. Uma das
minhas fontes foi Ayn Rand que, num primeiro momento, conheci pelo seu ateísmo
e depois pelas ideias políticas repercutidas nos seus romances. Passei a
procurar similares brasileiros, porém não os encontrei, pois os que poderiam
estar no mesmo caminho pregavam os valores cristãos. Quero distância, por
exemplo, de boa parte do pensamento de Olavo de Carvalho, cujo livro “O imbecil
coletivo” me fez confirmar o que já via no âmbito cultural (mas não tinha
coragem de criticar, pois seria “xingado” de “direitista”, “reacionário”, etc).
O autor, no entanto, demonstra ódio por nós ateus e faz pregação religiosa.
Como dava aulas,
então? Nos primeiro dias, escrevia uma porção de letras “is” no quadro e as
interligava com traços, afirmando que a sociedade não é uma massa coletiva, mas
sim um conjunto de indivíduos que interagem no meio em que vivem, com suas
opiniões diferentes, com suas ideologias distintas. Evitei o material padrão das
aulas de Sociologia fornecido pelo governo, pois ensinava uma concepção de
mundo que rege a nossa sociedade nos últimos anos e que valoriza o pensamento
coletivo e despreza nossa individualidade. Fujo disso tudo tentando preservar
opiniões que desagradam à maioria. Talvez por isso enfrente resistência em tudo
o que me meto a fazer, inclusive gerando uma demissão em um dos meus locais de
trabalho recentemente. É o ônus de quem busca um pensamento independente e não
se curva a nenhuma ideologia, seja ela política ou educacional.
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